A Boeing queimou cerca de US$ 4 bilhões em fluxo de caixa no primeiro trimestre de 2024, período no qual registrou prejuízo operacional de US$ 355 milhões e queda de 8% da receita em relação aos primeiros três meses do ano anterior.

O anúncio dos resultados financeiros do primeiro trimestre da Boeing, nesta quarta-feira, 24 de abril, expôs o quadro difícil por que passa a gigante de aviação, agravado com o quase acidente de 5 de janeiro, quando um 737 MAX operado pela Alaska Airlines apresentou falha estrutural, perdendo parte da fuselagem, o que fez com que a porta de emergência se abrisse em pleno voo, a 4,9 mil metros de altitude.

O novo incidente jogou mais luz sobre o problemático modelo 737 MAX, a grande aposta da Boeing quando foi lançado. Entre o final de 2018 e início de 2019, dois 737 MAX caíram, resultando em 346 vítimas fatais e a interrupção das operações da quarta geração da família Boeing 737 por cerca de 20 meses.

Pressionada pelas companhias aéreas e órgãos reguladores após o acidente de janeiro, a Boeing teve de reduzir a produção de aeronaves para melhorar a qualidade e a segurança, o que impactou nas metas financeiras.

A Boeing entregou 83 aviões comerciais no trimestre, uma queda de 36% em relação ao ano anterior, fechando março com US$ 7,5 bilhões em caixa e menos da metade dos investimentos previstos em janeiro. O preço das ações caiu mais de 30% neste ano.

Para se ter uma ideia da crise envolvendo a empresa, sua principal rival, a Airbus, entregou um total de 142 aviões nos primeiros três meses do ano, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023.

“No curto prazo, sim, estamos em um momento difícil”, admitiu o CEO da Boeing, Dave Calhoun, em mensagem aos funcionários. “Entregas mais baixas podem ser difíceis para nossos clientes e para nossas finanças. Mas a segurança e a qualidade devem e virão acima de tudo.”

Outro pesadelo

Além do impacto do quase acidente de janeiro com seu 737 MAX, a Boeing enfrenta um problema separado com outro modelo, o 787 Dreamliner.

No início do mês, o jornal The New York Times publicou uma reportagem afirmando que a FAA está investigando alegações feitas por um engenheiro da Boeing de que seções da fuselagem do 787 Dreamliner estão sendo inadequadamente fixadas juntas e poderiam se separar durante o voo, após milhares de viagens.

Segundo o engenheiro Sam Salehpour, citado pelo jornal, os problemas de fixação surgiram como resultado de mudanças na forma como as seções eram ajustadas e fixadas na linha de montagem. Um porta-voz da Boeing admitiu as mudanças, mas afirmou que “não há impacto na durabilidade ou longevidade segura da estrutura da aeronave”.

Desde então, a escassez de algumas peças importantes impede a empresa de aumentar a produção dos jatos de fuselagem larga tão rapidamente quanto esperava.

A queima de caixa já era prevista desde o final de março, quando o CFO da companhia, Brian West, disse em evento do Bank of America (BofA), em Londres, que a companhia deveria sentir um impacto acima do esperado, entre US$ 4 bilhões e US$ 4,5 bilhões no fluxo de caixa, por conta dos problemas operacionais.

A sangria mínima esperada no fluxo de caixa pode explicar por que as ações da Boeing subiram 3% no início do pregão desta quarta-feira, após a divulgação dos resultados do trimestre.

A crise, no entanto, está longe de acabar. Os problemas em série com os modelos da Boeing levaram a uma grande reestruturação da companhia.

Em março, foi anunciada a saída do CEO Calhoun no final do ano. O chefe do negócio de aeronaves comerciais da Boeing, Stanley Deal, renunciou e o presidente do conselho, Larry Kellner, não se candidatará à reeleição.