É atribuída a Mark Twain, um dos escritores mais influentes da literatura americana e um mestre do humor e da sátira, a frase: "As notícias sobre a minha morte são exageradas."

A frase pode ser aplicada às buscas do Google, que estão sob escrutínio por conta da inteligência artificial, algo que muitos analistas acreditam que pode ser o maior desafio existencial da história da companhia fundada em 1988 por Larry Page e Sergey Brin.

O resultado do segundo trimestre de 2025 da Alphabet, a holding que controla o Google, confirma que as notícias sobre a morte das buscas do Google parecem exageradas.

Segundo Sundar Pichai, o CEO do Google, a ferramenta “Visão geral da IA”, da qual usuários buscam respostas geradas pelo modelo Gemini, conta com mais de 2 bilhões de usuários mensais, contra 1,5 bilhão registrados no trimestre anterior.

“Vemos a IA impulsionando uma expansão na forma como as pessoas pesquisam e acessam informações”, diz Pichai.  “Os recursos de IA fazem com que os usuários pesquisem mais à medida que aprendem que a busca pode atender mais às suas necessidades.”

Analistas de mercado acreditam que a estratégia de busca com IA do Google está de fato tendo impacto positivo para a companhia.

As impressões de busca — o número de links de anunciantes que aparecem nas buscas, mesmo sem serem clicados — cresceram 49% no ano desde o lançamento das visões gerais, de acordo com um relatório produzido em maio pela empresa de otimização de buscas BrightEdge.

Essa tendência representa uma perspectiva positiva para o negócio de publicidade em buscas, que responde por mais da metade da receita total da Alphabet.

Na quarta-feira, 23 de julho, a Alphabet reportou uma receita de US$ 54,2 bilhões com ferramentas de buscas no segundo trimestre, alta de 12% sobre o mesmo período do ano anterior. O consenso de especialistas do mercado era de que o resultado nessa linha chegasse a US$ 52,9 bilhões.

A receita consolidada da companhia entre abril e junho deste ano foi de US$ 96,4 bilhões, alta de 13,8% sobre o mesmo período de 2024. O lucro líquido foi de US$ 28,2 bilhões, crescimento de 19,37% sobre a mesma base do ano anterior.

Nesta quinta-feira, os papéis da Alphabet na Nasdaq fecharam em alta de pouco mais de 1%. No acumulado do ano, o crescimento é de 1,52%. A companhia está avaliada em US$ 2,34 trilhões.

Esse desempenho, acima da expectativa, reforça a capacidade da Alphabet de seguir monetizando seu tráfego de busca. O mercado publicitário também se mostrou relativamente saudável no trimestre, apesar de alguns percalços causados por tarifas e pela incerteza das perspectivas macroeconômicas.

O verdadeiro teste da resiliência do Google como mecanismo de busca, no entanto, ainda está por vir. Um problema é que, embora as visões gerais de IA estejam aumentando o número de links visualizados pelos usuários, as métricas do setor mostram que as pessoas não estão clicando tanto em links que geram receita. Quando as visões gerais de IA fornecem às pessoas as informações que elas procuram, elas não precisam mais dos links.

Esse, portanto, é um ponto-chave que o Google terá de resolver para se manter no topo. Se conseguir mostrar aos anunciantes que eles estão obtendo um retorno suficiente sobre seus investimentos por meio de respostas de IA de alta qualidade, a ferramenta de visão geral poderá gerar mais gastos e mais receita para o Google.

A outra questão é como os novos navegadores com inteligência artificial da startup Perplexity e da OpenAI podem mudar a forma como as pessoas obtêm informações. Esses desafios estão apenas começando e podem prejudicar o navegador Chrome, do Google. O impacto na receita do Google, se houver, deverá ser percebido mais à frente. A grande resposta, até aqui, está nas ferramentas que o Google tem usado para responder, por enquanto com sucesso, aos desafios.

Uma das alternativas que está na mesa da Alphabet é modificar o Chrome para competir melhor com os novos concorrentes. Outra opção é incorporar o Gemini em outros produtos ou até criar softwares que não possam ser replicados facilmente.

Essa não é a primeira vez em que a gigante do setor precisa adotar medidas de defesa para proteger seus negócios. Quando o tráfego de buscas estava prestes a migrar para celulares, há duas décadas, o Google adquiriu o Android e desenvolveu seu sistema operacional para celulares.

Como os iPhones ganharam enorme penetração global, o Google começou a pagar bilhões de dólares à Apple para tornar seu mecanismo de busca o padrão no navegador Safari da empresa.

O sucesso do Google ajudou a empresa a acumular um caixa que pode justamente ser usado para manter a defesa. Na teleconferência, Pichai anunciou que aumentaria os gastos de capital da empresa em 2025 para US$ 85 bilhões, ante um plano anterior de US$ 75 bilhões. A perspectiva é de que esse valor aumente ainda mais no ano que vem.