Responsável pelo primeiro celular do mundo, ainda na década de 1970, a Motorola perdeu espaço entre os consumidores a partir do avanço dos smartphones. Tanto que, hoje, a marca, que pertence à Lenovo desde 2014, está longe de figurar entre os líderes no ranking de vendas globais da categoria.

O Brasil é um ponto fora dessa curva. Há anos, a empresa está atrás apenas da Samsung no mercado local de smartphones. Esse desempenho se refletiu na nomeação, em 2018, do brasileiro Sergio Buniac como CEO global. E na consolidação do País como ponta-de-lança de novidades da companhia.

Nos próximos meses, o Brasil voltará a exercer esse papel. Em um plano proposto pela subsidiária, o País será o palco do projeto-piloto da primeira loja física da marca no mundo, cuja abertura está prevista para o segundo trimestre, no Shopping Aricanduva, na zona leste de São Paulo.

“O Brasil é um laboratório e lidera muitas iniciativas da Motorola”, diz José Cardoso, CEO da Motorola no Brasil, com exclusividade ao NeoFeed. “Já temos quiosques em shoppings há alguns anos. Mas uma loja física permite melhorar essa experiência e queremos testar esse formato.”

Com o projeto ainda em finalização, a ideia é ter todo o portfólio na MotoStore, desde os smartphones de entrada até os mais avançados. Além de acessórios e serviços já disponíveis nos canais digitais da companhia, como seguros e a troca de aparelhos. Formatos como a compra no e-commerce e a retirada em loja também estão nessa agenda.

Em outro teste no País, a loja terá ainda uma fragrância criada para a Motorola pelo grupo suíço Firmenich. A iniciativa faz parte de um projeto da marca para desenvolver uma “identidade olfativa”, que também acompanhará as embalagens de seus lançamentos. “O mais importante é aprender”, explica Cardoso. “Precisamos aperfeiçoar o modelo da loja antes de avaliar qualquer expansão.”

Caso decida escalar o projeto, a Motorola precisará apertar o passo para alcançar sua maior rival no País. A Samsung investe em lojas físicas há cerca de dez anos e tem mais de 300 unidades no Brasil. Mais do que buscar esse volume, o investimento da Motorola nesse formato vai ao encontro de outra estratégia.

O plano é ter todo o portfólio da marca na MotoStore, desde os smartphones de entrada até os mais avançados

“Em 2020, voltamos a conversar com o consumidor premium”, afirma Cardoso. “E ter a MotoStore é muito importante para esse segmento.” A Motorola irá usar a loja como um local para que esse público possa conhecer e experimentar melhor os dispositivos da marca e seus recursos.

Uma das novidades à disposição desse e de outros perfis de consumidores será a décima geração do Moto G, linha que se tornou o carro-chefe da empresa, ao combinar recursos mais avançados com preços na faixa intermediária do mercado.

A nova geração está sendo apresentada nesta quinta-feira, 25 de março, no País e traz três modelos: o Moto G10, com preço de R$ 1.699; o Moto G30, a R$ 1.899; e o Moto G100, a R$ 3.999. No topo desse lançamento, o G100 é um dos destaques da empresa para seguir atraindo os consumidores.

O Moto G100, um dos novos modelos que a marca apresenta hoje no País

Mais um exemplo da aposta crescente da marca em aparelhos 5G, o G100 tem tela de 6,7 polegadas, o processador Snapdragon 870, da Qualcomm, memória RAM de 12 GB, armazenamento de 256 GB e bateria com autonomia de mais de 40 horas, além de duas câmeras frontais e quatro traseiras.

Vendas recuam, mas receita sobe

A linha Moto G superou 100 milhões de unidades vendidas em todo o mundo no início de 2020, sendo o Brasil responsável por 40% desse volume. E a sua nova geração é uma das apostas da Motorola para ampliar sua fatia no mercado local, hoje na casa de mais de 20%. A Samsung captura pouco mais da metade das vendas no País.

Segundo a consultoria IDC, em 2020, as vendas de celulares básicos e smartphones no País recuaram, em volume, 8%, para 48,7 milhões de unidades. Apesar da queda, a receita cresceu 16% no período, para R$ 71,7 bilhões, com um avanço de 24% no tíquete médio.

As duas faixas de preço que mais cresceram em volume foram a intermediária, de R$ 1.100 a R$ 1.899, e a premium, de R$ 1.400 a R$ 2.499, que avançaram, respectivamente, 76% e 120%.

“Hoje, o mercado brasileiro de smartphones é de substituição”, diz Renato Meireles, analista da IDC. “O consumidor já está no seu terceiro, quarto e até quinto aparelho. E busca especificações cada vez mais robustas.”

Apesar das vendas concentradas, nessa ordem, em Samsung, Motorola, LG, Apple e Xiaomi, a perspectiva é que outros nomes reforcem essa disputa. Em especial, as marcas chinesas, como a realme, que desembarcou no País no início deste ano, além da Oppo, que também pode seguir o mesmo caminho.

Segundo a consultoria IDC, em 2020, as vendas de celulares básicos e smartphones no País recuaram, em volume, 8%, para 48,7 milhões de unidades

A Motorola não abre dados locais. Segundo Cardoso, o Brasil segue entre as principais operações globais e representa 40% das vendas na América Latina. Conforme apurou o NeoFeed, a região responde por cerca de 60% das vendas totais da marca.

A Motorola cumpre uma reestruturação global, depois de um período marcado pela venda da operação, em 2011, para o Google, por US$ 12,5 bilhões, e o repasse, em 2014, para a Lenovo, por cerca de US$ 3 bilhões. Nesse cenário, a companhia vinha divulgando seguidos prejuízos e quedas nas vendas.

Com mais de 20 anos de casa e tendo como credenciais os bons resultados na América Latina, região que, ao lado da Europa, estava sob a sua alçada, Sergio Buniac foi nomeado CEO global da operação em março de 2018. E sua gestão começa a mostrar resultados.

No terceiro trimestre fiscal da Lenovo, encerrado em dezembro de 2020, a operação teve um crescimento de 10,1% na receita, para US$ 1,52 bilhão. “Esse é o terceiro trimestre consecutivo que a empresa entrega margem e rentabilidade em todas as regiões”, diz Cardoso.

José Cardoso, CEO da Motorola no Brasil

Cardoso também é veterano de Motorola. Ele começou como estagiário, em 1994, e passou por áreas como marketing, produto e vendas antes de assumir o comando da subsidiária, no fim de 2016.

Com essa bagagem, o executivo fala com propriedade sobre as perspectivas da companhia. “A empresa passou, de fato, por diversas mudanças nos últimos anos”, afirma. “Mas aprendemos muito e estamos ganhando tração. E não apenas na América Latina.”