Dezenove anos após o IPO na Bolsa de Toronto, em 2006, e cinco anos depois do início da emissão de Brazilian Depositary Receipts (BDRs) na B3, a mineradora canadense Aura Minerals, que tem operações no Brasil, decidiu abrir o capital nos Estados Unidos.
O início do processo de listagem consta no relatório de resultados do primeiro trimestre deste ano, divulgado na manhã de terça-feira, 6 de maio. Segundo a empresa, a minuta de registro foi submetida de forma confidencial à Securities and Exchange Comission (SEC).
“A referida oferta pública proposta contempla o registro e a listagem das ações ordinárias de emissão da companhia nos Estados Unidos. A efetiva realização da oferta pública está condicionada à conclusão do processo de análise da SEC, bem como à existência de condições favoráveis de mercado e demais fatores relevantes”, diz a companhia, em fato relevante.
“A potencial listagem no mercado norte-americano está em linha com a estratégia da companhia de maximização de valor para os seus acionistas, além do foco em aumento da liquidez das ações e de consolidar da base de negociação no mercado de capitais dos Estados Unidos”, completa o texto.
Segundo a companhia, ainda não foram definidos o volume de ações ordinárias a serem ofertadas nem a faixa indicativa de preço da potencial oferta. Na conferência com investidores e analistas, o CEO Rodrigo Barbosa abordou brevemente o assunto, sem dar detalhes da operação.
“O percentual de free float ainda vai depender muito do preço da ação e da quantidade disponível para negociação. Essa é a variável mais importante para os investidores”, afirma ele. “Não consigo compartilhar muito com o mercado além do que já divulgamos.”
O caminho para a listagem na bolsa americana ocorre em um momento de preço recorde do ouro, que ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 3,5 mil a onça troy, no fim de abril. O conflito geopolítico global, impulsionado pelo tarifaço implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um fator que deve ser levado em consideração para uma possível valorização.
“A mensagem que os países estão passando é que há outras formas de investimentos além do dólar, como a China, que tem aumentado as reservas de ouro”, afirma Barbosa. Ele não descarta um crescimento ainda maior do preço do mineral.
No balanço referente aos resultados financeiros de janeiro a março de 2025, a Aura reportou receita líquida de US$ 161,8 milhões, 23% acima dos US$ 123 milhões registrados no primeiro trimestre de 2024. O lucro líquido ajustado também cresceu. No período, a empresa alcançou US$ 26,9 milhões, alta de 136% sobre o mesmo período do ano anterior.
Ainda assim, o volume de vendas caiu. Foram comercializadas 60,5 mil onças, 12% a menos do que as 69 mil onças vendidas no primeiro trimestre de 2024. A explicação para isso está justamente no aumento do preço do ouro no período. Na comparação trimestral no ano contra ano, o preço médio do mineral aumentou 39%.
O Ebitda ajustado, que alcançou US$ 81,47 milhões no trimestre, teve alta de 53% sobre o valor registrado no primeiro trimestre do ano passado.
A companhia registra crescimento financeiro mesmo após queda na produção do trimestre, dado revelado pelo NeoFeed em abril. No período, a queda na produção foi de 7% nas quatro minas que a empresa opera (duas no Brasil, uma Honduras e uma no México) sobre os mesmos três meses de 2025. A razão está na diminuição do teor do mineral.
No relatório, a Aura também confirmou o início do ramp-up do projeto Borborema, no Rio Grande do Norte, com início da produção comercial no terceiro trimestre, e afirmou que a liberação, por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para mudança de traçado da BR-226, que passa sobre a mina de ouro da companhia, deve ocorrer entre o terceiro e quarto trimestre.
Em 2025, a mineradora pretende produzir entre 266 mil e 300 mil onças, o que deve representar faturamento entre US$ 901 milhões e US$ 1 bilhão, na cotação atual (US$ 3,39 mil a onça troy).
Na bolsa canadense, as ações da Aura registram valorização de 55,14% no acumulado de 2025. Nos últimos 12 meses, a alta chega a 156%. A companhia está avaliada em US$ 1,53 bilhão.
Procurada pelo NeoFeed para dar mais detalhes sobre a operação nos Estados Unidos, a empresa não se pronunciou.