Em tempos de volatilidade causada pela Covid, o vinho pode ser um porto seguro para os investimentos. E, além de tudo, rentável.

É o que mostra o relatório “TOP 10 Investment Wines of the Decade”, da londrina Cult Wines, divulgado no fim do ano passado. Os rótulos selecionados tiveram uma valorização média de 357% em dez anos enquanto o índice S&P 500 subiu 186%.

“Muitos estão vendo o vinho, assim como o ouro, como um investimento seguro nestes tempos de volatilidade”, afirma Tom Gearing, CEO e cofundador da Cult Wines ao NeoFeed.

Especializada desde 2007 em comprar e vender vinhos para investidores privados, como se fosse uma corretora, a Cult Wines viu o seu negócio crescer 50% nestes tempos de coronavírus.

Gearing conta que a média de 4,5 milhões de libras esterlinas (R$ 30 milhões) investidas por mês passou para mais de 6 milhões de libras esterlinas (R$ 40 milhões) mensais. O dinheiro veio de clientes de todo o mundo, inclusive de brasileiros. Ele só não pode, por contrato, informar o nome dessas pessoas.

São investidores que aplicam a partir de 10 mil libras esterlinas (R$ 66,4 mi) na aquisição de garrafas de vinho, que ficam armazenadas nas adegas climatizadas da empresa a espera de sua valorização e do melhor momento para a venda. Atualmente, na cave da Cult Wines estão 650 mil garrafas, que juntas têm um valor estimado de US$ 190 milhões.

Mais do que o aumento do volume investido, Gearing conta que os clientes, em home office, estão estudando mais os meandros dos chamados fine wines e investindo com maior conhecimento. “Eles também estão bebendo mais”, conta o empresário.

Nas dicas sobre em qual vinho escolher, há sempre os investimentos seguros em Bordeaux e Borgonha. Mas são mercados já valorizados e de rentabilidade menor. A exceção são os vinhos da safra de 2019 de Bordeaux, lançada em primeurs em abril deste ano e que surpreendeu pelos preços mais baixos e pela alta qualidade.

Entre as regiões que Gearing considera potenciais está a de Barolo, no norte da Itália. “Seus vinhos têm estilo semelhante ao do pinot noir da Borgonha, com muita qualidade e capacidade de envelhecimento”, afirma ele.

Na referência com este vinho francês, os Barolos também são elaborados com uma única uva, a nebbiolo, e têm uma complexidade sutil, normalmente mais apreciada por pessoas que degustam vinhos há mais tempo.

Ainda na Europa, o empresário acredita na valorização dos vinhos do Rhône e dos grandes champanhes. Sua análise é que os melhores rótulos desta região, como os Hermitage, têm preços menores do que os grandes Bordeaux, apesar de sua qualidade. “Há espaço para uma valorização destes vinhos ao longo dos anos”, afirma ele. Em Champanhe, a aposta é nos espumantes grand cru.

Das regiões do chamado Novo Mundo, as apostas da Cult Wines estão no Oregon, nos Estados Unidos, e no Chile. Ele destaca a qualidade da pinot noir, a mesma mítica uva da Borgonha, nesta região americana, e também o fato de enólogos famosos estarem apostando em ter seus próprios vinhedos no Oregon. Um exemplo são os produtores franceses da Domaine Drouhin, que agora se dividem entre o Oregon e a Borgonha.

O Chile é promissor pelos seus projetos de vinho boutique, de pequena produção e muita qualidade. “Vinhos como Almaviva e Seña ajudam a elevar o preço da região”, explica. O Almaviva nasceu de uma parceria entre a francesa Mouton Rothschild com a gigante chilena Concha y Toro. O Seña, por sua vez, começou com Robert Mondavi, pioneiro na referência dos grandes cabernet sauvignon dos Estados Unidos e a família chilena Chadwick.

Gearing gostaria também de indicar os vinhos da Nova Zelândia. Mas diz que o fato de os grandes vinhos do país serem engarrafados com screw cap (a tampa de rosca) dificulta a sua valorização no mercado futuro. “Poucos compram um vinho que vai passar anos, até décadas na adega, e que têm esta tampa”.

