A Chanel, centenária casa de luxo francesa, levantou € 700 milhões com a emissão de títulos de dívida privados. A captação ocorre em um momento incerto para o setor de luxo em todo o mundo, após gigantes europeias registrarem queda nas vendas no 1º trimestre deste ano.
Segundo a Bloomberg, a oferta, organizada pelo Goldman Sachs Group e Société Générale, tem vencimento em 10 e 12 anos e permite que a empresa acesse diretamente investidores institucionais, evitando a volatilidade dos mercados de crédito públicos.
Apesar do cenário conturbado, a Chanel está entre as poucas companhias com resultados financeiros positivos. Suas vendas subiram 16% para US$ 19,7 bilhões em 2023, enquanto seu lucro operacional aumentou 11% para US$ 6,4 bilhões, informou a empresa em maio.
A captação feita pela Chanel segue acordos semelhantes realizados pela empresa de engenharia alemã Bosch, pela italiana de chocolates Ferrero e pelo fabricante de bebidas francês Rémy Cointreau, nos últimos anos.
Momento do setor de luxo
O poder de compra dos consumidores chineses deixou de ser a força vital do setor e agora se transformou em uma fonte de preocupação para as gigantes de luxo do mundo. Com a queda no volume de compras, os grupos que hospedam as maiores marcas europeias estão passando por um período nebuloso.
Durante o período da pandemia do Covid-19, os clientes asiáticos, que costumam lotar as lojas físicas das gigantes do setor, optaram por guardar seu dinheiro. Porém, com o término do isolamento social, toda essa renda foi destinada às empresas de luxo, que experimentaram um forte aumento de demanda até o começo de 2023.
Com a normalização do consumo, essas companhias estão passando por uma correção. Assim, o grupo LVMH registrou queda de 14% em seu lucro no trimestre, atingindo € 7,2 bilhões. O lucro da Kering, dona da Gucci e Yves Saint Laurent, também recuou 51% no mesmo período.
A Burberry, que já havia registrado queda de 40% no lucro de 2023, viu suas vendas desacelerarem 21% no trimestre.
A situação é ainda mais difícil para as empresas “menores” que tentam reverter sua sorte neste cenário. O risco é que o mercado de luxo mais fraco está deixando todos, exceto os jogadores mais poderosos, expostos a uma desaceleração prolongada.
De acordo com um levantamento divulgado pela Kinea Investimentos, braço de investimentos alternativos do Itaú, a expectativa é de que, no curto prazo, o setor passe por um processo de ajuste, com uma revisão negativa dos lucros diante da tendência de normalização no ritmo de crescimento e nas margens das companhias.