Se os maiores bilionários americanos pagassem mais impostos, quanto teria sido arrecadado? De acordo com uma lei proposta no Senado, apenas em 2020 seriam US$ 114 bilhões a mais nos cofres públicos dos Estados Unidos. Jeff Bezos, sozinho, teria pago US$ 5,7 bilhões.

A Lei de Impostos para Ultramilionários, como ficou conhecida, é uma proposta enviada pela senadora democrata Elizabeth Warren, com apoio do senador Bernie Sanders. De acordo com ela, seriam cobrados impostos de 2% sobre fortunas acima de US$ 50 milhões e de 3% para aqueles com mais de US$ 1 bilhão.

Com isso, Elon Musk, fundador da Tesla, teria pago US$ 4,6 bilhões em 2020 - e ainda teria uma fortuna de US$ 148 bilhões no fim do ano. Bill Gates teria pago outros US$ 3,6 bilhões e Mark Zuckerberg, US$ 3 bilhões.

Os dados foram compilados pelos institutos Americans for Tax Fairness (ATF) e Institute for Policy Studies Project on Inequality (IPS) a partir de dados da revista Forbes. De acordo com o levantamento, os 650 bilionários americanos possuem uma fortuna coletiva de US$ 4,2 trilhões. Eles seriam responsáveis por metade de toda a arrecadação do país.

A lei afetaria apenas os 100 mil americanos mais ricos, equivalentes a 0,05% da população, e seria responsável pela arrecadação de cerca de US$ 3 trilhões na próxima década. Os recursos seriam usados para a infraestrutura do sistema de educação, pesquisas em energias limpas e cuidados com crianças.

Em 2020, a senadora Elizabeth Warren tentou obter a vaga do partido Democrata para concorrer à presidência. Na época, ela foi chamada de bruxa de Wall Street pelos profissionais do mercado financeiro e é vista como o terror das Big Techs do Vale do Silício justamente por conta de sua proposta de taxar as grandes fortunas.

Mas a discussão sobre o aumento de impostos para os bilionários ganhou força por conta da pandemia. "Nós entendemos a direção para onde seguimos. A pandemia criou ainda mais bilionários", afirmou Warren à rede CNBC.

Desde março de 2020, quando medidas mais restritivas de isolamento foram adotadas nos Estados Unidos, a fortuna dos americanos mais ricos cresceu 44%. Ao mesmo tempo, oito milhões de americanos passaram a viver abaixo da linha da pobreza.

A aprovação da nova lei de impostos ainda esbarra em muitos obstáculos. O principal é o enorme desafio envolvendo a infraestrutura necessária para monitorar a cobrança devida e impedir a evasão. A proposta de lei prevê um investimento de US$ 100 bilhões para o Internal Revenue Service, o serviço de receita do governo americano, para aumentar esse monitoramento.

Países da Europa desistiram de taxar grandes fortunas justamente porque a arrecadação foi menor do que o esperado e muitos milionários e bilionários conseguiram escapar das cobranças com facilidade, recorrendo a manobras fiscais. Warren afirmou que os erros europeus servirão de exemplo para evitar a evasão.

Há ainda um receio de que muitos bilionários se mudem para outros países para evitar a taxação mais alta. A proposta de lei inclui uma cláusula que cobraria 40% em impostos para aqueles que tentassem sair dos Estados Unidos.

Apesar dessas questões, uma parcela crescente de milionários americanos já se mostrou favorável ao aumento da alíquota. Essa lista inclui nomes como Bill Gates; Warren Buffett; George Soros; Marc Benioff, fundador e CEO da Salesforce; Ray Dalio, fundador da Bridgewater; e Chris Hughes, cofundador do Facebook.

No ano passado, 83 bilionários, incluindo americanos como Abigail Disney, herdeira do império Disney, e Jerry Greenfield, fundador da marca de sorvete Ben & Jerry’s, assinaram uma carta aberta pedindo por taxações maiores como forma de reduzir o impacto da Covid-19 no planeta.