Investidores brasileiros estão prestes a ganhar novas ferramentas para operar o sentimento do mercado. A B3 está próxima de lançar contratos futuros e opções do VIX do Ibovespa — o índice que mede a volatilidade esperada do principal indicador da bolsa brasileira, conhecido popularmente como o "índice do medo".

Com o ticker de VXBR, o VIX brasileiro está disponível para consulta há mais de um ano em plataformas ligadas à B3, mas ainda não conta com produtos derivativos — ao contrário de seu equivalente nos Estados Unidos, que há 32 anos serve como termômetro do nervosismo dos investidores.

Na Bolsa de Chicago, são negociados cerca de 830 mil contratos de opções de VIX por dia, o equivalente a 26% do volume de opções do S&P 500, o principal índice de ações da bolsa americana.

Apesar do potencial desse mercado, Ricardo Cavalheiro, superintendente de Índices da B3, afirma que o delay de mais de um ano para o lançamento dos produtos atrelados ao VIX se deve à necessidade de maior familiarização dos investidores com o índice.

“Existe um processo natural de adoção. Investimos bastante na divulgação das informações, para que as pessoas soubessem onde encontrar o índice na tela e tivessem o ticker na cabeça antes mesmo de existir um produto atrelado a ele”, diz Cavalheiro, ao NeoFeed.

Ainda não há um cronograma definido, mas a expectativa é que os contratos futuros sejam lançados antes das opções neste ano. “Como o contrato futuro já tem um preço de referência, é mais fácil de estabelecer. O preço de liquidação será o valor calculado pelo VIX”, afirma o executivo.

A metodologia considera a expectativa de volatilidade implícita para a bolsa nos próximos 30 dias a partir dos prêmios pagos em opções de índices. Como em um mercado de seguros, quanto mais caros os prêmios das opções, maior é a percepção de risco e instabilidade futura no mercado. Uma alta do VIX, portanto, reflete a maior incerteza dos investidores.

Lançado por meio de uma parceria entre a B3 e a Standard & Poor’s, o VIX brasileiro segue os mesmos moldes do índice original. A diferença é que o VIX americano se baseia nas opções do S&P 500, enquanto o brasileiro considera as opções do Ibovespa.

Assim como seu nome sugere, o índice costuma ser bastante volátil em período de alta instabilidade, podendo dobrar, triplicar ou mesmo quadruplicar em poucos dias — característica que lhe rendeu o sugestivo apelido de “índice do medo”.

Recentemente, após o anúncio do tarifaço de Donald Trump, o VIX americano saltou de 21 para 60 pontos em três dias. No Brasil, contudo, a alta foi de 16 para 26 pontos, refletindo maior resiliência do mercado local à decisão do presidente dos Estados Unidos.

Isoladamente, o VIX funciona como uma medida de sentimento de mercado e pode ser utilizado como sinal para negociações táticas, especialmente por traders e fundos quantitativos.

Um VIX abaixo de 20 pontos, por exemplo, costuma indicar um período de maior tranquilidade, enquanto níveis acima de 30 apontam para um ambiente mais arriscado para a bolsa. Desde seu lançamento, o VIX do Ibovespa tem oscilado majoritariamente entre 15 e 20 pontos — levemente abaixo dos níveis americanos.

“É um índice que tende a ter performance inversamente proporcional à bolsa, pois costuma subir em momentos de queda. Mas não significa que a bolsa vai subir porque o VIX está baixo — apenas que a volatilidade está menor”, diz Cavalheiro.

À espera do VIX

Embora o VIX brasileiro esteja disponível para consulta há quase um ano, é apenas com o lançamento dos futuros e das opções que o mercado poderá, de fato, operar o índice.

Gestoras que já utilizam estratégias com o VIX no exterior têm avaliado a possibilidade de atuar também com a versão brasileira, assim que os produtos estiverem disponíveis na B3. É o caso da Armor Capital, gestora multimercado com mais de R$ 1 bilhão sob gestão.

Entre investidores, os derivativos de VIX costumam ser utilizados principalmente como hedge contra eventos binários de curto prazo — como a divulgação de dados econômicos relevantes ou de resultados eleitorais. Em cenários negativos para os preços dos ativos, a expectativa é que a volatilidade aumente, beneficiando posições compradas no VIX. Também há espaço para posições táticas, apostando em alta ou queda da volatilidade no curto prazo.

Os esperados derivativos do VIX também têm chamado a atenção da gestora Investo, que estuda lançar ETFs atrelados ao índice. No entanto, Cauê Mançanares, CEO da Investo, afirma que isso dependerá da liquidez do mercado futuro do VIX.

“O ETF depende de ativos líquidos para negociação. Após algum tempo operando, será possível analisar a profundidade da liquidez e estruturar um produto em cima disso. A partir daí, é natural pensarmos em um ETF ligado ao VIX”, diz Mançanares.

Um ETF de VIX, porém, tem características únicas. Diferente de ETFs atrelados a índices de ações, ele não se encaixa como uma posição estrutural de portfólio, por conta da dinâmica dos contratos derivativos.

“Quando você segura [o VIX] por longos períodos, perde dinheiro com os custos de rolagem. Ele é muito bom para posições com tempo pré-determinado. É um índice que tende à média. Se for mantido estruturalmente na carteira, vai acabar destruindo valor no longo prazo", diz Mançanares.

Por outro lado, um ETF de VIX ofereceria uma característica singular: permitiria exposição a uma dinâmica inversa à da bolsa sem estar vinculado a um índice vendido de ações — prática que, ao contrário do mercado americano, é proibida pela CVM no Brasil.

Resta saber se o mercado brasileiro responderá à novidade e se gestoras, que utilizam mecanismos de hedge mais simples e já enraizados no mercado, como opções e futuros de índice, adotarão índice do medo em suas operações.