A escalada das tensões comerciais nas últimas semanas não afetou o otimismo dos investidores brasileiros. Ao contrário: uma pesquisa feita pelo BTG Pactual com gestores locais mostra que a confiança aumentou em relação a março, antes de as tarifas anunciadas por Donald Trump pegar o mundo no contrapé.
O levantamento aponta que 46% do mercado local se declara “bullish” e 6%, “muito bullish”. Há um mês, esses percentuais eram de 31% e 9%, respectivamente. Já os que se diziam “bearish” ou “muito bearish” caíram de 25% para 13%.
Entre os entrevistados, 81% afirmaram ver espaço para o Ibovespa subir acima dos 130 mil pontos — sendo que, para 36%, o índice pode ultrapassar os 140 mil. Um mês atrás, esses números eram de 65% e 26%, respectivamente.
Apesar da melhora nas expectativas, o principal índice da bolsa brasileira segue de lado em abril, com os investidores buscando entender os potenciais efeitos das tarifas — e quais delas serão, de fato, mantidas.
Embora 78% dos entrevistados apontem a política tarifária dos Estados Unidos como o tema mais relevante — anteriormente vista como um gatilho para a alta do dólar — a visão sobre o câmbio também se tornou mais otimista. Caiu de 42% para 30% a fatia dos que projetam o dólar acima de R$ 5,90.
“O ambiente global continua bastante complicado e volátil, mas observamos que os investidores estão um pouco mais otimistas com as perspectivas do mercado. Isso reforça nossa avaliação de alguns dias atrás de que o Brasil vem sendo cada vez mais visto como um vencedor relativo em meio à escalada da guerra comercial”, diz o estudo do BTG.
Esse otimismo se traduz em mais apetite por risco. A maioria dos gestores afirmou que pretende aumentar sua exposição à bolsa; 37% disseram que vão manter as posições atuais, e apenas 12% pretendem reduzir. Para 58%, o mercado está barato — e, para 14%, muito barato.
Embora os estrangeiros tenham sido os maiores compradores de ações brasileiras no acumulado do ano, é o investidor local quem tem puxado as compras em abril. Apesar de acumularem saídas de R$ 11,3 bilhões no ano, os institucionais têm saldo positivo de R$ 5 bilhões no mês, segundo dados da Rockettrader.
A melhora na percepção também veio acompanhada de uma maior dispersão nas teses de investimento, antes concentradas nos setores defensivos. O favoritismo por infraestrutura, por exemplo, caiu de 57% para 39%, com os gestores passando a enxergar mais oportunidades em varejo, finanças e mercado imobiliário.