Depois de três anos com o controle acionário nas mãos do FIP Inovabra I, o fundo de corporate venture capital do Bradesco, os fundadores da Smartbrain, Cassio Bariani e Henrique Garcia, estão recomprando e reassumindo o comando da empresa em um momento de franco crescimento da indústria de wealth management.

Fundada a partir das necessidades de um single family office em 2004, a Smartbrain nasceu como uma solução interna de agregação de carteiras. O produto evoluiu ao longo dos anos até se tornar, em 2010, uma plataforma agregadora de portfólios com fins comerciais, com clientes como consultores de investimentos, agentes autônomos, gestoras e áreas de wealth de grandes bancos e corretoras.

Com o mercado de assessoria decolando a partir de 2015, a empresa chamou a atenção do mercado e fechou, em 2022, um acordo com a Inovabra para um aporte de US$ 10 milhões, que obteve uma participação majoritária na companhia — o percentual exato não foi revelado.

O investimento foi usado para dar mais robustez à infraestrutura tecnológica da empresa e escalar o negócio, principalmente para atender a grandes instituições. Pelo acordo, os sócios-fundadores seguiram no controle da gestão da empresa, mas, com a evolução do mercado, a empresa começou a enfrentar algumas barreiras por ter um fundo de um banco como sócio majoritário.

“O Inovabra foi importante para evoluir a tecnologia em um momento de grande expansão do segmento. Mas depois o mercado começou a desacelerar. Queríamos fazer operações com várias investidas do fundo, mas vimos que não seria um caminho fácil”, diz Cássio Bariani, sócio-fundador da Smartbrain ao NeoFeed.

“E percebemos que seria fundamental para o futuro da empresa ser percebida como independente, sem vínculos com instituições financeiras, para crescer”, complementa.

A recompra da participação majoritária foi feita com recursos do próprio family office dos fundadores. Os valores pagos não foram revelados. E o fundo do Bradesco segue como acionista, mas agora minoritário.

Procurado, o Bradesco afirmou que está em período de silêncio e não poderia dar informações.

A empresa, nesse período, passou por um grande processo de profissionalização. Bariani e Garcia passaram a atuar apenas no conselho de administração, enquanto o comando operacional ficou com executivos como Ailton Torres, Bruno Salles e Carlos Deguchi.

Cassio Bariani, fundador da Smartbrain
Cassio Bariani, fundador da Smartbrain

O foco de crescimento agora está em duas frentes: integração de dados e inteligência de mercado.

“Estamos criando produtos com base no nosso banco de dados de 15 anos, com informações de ativos, carteiras e profissionais, para gerar inteligência preditiva com o uso de IA”, afirma Bariani. “O mercado quer velocidade, profundidade e precisão, e é isso que vamos entregar.”

A empresa está lançando uma ferramenta para conectar-se diretamente com custodiantes de bancos que não têm ainda uma plataforma de Wealth Service e receber os dados de forma antecipada — uma demanda do mercado de consultorias.

“Queremos que a Smartbrain deixe de ser reconhecida apenas pela consolidação e passe a ser referência também em soluções de inteligência com dados”, diz Bruno Salles, diretor de produto e marketing da Smartbrain. “O mercado está pedindo soluções robustas para consolidação de investimentos e queremos liderar esse movimento.”

Além do crescimento orgânico, a Smartbrain não descarta movimentos de M&A. Mas o plano principal é surfar a expansão do número de profissionais de investimentos no Brasil — que pode saltar de 30 mil para até 70 mil nos próximos anos.

De 2015 para cá, o número de assessores de investimento passou de mil para cerca de 30 mil. E a Smartbrain soube capturar isso. Entre 2020 e 2024, a empresa cresceu a uma taxa média de 34% ao ano. Atualmente, processa 600 mil extratos por dia e gera relatórios de mais de 350 mil carteiras, totalizando R$ 310 bilhões em ativos consolidados.

No Brasil, a empresa tem como competidores as plataformas Gorila e o Trademap. Nos Estados Unidos, esse mercado de consolidação é de poucas empresas, como a Addepar, que fez um contrato de exclusividade com o Itaú Unibanco. Mas os players internacionais têm dificuldade de operar aqui, pela jabuticaba que é o mercado brasileiro, dando espaço para os locais crescerem junto com o mercado de wealth.