No fim de 2021, após uma série de desinvestimentos que culminou na concentração da sua operação na marca Havaianas, a Alpargatas foi às compras e anunciou a aquisição de 49,9% da Rothy’s, marca americana de calçados, bolsas e acessórios produzidas com materiais reciclados.

O investimento de US$ 475 milhões reforçou a pegada internacional e de sustentabilidade do grupo brasileiro. E é um dos passos que embalam as perspectivas da companhia na visão do Bank of America, a partir de um relatório divulgado nesta terça-feira, 12 de julho.

O relatório marca o início da cobertura da Alpargatas pelo banco americano, que traz uma recomendação neutra para a empresa e um preço-alvo de R$ 24 para a ação, uma valorização de 21,5% sobre a cotação de R$ 19,74 do papel no encerramento do pregão de ontem na B3.

“Percebemos boas oportunidades de mix, segmentação e produtividade no Brasil, espaço para crescimento internacional substancial e a opcionalidade da Rothy’s”, escrevem os analistas Robert Aguilar, Melissa Byun e Vinícius Preto.

Embora faça a ressalva de que a operação da Rothy’s ainda é deficitária, o trio destaca que a marca, nativa digital, tem alta recorrência e um baixo custo de aquisição de clientes, com a estimativa de que cerca de 75% do tráfego em seus canais online seja orgânico.

Os analistas também ressaltam que a empresa, dona de uma base de 13 lojas físicas, tem a perspectiva de construir uma rede global de 50 a 60 unidades, diante de um mercado endereçável estimado entre US$ 9 bilhões e US$ 11 bilhões, nos Estados Unidos, e em cerca de US$ 8 bilhões na Europa.

“A fatia de 49,9% na Rothy’s agrega um potencial de criação de valor fora do mercado core da Alpargatas no Brasil e de sua orientação para sandálias”, diz outro trecho do relatório. “E o posicionamento da Rothy’s ressoa em consumidores ambientalmente conscientes.”

No que diz respeito às ambições e planos do grupo dentro e fora do Brasil, o Bank of America também destaca que a Alpargatas já está expandindo seu portfólio para itens de maior valor agregado, dentro da estratégia batizada de “Beyond Core”, em direção à construção de uma marca de lifestyle mais completa.

“A gestão de categoria e os esforços em busca de um portfólio premium, que impulsionaram os últimos 4 anos de crescimento, ainda têm espaço para serem executados”, observam os analistas. “E espera-se também que os esforços de vendas diretas ao consumidor aumentem as margens e apoiem a inovação.”

Em contrapartida, o banco aponta alguns riscos no horizonte da Alpargatas. Entre eles, o fato de o grupo, ao investir em outras categorias, encontrar nesse percurso uma concorrência muito mais acirrada, um cenário completamente oposto ao seu negócio tradicional, no qual tem amplo domínio. Na contramão, esses mesmos players podem avançar nesse território core da companhia.

Por volta das 13h20, as ações da Alpargatas estavam sendo negociadas com ligeira queda de 0,61% na B3. No ano, os papéis da companhia, avaliada em R$ 12 bilhões, acumulam uma desvalorização próxima de 47%.