Um dos nomes que despontou entre as diversas startups de carros elétricos que surgiram nos últimos anos, a Nikola não resistiu à crise que assola o setor e entrou com um pedido de recuperação judicial.

A montadora, que se tornou uma penny stock, protocolou um processo de Chapter 11 em um tribunal de Wilmington, em Delaware, na quarta-feira, 19 de fevereiro, segundo o jornal The Wall Street Journal. No processo, a companhia informou que possui apenas US$ 47 milhões em caixa e que não conseguirá prover certos serviços para os clientes ao final de março.

Segundo o CEO da Nikola, Steve Girsky, a empresa deixou de fabricar novos veículos justamente para preservar caixa antes do pedido de recuperação judicial. No processo, a companhia diz que perdeu US$ 3,6 bilhões em capital investido desde o início de suas operações.

O pedido de recuperação judicial da Nikola não é um evento inesperado. No começo do mês, o WSJ apurou que a montadora discutia a possibilidade com advogados, avaliando desde a venda ou a reestruturação da empresa dentro de uma recuperação judicial.

A empresa é mais uma vítima do mau momento que atinge o segmento de carros elétricos, que vitimou também nomes como Fisker Automotive, Lordstown Motors e Electric Last Mile Solutions, todas tendo que recorrer ao Chapter 11.

No fim do ano passado, o WSJ apurou que 54 empresas, entre montadoras e fabricantes de baterias, não têm dinheiro em caixa para atravessar 2025.

Muitas dessas startups se tornaram públicas nos últimos anos, surfando o entusiasmo excessivo em torno do tema dos veículos elétricos, tentando ser a próxima Tesla. Algumas delas apelaram para as Special Purpose Acquisition Companies (SPACs), popularmente conhecidas como “empresas de cheque em branco”.

Mas a realidade frustrou as expectativas. A demanda projetada acabou não se concretizando, os custos subiram mais do que o esperado e o mercado se mostrou extremamente competitivo, resultando em guerra de preços. O setor também vive um momento de incerteza, depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter prometido acabar com os incentivos para o setor.

Fundada em 2015, a Nikola foi um dos nomes que se destacou entre as diversas montadoras de veículos elétricos que surgiram, pela proposta de produzir caminhões elétricos e movidos a hidrogênio. A tese atraiu a General Motors (GM), que comprou uma fatia na empresa.

Com essa premissa, a companhia se tornou pública em 2020 via uma SPAC, sob um valuation de cerca de US$ 3,3 bilhões, sem nunca ter vendido um caminhão, sendo negociada com base em projeções futuras de desempenho. Naquele ano, a companhia chegou a valer quase US$ 35 bilhões, superando o valor de mercado da Ford.

Além das dificuldades impostas pelo mercado, a Nikola viu seu fundador, Trevor Milton, ser acusado de fraude. Em 2020, a Hindenburg Research, especializada em pesquisa financeira forense, acusou a empresa de ser uma grande fraude, afirmando que Milton enganou os investidores ao vender uma “bateria revolucionária” com uma tecnologia que nunca foi apresentada ou comprovada.

Milton acabou condenado pela Justiça americana, em 2023, por enganar os investidores. Ele foi sentenciado a quatro anos de prisão, mas recorre da decisão.