Na terça-feira, 5 de maio, um dia antes da divulgação do resultado financeiro do 1º trimestre de 2025, a RD Saúde, líder do varejo farmacêutico brasileiro e dono da rede Raia Drogasil, fechou o dia valendo R$ 34,3 bilhões, com ação a R$ 19,96. Quarenta e oito horas depois, o cenário é outro: bastou o mercado analisar com mais profundidade os números para a empresa perder R$ 5,82 bilhões e chegar a um valuation de R$ 28,48 bilhões.
Isso significa que, em apenas dois dias, a RD perdeu o equivalente ao valor de mercado da concorrente Panvel (R$ 1,38 bilhão) somado à duas vezes o da rede Pague Menos (R$ 2,18 bilhões).
O maior impacto na ação da RD foi na quinta-feira, 7 de maio, quando o papel da companhia fechou a R$ 16,58, retração de 14,76% em um dia, uma das maiores quedas da B3. No acumulado de 2025, as ações da RD Saúde registram desvalorização de 23,81%.
Entre os fatores que explicam o mau humor sobre as ações da companhia estão as quedas no lucro e no Ebitda, pressionados pela margem bruta e pelo aumento das despesas com vendas. Nos primeiros três meses do ano, a RD Saúde reportou lucro líquido ajustado de R$ 177,1 milhões, queda de 17,12% sobre o mesmo período de 2024. Com isso, a participação na receita bruta caiu de 2,2%, entre janeiro e março do ano passado, para 1,6% em 2025.
No Ebitda, a queda foi de 5,26%, com R$ 644,1 milhões apurados, contra R$ 679,9 milhões nos primeiros três meses do ano passado. A margem Ebitda caiu um ponto percentual em 12 meses, saindo de 7% para 6% neste ano.
A receita bruta registrada pela RD Saúde no primeiro trimestre foi de R$ 10,82 bilhões, alta de 10,8% sobre o resultado dos primeiros três meses de 2024, mas 0,83% abaixo do registrado no quarto trimestre de 2024.
Entre os analistas, há consenso de que a expectativa era por resultados mais robustos. Segundo relatório do Itaú, o início de 2025 foi “trêmulo” para a RD. “O lucro líquido caiu 17% em relação ao ano anterior e ficou 20% abaixo das nossas expectativas, devido ao crescimento fraco das vendas e a pressões de margem maiores do que o previsto”, diz o documento.
Para o Goldman Sachs, o impacto negativo, além do resultado do Ebitda, foi a análise do desempenho de vendas das mesmas lojas, que tiveram grande desaceleração no trimestre. “A RD apresentou resultados fracos no 1º trimestre, com números operacionais abaixo das nossas expectativas, impulsionados por vendas ligeiramente menores do que o esperado no período, bem como uma surpresa negativa na margem bruta.”
Segundo o banco, até mesmo a redução de quase 70% dos casos de dengue no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, contribuiu para o mau resultado da RD Saúde. “O desempenho foi principalmente impactado por uma combinação de efeito calendário, menos casos de dengue e e desempenho abaixo do esperado em HPC (que corresponde à venda de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos)”, aponta o texto.
“A menor venda de repelentes de mosquitos reduziu 90 pontos-base (cada ponto-base equivale a 0,01%). A concorrente Pague Menos mencionou que a categoria de protetor solar apresentou uma desaceleração notável no 1º trimestre, o que pode ter contribuído para o desempenho fraco na Raia Drogasil”, completa o banco.
O BTG Pactual também enxergou um fraco desempenho financeiro da varejista farmacêutica. Mas, segundo os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima, que assinam o relatório, o momento para investidores deve ser analisado com sobriedade. “Após resultados mais fracos do que o esperado no trimestre, e apesar da RD ter sido um desempenho abaixo da média, não vemos urgência em comprar a ação no curto prazo, dado o espaço limitado para alavancagem operacional nesse período.”
Para o Citi, a diferença do resultado esperado para o efetivamente reportado pela companhia foi grande. “A RD apresentou resultados piores do que o esperado, com Ebitda ajustado e lucro recorrente ficando abaixo das nossas estimativas em 7% e 26%, respectivamente”, aponta o documento.
A previsão do banco já apontava o impacto nos papeis da companhia na B3. “Esperamos uma reação negativa das ações após um lucro significativamente abaixo do esperado, consistente com o alerta negativo que publicamos em 9 de abril”, diz.
Mas o Citi também aponta caminhos para a maior varejista do setor. “O relatório destaca a estratégia da empresa de acelerar o crescimento da receita e melhorar os níveis de margem bruta (redução de perdas de estoque, ganhos comerciais, parcerias com fornecedores) nos próximos trimestres, o que, combinado com uma nova onda de reestruturação corporativa realizada em abril, pode ajudar gradualmente a reacender a lucratividade daqui para frente.”