Depois de quase dois meses do anúncio sobre os estudos para um follow on, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) anunciou na noite de segunda-feira, 4 de março, o lançamento da operação.
Segundo a companhia, a intenção é emitir inicialmente 140 milhões de novas ações em uma oferta primária. Dependendo da demanda, a operação pode ser aumentada em mais 140 milhões de papéis. Considerando o fechamento de ontem, de R$ 3,60, o GPA levantaria entre R$ 504 milhões e R$ 1 bilhão.
Além de servir como fonte de recursos para reduzir o endividamento do GPA, o follow on traz consigo um “bônus”, na visão do mercado, que é a redução da presença do Casino na companhia. Isso porque a operação prevê uma forte diluição dos acionistas, de até 50%, se todas as ações forem emitidas.
A rede varejista francesa detém cerca de 41% do capital social do GPA, sendo o acionista controladora da empresa. Se a oferta base for adiante, e o Casino não injetar recursos, sua participação será diluída para 27%. Caso todas as ações sejam emitidas, sua fatia recua para 20%, de acordo com cálculos do Goldman Sachs.
A tendência é que o Casino aproveite o follow on para reduzir sua participação no GPA. Em dezembro, quando foram anunciados os estudos para a oferta subsequente, a empresa francesa informou que pretende manter uma participação minoritária, sinalizando que não vai acompanhar a operação.
Segundo Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos, a redução da participação do Casino é notícia positiva, uma vez que, ao não exercer mais o controle, o GPA fica mais “livre” para atuar e seguir com a reestruturação de suas operações, sem tantas amarras e preocupações com os problemas de seu controlador.
“Hoje em dia, o GPA já tem uma certa liberdade dada pelo Casino, que não se mete tanto nas operações”, diz Serra. “Mas o Casino no controle gera pessimismo no mercado, porque a qualquer momento pode acontecer alguma coisa [considerando os problemas do Casino].”
O analista afirma que os investidores estão aplicando atualmente um desconto de governança sobre as ações do GPA, considerando os problemas do Casino. “Pensando na estrutura de capital do GPA, [com o follow on] vai ter a redução da dívida e vem de ‘bônus’ a diluição do Casino, algo que o mercado enxerga com bons olhos”, diz Serra.
Além de sua participação no capital social do GPA, o Casino também vai diminuir sua participação no conselho de administração do GPA. De quatro assentos, o grupo francês passará a deter dois, de nove no total. Outros seis integrantes serão independentes, além do CEO Marcelo Pimentel.
A redução de participação do Casino no GPA marca o fim do sonho de Jean-Charles Naouri, então controlador do grupo varejista francês, de estabelecer sua empresa como um grande nome de varejo no Brasil e na América Latina.
Ela representa ainda um encolhimento melancólico do Casino no País, que assumiu o controle do grupo Pão de Açúcar em 2012, depois de uma longa batalha corporativa com Abilio Diniz, morto em fevereiro, aos 87 anos.
Em crise, com € 6,1 bilhões em dívida e passando por um duro processo de reestruturação, o Casino trocou de controlador e está vendendo ativos para levantar recursos e reduzir a alavancagem.
No Brasil, a empresa levantou cerca de R$ 4 bilhões no follow on realizado pelo Assaí em março de 2023. Três meses depois, embolsou mais R$ 2,1 bilhões com a venda da fatia remanescente que detinha na rede de atacarejo.
Já para o GPA, o follow on representará uma injeção importante de recursos, considerando que o tamanho total da oferta é superior ao valor de mercado da companhia, atualmente na casa dos R$ 972 milhões. A expectativa é de que a operação ajude no processo de reestruturação, que pesou fortemente sobre os resultados de 2023.
O Goldman Sachs destaca que a empresa fechou o quarto trimestre com uma alavancagem financeira de 5,0 vezes, considerando a dívida líquida que inclui arrendamentos e recebíveis de cartão de crédito. Considerando a oferta base e o lote adicional, o banco estima que a alavancagem recuará para 4,6 vezes e 4,2 vezes, respectivamente.
“A desalavancagem permanece prioridade para o GPA”, diz trecho do relatório do Goldman Sachs. “Acreditamos que uma estrutura de capital mais equilibrada dará à administração mais flexibilidade para executar o atual plano de reestruturação, focado no aumento da lucratividade e na melhora da dinâmica do capital de giro.”
O GPA fechou o quarto trimestre com prejuízo de R$ 303 milhões, uma diminuição de 72,5% frente à perda apurada no mesmo período de 2022. A receita líquida cresceu 7,3%, para R$ 5,2 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado consolidado aumentou 70,7%, para R$ 404 milhões.
No acumulado de 2023, o GPA registrou um forte crescimento do prejuízo ante 2022, de R$ 172 milhões para R$ 2,3 bilhões. A receita cresceu 11,1%, a R$ 19,2 bilhões, e o Ebitda ajustado consolidado subiu de R$ 897 milhões para R$ 2 bilhões.
A precificação do follow on está marcada para o dia 13 de março. A operação está sendo coordenada por Itaú BBA, BTG Pactual, Bradesco BBI, J.P. Morgan e Santander Brasil.
Por volta das 13h22, as ações do GPA subiam 0,56%, a R$ 3,62. No ano, elas acumulam queda de 10,6%.