Brasília - O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), se antecipou ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e criou uma linha de crédito para tentar proteger empresas do estado dos efeitos das novas taxas de exportação.
Em entrevista ao NeoFeed, o político, que é pré-candidato ao Planalto, disse que a ação não é uma tentativa de competir com o governo federal na solução da crise.
“São os governos do estado que pagarão essa conta. Não vou ficar esperando o Lula descer do palanque eleitoral pra ir à mesa de negociações, enquanto se aproxima uma ameaça real ao nosso setor produtivo”, disse ele, que pediu uma reunião de emergência do Fórum de Governadores para tratar dos efeitos do tarifaço.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, será convidado. “Não me oponho (sobre a presença do Alckmin), temos que buscar uma saída negociada e amplamente dialogada para este imbróglio. Devemos buscar condições de reestabelecer essa harmonia comercial entre Brasil e Estados Unidos.”
Na entrevista que você lê a seguir, Caiado critica Lula por não ter procurado Trump ainda no início do mandato. De acordo com ele, foi uma total falta de visão e de compromisso com a economia brasileira. Mas evita criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro, mesmo diante da relação do político brasileiro com Trump.
"Nunca foi de interesse do povo brasileiro perder a parceria comercial com os Estados Unidos. Mas Lula nunca perdeu uma oportunidade de provocar, como fez na última reunião dos Brics”, afirmou Caiado.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Como o senhor avalia o trabalho do governo Lula desde o início das ameaças de Trump em aumentar tarifas?
O governo federal não sinalizou qualquer medida concreta para amenizar ou tentar reverter essa situação. Contudo, o que vemos é aquilo que tenho exposto em diversas ocasiões: essa gestão mostra total incapacidade de governar. Por dois anos e meio, ficou em cima do palanque, sem nunca implementar um plano de governo concreto. No início da gestão Trump, perguntaram ao presidente Lula se ele iria procurar o presidente norte-americano para conversar. Ele respondeu que não tinha assunto pra tratar com Trump. Uma total falta de visão e de compromisso com nossa economia. Nunca foi de interesse do povo brasileiro perder a parceria comercial com os Estados Unidos. Mas Lula nunca perdeu uma oportunidade de provocar, como fez na última reunião dos Brics.
Mas não é uma tarefa complexa para o governo?
A meu ver, o governo federal devia estar agindo de uma forma mais coordenada em duas frentes contra o tarifaço. Primeiro, a diplomática, tentando dialogar com governo dos EUA e demais atores envolvidos para suspender o tarifaço. A outra frente é a econômica. O presidente Lula já deveria ter apresentado um plano de medidas para amenizar os impactos dessa taxação nos setores mais sensíveis. Enquanto ele bate cabeça, Goiás foi o primeiro estado a anunciar medidas econômicas que vão minimizar os impactos da taxação, com fundos subsidiados que poderão ser acessados pelas empresas mais atingidas. Estamos fazendo nossa parte para minimizar os impactos e preservar empregos.
"O presidente Lula já deveria ter apresentado um plano de medidas para amenizar os impactos dessa taxação nos setores mais sensíveis"
Sobre esse ponto, qual o papel dos governadores nesse processo de negociação?
Como governador, tenho que cuidar do meu estado, de postos de trabalho, da sobrevivência das empresas, para que a economia do meu estado de Goiás não seja desestruturada. Foi o que fizemos ao anunciar linhas de crédito para salvaguardar empresas mais afetadas com o tarifaço. Não foram os governadores quem criaram essa crise, mas é a economia de nossos estados que está sob ameaça. Então, neste momento, o papel dos governadores é abrir o diálogo, buscar o setor produtivo, os parceiros internacionais e negociar.
O senhor vai abrir diálogo com quem?
Já pedi uma reunião de emergência do Fórum de Governadores e vários chefes de Executivos já concordaram com esse encontro. Só aguardamos esse agendamento. Na segunda-feira, tivemos a sugestão de convidar o vice-presidente Geraldo Alckmin para estar nesse encontro. Não nos opomos: temos que buscar uma saída negociada e amplamente dialogada para este imbróglio. Devemos buscar condições de reestabelecer essa harmonia comercial entre Brasil e Estados Unidos.
A iniciativa do governo do estado em já se antecipar com crédito para empresas goianas antes mesmo do início do tarifaço de Trump não pode ser visto como uma forma de “competir” com a negociação do governo federal?
Não há que se falar em competição, se são os governos do estado que pagarão essa conta. Não vou ficar esperando o Lula descer do palanque eleitoral pra ir à mesa de negociações, enquanto se aproxima uma ameaça real ao nosso setor produtivo. Nosso papel é nos anteciparmos e buscar caminhos para resolver essa questão, se, de fato, a tarifa de 50% vir a vigorar. Coisa que, até o momento, o governo federal não conseguiu sinalizar com clareza.
Quais os erros até aqui cometidos pelo governo Lula nessa negociação?
Não negociar, não dialogar, provocar um parceiro comercial histórico, se arvorar de porta-voz dos Brics num momento de grande tensão internacional e dizer que é preciso desdolarizar o mundo, colocando um projeto político-ideológico à frente dos interesses de toda uma nação.
O governo Lula está numa sinuca dada a falta de interlocutores. Isso poderia ser buscado mesmo diante da relação entre o presidente Trump e o ex-presidente Bolsonaro?
Lula tem grande parcela de culpa no que está acontecendo. Ele nunca buscou diálogo com os EUA, um parceiro comercial histórico, depois que o Trump venceu as eleições. Pelo contrário. Fez provocações gratuitas nesse período. Quando se trata de relações comerciais, não cabe ideologia e nem bravata. Cabe o pragmatismo. A vida como ela é. O governo tem que buscar os parceiros para estabelecer pontes. Se Lula tivesse feito isto antes, no mínimo Trump teria uma dificuldade maior de impor tarifas tão duras ao Brasil.