Ele também elogia os vinhos premium da Argentina, mas avalia que problemas na distribuição acabam corroendo a rentabilidade. Para que a garrafa apresente ganhos ao longo dos anos, saber comprar é um dos pontos.

Comparação dos 10 vinhos mais rentáveis com o índice S&P 500

A Cult Wines adquire vinhos direto de vinícolas francesas de Bordeaux, da Borgonha, de Champanhe e do Rhône. Compra também de produtores na Itália, na Austrália e nos Estados Unidos. E também adquire no chamado mercado secundário, como outros comerciantes de vinho, distribuidores, importadores, corretores e colecionadores particulares.

Neste trabalho de acompanhar as valorizações, todo ano a empresa publica um relatório com os vinhos de destaque. A década passada trouxe mudanças nos vinhos como investimento. A primeira é que, no início dos anos 2010, Bordeaux liderava entre os rótulos mais valorizados, principalmente pelo interesse incessante dos asiáticos.

Ao longo dos anos, a alta de preços dos vinhos desta região levou investidores a procurarem outros mercados. Primeiro migraram para a Borgonha, com inevitável destaque para os vinhos da Domaine de La Romanée-Conti.

Não tardou para os preços da Borgonha chegarem à estratosfera, levando investidores para outros mercados como Piemonte, Rhône e Toscana.

Confira abaixo os vinhos mais valorizados da década. No relatório “TOP 10 Investment Wines of the Decade”, a Cult Wines decidiu selecionar apenas um rótulo por produtor e listar vinhos de todas estas regiões.

Chambertin 2000, de Armand Rousseau
Borgonha, França
Preço em 2009: US$ 440
Preço em 2019: US$ 3.683
Valorização em 10 anos: 737%
Quantidade de garrafas: 8.800

Musigny 2001, da Domaine Leroy
Borgonha, França
Preço em 2009: US$ 4.000
Preço em 2019: US$ 26.780
Valorização em 10 anos: + 570%
Quantidade de garrafas: 600

Petit Mouton 2001, do Château Mouton Rothschild
Bordeaux, França
Preço em 2009: US$ 57
Preço em 2019: US$ 314
Valorização em 10 anos: +448%
Quantidade de garrafas: 66.000

Romanée-Conti 2004, da Domaine de la Romanée-Conti
Borgonha, França
Preço em 2009: US$ 5.200
Preço em 2019: US$ 18.417
Valorização em 10 anos: + 254%
Quantidade de garrafas: 5.400

Chateauneuf-du-Pape 2005, do Château Rayas
Rhône, França
Preço em 2009: US$ 320
Preço em 2019: US$ 964
Valorização em 10 anos: + 201%
Quantidade de garrafas: 13.000

Angelus 2008, do Château Angelus
Bordeaux, França
Preço em 2009: US$ 99
Preço em 2019: US$ 293
Valorização em 10 anos: + 196%
Quantidade de garrafas: 72.000

Corton Charlemagne 2005, da Domaine Coche Dury
Borgonha, França
Preço em 2009: US$ 1.733
Preço em 2019: US$ 4.983
Valorização em 10 anos: + 188%
Quantidade de garrafas: 1.500

Barolo Vigna Rocche Riserva 2001, de Bruno Giacosa
Piemonte, Itália
Preço em 2009: US$ 272
Preço em 2019: US$ 780
Valorização em 10 anos: + 187%
Quantidade de garrafas: 15.000

Le Mesnil 1996, da Salon
Champanhe, França
Preço em 2009: US$ 307
Preço em 2019: US$ 823
Valorização em 10 anos: + 168
Quantidade de garrafas: 60.000

Dominus 2002, da Dominus
Napa Valley, Estados Unidos
Preço em 2009: US$ 100
Preço em 2019: US$ 260
Valorização em 10 anos: + 160%
Quantidade de garrafas: 60.000

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