Marcelo Claure, o homem que trouxe o Softbank para a América Latina e se envolveu em múltiplas atividades na região depois que deixou a companhia fundada por Masayoshi Son, está se tornando sócio da eB Capital, a gestora de ativos alternativos de Eduardo (Duda) Sirotsky Melzer, Pedro Parente e Luciana Antonini Ribeiro.
Através do Claure Group, o empresário boliviano está adquirindo uma participação relevante da eB Capital, que tem R$ 5 bilhões de ativos sob gestão. A entrada de Claure, um negócio em dinheiro cujo valor não foi divulgado, marca também a chegada de um investidor com acesso a bolsos internacionais à gestora brasileira.
“Isso faz parte da estratégia de ser um investidor importante no Brasil”, diz Claure, ao NeoFeed. “Fiz minha jogada em venture capital com a Bicycle e buscava um parceiro para uma plataforma emergente. Trago capital, experiência e contatos.”
Mesmo com a chegada de Claure, Melzer segue como o principal acionista da eB Capital, apurou o NeoFeed. A gestora negociava também com grupos brasileiros e americanos, disseram fontes. Mas optou por fechar com o Claure Group, que tem US$ 4 bilhões de ativos sob gestão em negócios diversos.
“Esse é um movimento transformacional”, afirma Melzer, ao NeoFeed. “Ele está não só investindo, pois teremos a participação do Marcelo (Claure) no dia a dia da gestora, ajudando a pensar a estratégia e a fazer a operação.”
A ideia, ao menos neste momento, não é levantar um fundo novo com a chegada de Claure. O que não significa que isso não possa acontecer em algum momento.
“Claure tem uma rede extraordinária mundo afora”, diz Parente. “É uma associação com muitos benefícios, que vai além da questão financeira.”
Embora a estratégia seja manter o foco no Brasil, Melzer não descarta olhar oportunisticamente ativos na América Latina. O que não deve mudar é a tese da eB Capital, focada em investir em empresas que preenchem lacunas brasileiras em áreas de grande crescimento.
A gestora se especializou em investir em infraestrutura, mudança climática/ESG e real estate, área em que acaba de entrar por meio de um fundo em parceria com a JHSF Capital, a gestora de investimentos da JHSF.
O portfólio da eB Capital contempla a provedora de fibra óptica Alloha, a plataforma de educação Proz, o e-commerce de ferramentas e máquinas Loja do Mecânico, além de uma plataforma reciclagem de plásticos, com a Green PCR e Global Pet.
A eB Capital investiu também na área de saúde em duas empresas: Hilab e Blue Health, empresas especializadas em medicina diagnóstica.
“Temos crescido a área de clima e o tema de energia”, diz Ribeiro. “Estamos falando também de escassez alimentar e, obviamente, de descarbonização. O Brasil tem um jogo fundamental para jogar e vamos olhar as oportunidades neste sentido.”
Com a chegada de Claure, a eB Capital passa a contar com um escritório em Nova York (a foto de abertura dessa reportagem foi feita na Big Apple, pouco antes de o contrato entre Claure e os sócios da gestora ser assinado).
Shein, venture capital e futebol
Claure é um empresário que se transformou em um dos homens de confiança de Masayoshi Son, no Softbank, onde foi CEO do SoftBank Group International.
No grupo japonês, Claure fazia a supervisão direta de mais de 40 empresas do portfólio da companhia, incluindo a ARM (que acabou de abrir o capital), Fortress, SoftBank Energy e Boston Dynamics.
Em 2019, trouxe o Softbank para a América Latina com um fundo de US$ 5 bilhões, que transformou a cena de empreendedorismo na região.
Com cheques altos e valuations estratosféricos (alguns polêmicos) para, até então, os padrões da América Latina, o Softbank ajudou a criar os principais unicórnios da região.
Fazem parte do portfólio do Softbank startups como Rappi, Kavak, Loggi, QuintoAndar, Mercado Bitcoin, unico, Bitso, MadeiraMadeira, Merama, Olist, Creditas, Gympass, entre outros ativos bilionários.
Desde que saiu do Softbank, em janeiro de 2022, Claure cumpriu um ano de “garden leave”, mas passou a investir através do Claure Group, seu family office que se define como uma empresa de investimentos global.
A Claure Group abrange diversos setores, incluindo telecomunicações, tecnologia, mídia, mercado imobiliário, infraestrutura, transição energética, moda e esportes (é dona do Bolívar, na Bolívia, e detém uma participação no Girona, na Espanha).
Em junho deste ano, Claure anunciou oficialmente a Bicycle, a sua gestora de venture capital que tem o objetivo de captar US$ 500 milhões. No primeiro fechamento do fundo, chegou a US$ 440 milhões, boa parte desses recursos ancorados pelo próprio Claure e pelo Mubadala, o fundo soberano de Abu Dhabi que se tornou sócio da gestora.
Claure também é o chairman da Shein na América Latina, empresa na qual investiu US$ 100 milhões, e acaba de assumir uma função global na varejista chinesa, que está em cabo de guerra com os principais varejistas brasileiros.
Questionado como consegue dar conta de tantas atividades ao mesmo tempo (ele também é muito ativo no Twitter, onde compartilha suas viagens ao redor do mundo e sua vida com a família), Claure diz que seu futuro fora do Softbank “não está em operar”.
“Seria muito difícil”, afirma Claure. “Vou ajudar no relacionamento com grandes empresas de capital do mundo. E facilitar a expansão da eB Capital.”