Em setembro do ano passado, a Urbem, uma startup que produz estruturas de madeira de pinus para edificações, recebeu um aporte de R$ 103 milhões, em uma rodada liderada pela DX Ventures, o fundo de corporate venture capital (CVC) da Dexco (antiga Duratex).

Só nessa rodada, a DX Ventures assinou um cheque de R$ 30 milhões, em um dos maiores investimentos feitos por um fundo de CVC no Brasil nos últimos 12 meses. O que pouca gente sabe é que quem estava por trás dessa rodada era a Valetec Capital.

Fundada por Peter Seiffert em 2006, a gestora só se especializou em CVC a partir de 2017. Em apenas cinco anos, a Valetec Capital se tornou uma espécie de eminência parda dos principais fundos de corporate venture capital no Brasil.

Com R$ 750 milhões sob gestão, a Valetec Capital administra sete CVCs, como o da Eurofarma (Neuron Ventures), da ArcelorMittal (Açolab Ventures), da Ânima (Ânima Ventures), da Locaweb (LW Ventures) e, claro, da Dexco (DX Ventures) – outras duas empresas não divulgaram ainda seus fundos para o mercado.

Agora, na esteira de um momento de acelerada expansão destes tipos de fundos no mercado brasileiro, a Valetec Capital estima chegar a R$ 1 bilhão sob gestão no primeiro trimestre de 2023. A meta é ter R$ 2 bilhões até 2025.

“As corporações hoje são obrigadas a ter uma operação de CVC como um hedge ou como uma aposta”, diz Seiffert, ao NeoFeed. “É bom estar junto das startups sendo protagonistas do processo do que ser vítima depois.”

Não se trata apenas de um discurso de um vendedor querendo promover o seu produto. Nos últimos dois anos, o CVC entrou de fato na agenda das principais corporações brasileiras, que abraçaram a iniciativa em busca de aprimorar seus relacionamentos com startups e para não serem surpreendidas por empresas que podem “disruptar” seus mercados.

A estimativa conservadora de Seiffert é que mais de R$ 2 bilhões de recursos em fundos de CVCs foram anunciados em 2022, mais do que o dobro do ano passado. São mais de 100 empresas investindo em startups, a maioria delas usando capital do balanço em vez de estruturar um fundo de investimento.

São os casos de Telefônica/Wayra, que divulgou um fundo de R$ 320 milhões. A B3, que criou a L4, com R$ 600 milhões. A Suzano, com R$ 350 milhões. A Vale vai apostar R$ 300 milhões em CVC. E a Braskem, R$ 500 milhões. “Essas iniciativas estratégicas vêm sendo trabalhadas há mais de dois anos. É um movimento que não depende do ciclo econômico ou da indústria”, afirma Seiffert.

A competição também envolve outros fundos que se especializaram em CVCs, como o caso da MSW Capital, que faz a gestão do BR Startups, o primeiro fundo multi-corporate venture capital do Brasil, que reúne Microsoft, Algar, BV, Monsanto e BB Seguros. O segundo fundo da gestora atraiu BB Seguros, Baterias Moura e AgeRio. Ela também gere um fundo de CVC para o Banco do Brasil

Não bastasse isso, os fundos de venture capital estão também entrando na arena da Valetec, criando estruturas para gerir CVCs. É o caso da Vox Capital, que está à frente de dois fundos: um do Einstein e outro do Banco do Brasil.

Neste cenário, a Valetec Capital se estruturou para criar uma “máquina” de montar CVCs para grandes empresas. As companhias entram com a expertise do mercado; a gestora, com a experiência de fazer investimentos.

No mercado, a Valetec Capital se posiciona como um CVC as a service, criando toda a metodologia, a tese e gerando o deal flow para a empresa. E sua forma de remuneração segue o modelo tradicional de um fundo de venture capital. A gestora recebe uma taxa de gestão (cobrada mensalmente) e outra de performance, em função do desempenho do fundo.

A decisão de investimentos, no entanto, não é uma atividade isolada da Valetec. Sempre há um comitê com pessoas chaves das empresas para tomar a decisão de qual startup apostar.

“Quando bem desenhada, a operação de um CVC dá retorno financeiro e traz também resultados estratégicos na forma de novos serviços, novos produtos, novos negócios, de desenvolvimento de tecnologia e de entrada em novos modelos de negócios”, diz Seiffert. “São resultados relevantes que impactam a sobrevivência da corporação.”

Atualmente, a gestora tem feito, em média, 28 aportes por ano – quatro para cada CVC que gere. Os investimentos incluem a JustForYou feito via Neuron Ventures. A Noah e a Brasil ao Cubo, pela DX Ventures. Agilean e Sirros, pela Açolab Ventures. E Looqbox, pela LW Ventures.

A expectativa de Seiffert é aumentar ainda mais o número de empresas debaixo do guarda-chuva da Valetec Capital, além de gerir novos fundos das companhias com as quais já trabalha. “Estamos construindo uma rede de acesso a pipeline muito forte”, afirma o fundador da Valetec.

A aposta em corporate venture capital foi uma virada na vida de Seiffert, um executivo que fez carreira na Embraer de 2001 a 2019. Ele tentou, ao mesmo tempo em que trabalhava na fabricante brasileira de aviões, criar uma gestora tradicional de venture capital e outras classes de ativos. “Durante muitos anos testei vários produtos e vários esforços para crescer e alavancar a Valetec”, diz Seiffert.

Em 2009, ele chegou a protocolar um pedido de IPO em conjunto com a FIR Capital na antiga Bovespa. Mas as condições de mercado não permitiram a abertura de capital. Na Embraer, como head de CVC, ele ajudou a estruturar quatro fundos. Foi quando viu que esse era um mercado incipiente no Brasil, além de uma dor das empresas, que iriam precisar de profissionais qualificados.

Nesta entrevista, que você assiste no vídeo abaixo, Seiffert comenta também quais são os principais erros na hora de estruturar um CVC. Entre eles, achar que corporate venture capital é M&A, não ter apoio da alta cúpula e ser uma iniciativa esporádica.

Assista a mais um episódio do Café com Investidor: