Ao acelerar as vendas de picapes e SUVs, algumas das principais montadoras viram seus resultados do terceiro trimestre de 2020 superarem as previsões dos analistas mais otimistas. A GM foi uma das empresas que seguiram essa trilha.

Nesta quinta-feira, com a divulgação do seu balanço no período, a companhia reportou um lucro de US$ 4 bilhões, alta de 72% sobre o mesmo intervalo de 2019. No trimestre, a montadora apurou um lucro operacional ajustado de US$ 5,3 bilhões, com uma margem de 14,9%, um índice invejável para o setor.

A receita líquida de US$ 35,48 bilhões manteve o desempenho reportado um ano antes. Os bons indicadores se devem a uma combinação de fatores. De um lado, o lockdowns no período forçaram a empresa a suspender a produção, o que reduziu estoques e custos.

Ao mesmo tempo, a venda de automóveis, em particular, as picapes e os SUVs, foi impulsionada pelo aumento da procura dos consumidores que voltaram a buscar esse investimento para evitar as aglomerações dos transportes públicos.

"Estamos bem posicionados para atender à crescente demanda dos clientes, acelerar nossa transformação e entregar nossa visão de um mundo com zero acidentes, zero emissões e zero congestionamento”, afirmou Mary Barra, CEO da GM, em nota.

Ela destacou ainda a "resiliência" da montadora, que conseguiu, mesmo durante a crise, "preservar sua liquidez e economizar dinheiro enquanto manteve seus principais programas em dia".

Com o resultado, as ações da GM fecharam o pregão na Bolsa de Nova York com uma alta de 5,39%, com a empresa avaliada em US$ 53,1 bilhões e retomando, enfim, os patamares de cotação pré-pandemia.

Outras montadoras fizeram um percurso semelhante. Na semana passada, a Fiat Chrysler, também listada em Nova York, divulgou um lucro líquido de € 1,21 bilhão de euros. Hoje, a companhia encerrou o dia com alta de 4,56% em seus papéis. Com US$ 2,34 bilhões na última linha do balanço do período, a Ford, por sua vez, viu suas ações encerrarem o pregão de hoje com uma valorização de 4,58%.

Mesmo com a forte demanda no trimestre, há dúvidas se a GM e outras montadoras vão conseguir sustentar esse desempenho. Um dos fatores que contribuem com essa avaliação é a perspectiva de perda da força de alguns dos efeitos ligados à pandemia que beneficiaram o resultado no período.

Entretanto, no horizonte dos nomes tradicionais do setor, o que mais preocupa os investidores é a necessidade dessas empresas começarem a mostrar o retorno dos investimentos que têm feito nos veículos elétricos. E, ao mesmo tempo, os riscos e impactos que essa transição pode trazer ao portfólio atual dessas marcas.

O fato é que as discussões em torno dos carros elétricos estão em alta. Em setembro, o governador da Califórnia, Gavin Newson, ressaltou que o estado pretende barrar a venda de carros a combustão até 2035.

Medidas semelhantes são discutidas em outras regiões e organizações ambientalistas pressionam as autoridades para enrijecerem suas políticas, promovendo a adoção de veículos elétricos.

Não é à toa que, sem grandes legados no portfólio, as startups que atuam neste setor tenham sido as prediletas das SPACs, como são conhecidas as empresas de capital aberto estabelecidas para uma aquisição estratégica. As badaladas Fisker e Nikola, por exemplo, estrearam na bolsa de valores a partir de uma joint venture com SPACs.

Mesmo nesse trajeto, há problemas. A Nikola, por exemplo, ganhou forte tração na bolsa ao receber uma encomenda de 2,5 mil caminhões de lixo elétrico. Embalada por essa carteira, em setembro, a GM anunciou um um acordo inédito: a montadora forneceria tecnologia a startup e produziria a picape modelo Badger. Em troca, receberia uma fatia de 11% da operação da novata.

Dias depois de comunicar a parceria, um dossiê questionando a tecnologia da Nikola e sua capacidade de entrega foi colocado no ar pela empresa Hindenburg Research, especializada em pesquisa financeira forense. O escândalo custou a cabeça do fundador e CEO da Nikola, Trevor Milton, que sempre negou as acusações.

Outro componente reforça as dúvidas dos investidores sobre as perspectivas das grandes montadoras: a indefinição nas eleições americanas e, por consequência, a incerteza sobre linha que será adotada pelo próximo governo nas políticas de regulamentação dos carros elétricos.

Para o setor, a eleição de Joe Biden pode ser mais favorável, já que as chances de o governo democrata trabalhar em conjunto com o estado da Califórnia em uma única regulamentação seriam maiores.

Nesse contexto, Mary Barra, da GM, disse que seria irresponsável traçar um norte quando "muitas peças estão soltas". Entre elas, um novo pacote de estímulo e o controle da pandemia. Ainda assim, ela minimizou os possíveis impactos da eleição americana nos planos e estratégias da empresa.

Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.