No momento em que os juros altos começam a pressionar empresas de diferentes tamanhos, a Smart Compass está se capitalizando para expandir a sua atuação na aquisição e gestão de créditos estressados.
Com o apoio da Itajubá Capital, a consultoria fechou um aporte de R$ 100 milhões para expandir suas operações, visando a adquirir mais de R$ 1,5 bilhão em créditos somente em 2025, especialmente aqueles produzidos pelo sistema cooperativo, que vem crescendo fortemente nos últimos anos, mas ainda não está no radar da Faria Lima.
“Tínhamos um dinheiro proprietário limitado e como fizemos um trabalho muito forte em 2024, começamos a ter muita procura de cooperativas querendo fazer o processo de cessão conosco”, diz o Daniel Ramos, fundador e CEO da Smart Compass, ao NeoFeed. “Temos uma necessidade latente de recursos para fazer nosso pipeline funcionar ao longo do ano.”
O aporte foi feito por dois investidores, cujas identidades não foram reveladas. A Itajubá trabalhou como um advisor da operação, ajudando a Smart Compass a acessar esses investidores, sem ter feito aporte na companhia, nem atuado como distribuidor dos recursos.
“Após conhecer a Smart Compass e sua tecnologia proprietária, tivemos a certeza de que, unindo forças, podemos consolidar um player de referência neste nicho", afirma Filipe Carneiro, sócio da Itajubá Capital, braço de advisory e operações estruturadas do grupo Itajubá.
Fundada em 2023 por Ramos, Bruno Santos e Johnny Tang, a Smart Compass se define como uma consultoria especializada em inteligência patrimonial. Ramos conhece bem o mundo de ativos estressados, tendo sido um dos fundadores da Enforce, empresa controlada pelo BTG Pactual que atua com créditos inadimplentes. A companhia foi fundada em 2016 como uma joint venture entre o banco e acionistas da Leste Real Estate, sendo posteriormente incorporada pelo BTG Pactual.
A Smart Compass conta com um FIDC para fazer a aquisição e recuperação de créditos de bancos médios, pessoas físicas e até de escritórios de advocacia. O fundo foi constituído com o aporte de dois investidores que se tornaram sócios, performando o volume total de R$ 540 milhões em ativos estressados, majoritariamente adquiridos de cooperativas de crédito.
A empresa conta com uma taxa de recuperação de crédito média de 54,5%. Segundo Ramos, o FIDC busca multiplicar o capital investido, com uma taxa interna de retorno (TIR, na sigla em inglês) média de 70% ao ano.
Abastecida com o novo aporte, a Smart Compass pretende concentrar sua atuação no sistema cooperativo, um universo com uma carteira de crédito de R$ 446,7 bilhões e R$ 791,6 bilhões em ativos totais.
Apesar desse tamanho, Ramos destaca que o segmento possui pouco acesso a instrumentos do mercado de capitais, inclusive para lidar com ativos e créditos estressados, que deve crescer em todo o sistema financeiro diante dos juros altos.
“Algumas cooperativas têm dificuldades operacionais com os créditos, lidar com inadimplência, e os grandes fundos não acessam esse pessoal por conta do baixo tíquetes e por ser muito pulverizado”, afirma.

A ideia é acessar esse universo através das cooperativas singulares, entidades formadas por, no mínimo, 20 associados, pessoas físicas ou jurídicas, e que realizam a prestação direta dos serviços financeiros. Elas representam o primeiro nível da estrutura organizacional, formado por centrais e cooperativas (constituídas por três cooperativas singulares, no mínimo) e depois pelas confederações (formadas por, no mínimo, três centrais ou federações)
O sistema cooperativo é composto atualmente por 754 das chamadas cooperativas singulares. Nos últimos anos, a Smart Compass já acessou cerca de 150 delas, e espera ganhar ainda mais capilaridade nesse universo, contando com os recursos do aporte e aproveitando a conscientização entre as cooperativas sobre a possibilidade delas venderem suas carteiras estressadas.
“O sistema cooperativo é muito interligado, as cooperativas conversam, vão para fóruns, dividem experiências, o boca a boca tem funcionado”, diz Ramos.
“O nível de entrada tem sido muito bom, principalmente nas Sicoobs, e agora estamos abrindo uma segunda frente nas cooperativas mercantis, que dão apoio ao cooperado em forma de materiais.”
A Smart Compass espera assinar cerca de 85 cheques, com tickets variando entre R$ 2 milhões e R$ 10 milhões, para buscar ativos estressados em cooperativas de diversos tamanhos.
A expectativa é de que esta estratégia diferencie a casa perante outras casas que atuam com a compra de ativos estressado, um segmento que veio crescendo ao longo dos anos. Segundo estudo feito pela gestora Spectra Investments, o tema de special situations cresceu silenciosamente dentro da indústria de investimentos alternativos brasileira, se consolidando como a terceira maior estratégia do segmento e representando 25% do dry powder dele entre 2012 e 2022, para R$ 11 bilhões.
Esses ativos estressados fizeram a fama de casas como JiveMauá e atraiu outras, como a Oriz Partners, que no ano passado juntou forças com a americana Albright Capital, gestora criada pela ex-secretária de Estado dos Estados Unidos Madeleine Albright (1937-2022).
“Estamos nadando num oceano azul, porque não temos concorrência direta de players que fazem o volume que a gente faz”, afirma Ramos. “Nesses dois próximos anos vamos focar muito em cooperativas.”