O Banco Mundial está se movimentando para apoiar o reflorestamento da floresta amazônica. Para isso, emitiu um título de nove anos no valor de US$ 225 milhões. Ao contrário dos títulos já presentes no mercado, o retorno dos compradores estará relacionado ao impacto climático das novas árvores, em vez da mitigação de emissões por meio da contenção do desmatamento.
Com o veículo, os investidores terão um retorno fixo de aproximadamente 1,7% ao ano, menor do que os títulos comuns do Banco Mundial com maturidade similar. De acordo com o banco, os retornos podem chegar até 4,3% se os projetos apresentarem o desempenho esperado. O HSBC foi responsável pela estruturação da operação.
"Esse título é uma vitória notável para ambos os lados, criando uma ponte entre os investidores dos mercados de capitais que buscam apoiar o desenvolvimento positivo e o impacto ambiental na Amazônia e os projetos de reflorestamento que ajudarão a proteger um dos nossos recursos naturais mais valiosos", afirma Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial.
Do valor total, cerca de US$ 36 milhões serão direcionados a apoiar as atividades de reflorestamento da startup brasileira Mombak, que trabalha junto a fazendeiros e proprietários de terras para replantar espécies nativas na Amazônia.
Nessa parceria, os créditos de carbono produzidos pelo projeto, calculados com base na quantidade de carbono removido pelas árvores plantadas, serão vendidos para a Microsoft, que firmou um acordo de compra com a Mombak.
"Estamos felizes em fazer esta parceria com o Banco Mundial e o HSBC na maior operação de título baseado em resultados até hoje. Esta primeira transação de dívida para reflorestamento ajudará a desbloquear os mercados de capitais para a indústria," diz Gabriel Silva, cofundador e CFO da Mombak, em nota divulgada pelo banco.
Os títulos têm proteção total do capital, sendo classificados como AAA, de acordo com o Banco Mundial.
Momento do mercado de carbono
A iniciativa do Banco Mundial não poderia ter vindo em um momento melhor. O título surfa uma onda de mudança nos mercados voluntários de carbono, onde os compradores estão dispostos a pagar mais por projetos que realmente acabem com o problema.
Os créditos gerados pela remoção de carbono, como os produzidos pelo reflorestamento, são mais caros. Mas a alternativa, créditos vinculados ao combate do desmatamento, tem sido cada vez mais questionada por seu papel no marketing em torno da pegada verde.
“À medida que o mercado amadurece, os compradores estão se tornando cada vez mais preocupados com a qualidade, porque estão percebendo que às vezes o carbono que você compra acaba não sendo o que você esperava,” afirma Silva, da Mombak. “Algumas empresas, como a Microsoft, abandonaram os créditos de redução de emissões e se concentram apenas na remoção de carbono. E essa é uma tendência que estou vendo cada vez mais.”
A demanda por esse tipo de título já estava sendo sentida desde o ano passado, quando o Brasil vendeu seu primeiro título sustentável com os recursos destinados a projetos ambientalmente e socialmente benéficos. Desde lá, grupos de investidores proeminentes vem pedindo ao país que dê um passo adiante e emita um título vinculado à proteção da floresta tropical.
“Estamos analisando outras transações de produção de créditos de carbono no setor de reflorestamento, agroflorestas e outras tecnologias de sequestro de carbono”, conta Michael Bennett, chefe de derivativos e finanças estruturadas do Tesouro do Banco Mundial.