Agosto marca o início da corrida eleitoral e da percepção de aumento de renda para os brasileiros. A desaceleração dos índices de inflação, combinada à deflação esperada para o IPCA de julho, conspira para a sensação de bem-estar que deve ser provisória.

De um lado, porque variações negativas de preços, decorrentes sobretudo da redução de impostos dos combustíveis, podem se estender apenas até agosto. E, de outro, porque a taxa de juro – ainda em espiral de alta no Brasil – pesará cada vez mais.

No dia 9 de agosto, o governo começará a pagar o Auxílio Brasil de R$ 600. Com a inflação forte, R$ 600 compram menos produtos do que mesmo valor pago em 2020, no início da pandemia. Contudo, em um cenário de deflação, estimada pelo Itaú Unibanco em - 0,67% em julho e - 0,25% em agosto, o bolso vai parecer mais cheio.

Contribui para essa percepção, o fato de a Caixa ter concluído, nesta semana, a distribuição de R$ 13,2 bilhões referentes ao lucro de 2021 do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) a 106,7 milhões de trabalhadores que tinham conta de FGTS com saldo em 31 de dezembro de 2021.

“Importante considerar que o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) de julho, que corresponde ao custo de mão de obra das empresas e à renda das famílias, chegou a cerca de 10% em 12 meses, alcançando o índice de preços ao consumidor. O INCC estava defasado, indicando uma perda real de renda das famílias. A partir de agora, a tendência é observar um ganho real que será potencializado pela deflação, ainda que transitória”, explica o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Ele lembra, porém, que a maioria das pessoas vão à feira e ao supermercado e não necessariamente a postos de gasolina. Resultado: a desoneração dos combustíveis atende a uma parcela pequena da população.

“De todo modo, quando setembro chegar, a sensação da população em geral deve ser de grana sobrando. Não dá para dizer de quanto será e não acredito que vai alimentar o consumo. Mas é inegável que a sensação tende a ser positiva.”

De fato, dos principais índices de confiança monitorados pela Fundação Getulio Vargas (FGV), dois registraram variações positivas de junho para julho: a confiança do consumidor e de serviços. Os índices de confiança do comércio, confiança da construção e confiança da indústria recuaram. Nesta sexta-feira, 29 de julho, a FGV divulga o Índice de Incerteza da Economia também de julho.

Lima Gonçalves alerta que, embora a confiança em serviços tenha apresentado resultado positivo em julho, a recuperação dos serviços vem desacelerando. “Melhora cada vez menos. E os efeitos da alta dos juros vão aparecer mais claramente, estendendo-se a 2023.

Daí as revisões de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em queda para o ano que vem, aproximando-se de zero”, diz o economista que vê a melhora da economia em 2022 como uma “espécie de bolha”, dada sua fragilidade.

O Fator trabalha com expectativa de mais dois aumentos da Selic – 0,50 ponto na reunião do Copom em 3 de agosto e 0,25 ponto em 21 de setembro, para um total de 14% ao ano.
Lima Gonçalves avalia, porém, que esse cenário de aumento da Selic perde força ante a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, anunciada ontem, 27 de julho, e a prévia do PIB americano do 2º trimestre que saiu hoje.

“O Fed foi mais ‘dovish’ [menos duro] do que o mercado chegou a esperar, aumentando o juro em mais 0,75 ponto. E a queda do PIB de 0,9% deve contribuir para que o aperto monetário por lá não seja tão forte. O mercado futuro de Treasuries aponta juro de 3% no final do ciclo e não 3,5% como precificava anteriormente. Se um aumento menor do juro americano é melhor para o real [porque nosso juro é bem maior], podemos ter certeza de que a economia americana mais fraca é ruim para todo mundo”, conclui o economista.