O ano era 2019 quando o publicitário Amure Pinho viu a oportunidade de criar uma espécie de clube de investidores-anjo de startups. Mais do que uma porta de entrada para novos investidores, a ideia era também fomentar a prática através de cursos que mostravam o caminho das pedras (ou como se desviar delas).

Com mais de 400 investidores que pagam pelo menos R$ 18 mil para para estarem aptos a investir em conjunto com Pinho em novas startups, a Investidores.vc está pronta para dar um novo passo com a criação de uma gestora, o que deve acontecer até outubro deste ano.

“Criar uma gestora é o primeiro passo para que a gente possa incorporar novos produtos financeiros”, diz Amure Pinho, fundador da Investidores.vc, ao NeoFeed. A expectativa é de que a operação contemple uma área de crédito para startups e também um fundo de investimento que deve girar entre R$ 75 milhões e R$ 100 milhões.

Os planos de tirar a gestora do papel começaram no ano passado, quando a empresa fez uma rodada com sua rede de investidores e levantou R$ 2,9 milhões – dinheiro que está sendo usado somente para os custos operacionais. "Os investidores estavam mais temerosos neste inverno das startups”, diz Pinho, referindo-se ao adiamento do projeto.

Apesar dos planos de criação da gestora já estarem adiantados, inclusive em relação aos processos com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o fundo, no entanto, deve levar mais tempo para sair do papel. O veículo que deverá focar em startups que buscam rodadas seed e de série A, em vez de investimentos-anjo, deve começar a ser captado somente a partir de 2024.

Para angariar os recursos para o novo fundo, Pinho prevê que pelo menos 40% do capital venha dos próprios investidores que já fazem parte da rede. O restante será obtido com a entrada de novos limited partners.

Para ter seu fundo, Pinho terá de vencer o cenário desfavorável para investimentos alternativos. Em especial, para os estreantes. No ano passado, o NeoFeed conversou com diversas gestoras que estavam lançando seus fundos de investimentos. A conclusão é de que várias delas adiaram os prazos ou reduziram as metas de captação.

Mesmo gigantes do exterior estão também sofrendo com a escassez de dinheiro para o venture capital. Nos últimos meses, Tiger Global, TCV e Insight Partners diminuíram suas metas de arrecadação de capital de seus novos fundos. Esta última, por exemplo, planejava captar US$ 20 bilhões. A nova meta é de US$ 15 bilhões.

Mais de 40 investimentos

Mesmo sem ter criado seu fundo, a Investidores.vc montou um portfólio maior do que o de muitas gestoras. Atualmente, operação já realizou mais de 40 investimentos em startups de diferentes setores, mas sempre com valuations que ficam entre R$ 8 milhões e R$ 15 milhões. Foram 8 exits desde então.

Entre os desinvestimentos realizados destaque para a compra da Gama Academy, edtech focada em cursos voltados para o mercado de tecnologia, pela Ânima Educação, e a aquisição da Loopkey, de soluções de controle de acesso, pela proptech mexicana Casaí. O retorno dos investimentos foi de 5,8 vezes e 21 vezes, respectivamente.

Amure Pinho, do Investidores.vc
Amure Pinho, do Investidores.vc

Para estar apto a investir na plataforma, o interessado precisa fazer um curso de imersão em startups que custa R$ 18 mil e dá direito a entrada neste clube de investimentos na categoria "Pool". Nesta, os investimentos são realizados em negócios que recebem aportes de até R$ 1,5 milhão. Os cheques individuais variam entre R$ 25 mil e R$ 50 mil.

Para selecionar as startups que serão investidas, Pinho realiza uma espécie de laboratório com as empresas em que oferece mentoria. Caso as empresas consigam cumprir metas de desempenho estabelecidas pela Investidores.vc, há maior possibilidade de que um investimento seja feito. “A gente quer ver esse empreendedor passando por problemas antes de colocar o dinheiro”, diz Pinho.

Para investidores com o apetite maior, Pinho criou uma categoria chamada de "Black". Um seleto grupo de 50 investidores pagou cerca de R$ 28 mil para estar apto a entrar em negócios em estágios mais avançados e, por vezes, com risco maior. Os cheques individuais começam em R$ 50 mil e podem chegar a mais de R$ 300 mil. De acordo com Pinho, seu público-alvo é formado por empresários e executivos de alto escalão de empresa.

A Investidores.vc não é a única plataforma que possibilita essa porta de entrada para aporte em startups. Outros clubes de investimento conhecidos são GV Angels e Anjos do Brasil, ainda que com suas particularidades (o primeiro, por exemplo, é formado por ex-alunos da Fundação Getulio Vargas).

Tentativa e erro

Para tentar se diferenciar das competidores, a Investidores.vc aposta no próprio fundador como um fator de atração. Pinho entra em todos os aportes realizados. "Tem o diferencial que é o skin in the game", diz. Publicitário por formação e ex-presidente da Associação Brasileira de Startups, ele começou a investir em startups ainda no começo da década passada.

Pinho conta que investiu em mais de 10 startups que naufragaram antes de finalmente encontrar um negócio que vingasse. Ao todo, mais de R$ 400 mil foram queimados. Em 2013, a sorte mudou.

Na época, ele investiu R$ 40 mil na Admatic, empresa que otimizava campanhas virtuais no Google. A startup foi comprada dois anos depois pela B2W e rendeu um retorno de quase R$ 1 milhão ao investidor. "Comecei a entender o que eu acertei e passei a construir uma tese”, diz Pinho.

De lá pra cá, ele diz que fez apenas um write off em uma operação de aluguel de roupas para festas chamada de Rent Style e que surgiu poucos meses antes da pandemia. O valor investido na operação não foi revelado.

Apesar de manter uma tese agnóstica, a Investidores.vc vem olhando com mais atenção para startups que operam em setores como infraestrutura, logística, mobilidade e construção. O que não agrada são os negócios que envolvem web3 e blockchain. “Tem pouca saída no Brasil e pouca gente que saiba programar. Eu preciso jogar dentro das estatísticas”, diz Pinho.