As ações da Weg lideraram as perdas do Ibovespa nesta quarta-feira, 23, após a empresa — que era acostumada a surpreender positivamente — voltar a frustrar as expectativas de analistas com os resultados do segundo trimestre.
O lucro líquido ficou em R$ 1,59 bilhão, alta de 10,4% em relação ao mesmo período do ano passado, mas 6% abaixo do consenso de mercado, que projetava R$ 1,7 bilhão. Os papéis da Weg encerraram o pregão em queda de 8,01%, a R$ 38,12, o menor nível desde junho de 2024.
A maior preocupação é quanto à desaceleração da receita, que teve alta de 10%, para R$ 10,21 bilhões — bem abaixo dos 13,5% registrados no segundo trimestre de 2024. Excluindo os efeitos cambiais, as vendas orgânicas cresceram apenas 1% na comparação anual, ritmo inferior aos 5% a 7% observados em trimestres anteriores.
“Enxergamos a desaceleração do crescimento orgânico como a principal preocupação nos resultados de hoje”, afirmam analistas da XP.
Parte da decepção veio do mercado interno, especialmente no segmento de Geração, Transmissão e Distribuição (GTD). A divisão, que representa cerca de 40% do faturamento da Weg, teve queda de 1,6% na receita doméstica em relação ao ano passado, e de 13,1% frente ao trimestre anterior. A ausência de novos projetos de energia eólica — que haviam impulsionado os resultados de 2024 — e a menor contribuição da geração solar explicam parte do recuo nas vendas no Brasil.
No exterior, o GTD cresceu 16,1% em reais, mas, segundo analistas da XP, esse avanço foi sustentado por efeitos cambiais e aquisições. Sem esses fatores, a receita teria permanecido praticamente estável.
Com 59% da receita vinda do mercado externo — sendo quase metade dos Estados Unidos —, a Weg se vê no centro das tensões comerciais com o governo americano. Além do risco de tarifas sobre exportações, a empresa tem enfrentado adiamento de investimentos em projetos de longo prazo devido ao aumento das incertezas políticas e geopolíticas.
“No mercado externo, o crescimento foi aquém do esperado, principalmente pela acomodação da demanda por ciclo longo devido ao cenário geopolítico incerto”, avaliam analistas da Ativa.
Segundo a Weg, a falta de previsibilidade de longo prazo tem afetado a decisão de investimentos de projetos de grande porte no exterior, o que tem impactado especialmente as operações de Equipamentos Eletroeletrônicos Industriais (EEI).
Os analistas da XP classificaram a performance do EEI como “fraca”, sobretudo diante de uma base de comparação mais fácil no Brasil, com alta anual de 2,6%. No exterior, o crescimento também desaponta ao ficar quase nulo em termos reais, excluindo efeitos cambiais.
Com maior exposição a projetos industriais e bens de capital de ciclo longo, a unidade vem sentindo de forma mais direta o esfriamento da atividade global e o adiamento de investimentos estratégicos em meio ao cenário macroeconômico e comercial mais incerto. A expectativa, segundo os analistas, é de que não haja uma reversão clara dessa tendência no curto prazo.
A piora de resultado também tem se refletido no ROIC (retorno sobre capital investido) da Weg, que tem caído gradualmente desde o ano passado. Em um ano, essa métrica de rentabilidade do negócio recuou de 37,4% para 32,9%, sendo que estava em 33,2% no trimestre passado. O efeito é parcialmente atribuído à consolidação dos negócios adquiridos da Regal Rexnord, em 2023, por US$ 400 milhões.
A queda do ROIC e a desaceleração das receitas não são fenômenos pontuais deste trimestre. Desde o primeiro trimestre do ano, a companhia já vinha mostrando sinais de perda de tração — com margens mais apertadas, redução no crescimento orgânico e impacto da integração de ativos adquiridos com rentabilidade inferior. A queda acumulada no ano é de 30%, colocando a ação entre as piores do Ibovespa em 2025, somente atrás da RaiaDrogasil, Cosan e Raizen.