Há cerca de dois meses, o X (o antigo Twitter) foi a rede usada por Sam Altman, da OpenAI, para rebater Elon Musk, em mais uma troca de farpas envolvendo a dona do ChatGPT, que tem a dupla entre seus cofundadores. Agora, curiosamente, a rede social deve inspirar novos embates entre os dois bilionários.

A OpenAI está desenvolvendo sua própria rede social. E, embora ainda esteja em seus estágios iniciais, a iniciativa guarda muitas semelhanças justamente com o X, a plataforma de propriedade de Musk, segundo diversas pessoas familiarizadas com o projeto disseram ao portal americano The Verge.

De acordo com essas fontes, a plataforma em questão mescla a geração de imagens do ChatGPT com um feed social. E Altman tem buscado constantemente opiniões externas sobre o que está sendo desenvolvido nesse espaço.

Não está claro, porém, se o plano da OpenAI é lançar a rede social como um aplicativo separado ou integrá-la ao ChatGPT. Mas restam poucas dúvidas sobre o potencial desse projeto acirrar ainda mais os ânimos entre as duas partes.

Em fevereiro deste ano, no capítulo mais recente dessa relação nada amistosa, Musk fez uma oferta “não solicitada” de US$ 97,4 bilhões para comprar a OpenAI. A proposta foi formalizada por Marc Toberoff, advogado do bilionário.

“Está na hora de a OpenAI voltar a ser a força do bem focada em segurança e código aberto que já foi um dia”, afirmou Musk em comunicado sobre a oferta, que teria ainda a participação de investidores como Valor Equity Partners e Baron Capital. “Vamos garantir que isso aconteça.”

Ao saber dessa movimentação, Altman recorreu ao X para responder ao seu antigo “parceiro” na empreitada. “Não, obrigado, mas podemos comprar o Twitter por US$ 9,74 bilhões, se quiser”, disse ele. O valor em questão seria menos de um quarto dos US$ 44 bilhões pagos Musk pela rede social em 2022.

Mesmo com esse retorno, Toberoff afirmou na oportunidade que o grupo liderado por Musk estaria disposto a igualar ou superar qualquer oferta mais alta que a sua. A verdade é que, pouco tempo depois, o cheque necessário para uma investida desse porte ficou com certeza muito mais caro.

No fim de março, a OpenAI levantou um aporte de US$ 40 bilhões. Liderada pelo Softbank e com a participação de nomes como Microsoft, Coatue Management e Thrive Capital, a rodada avaliou a empresa em US$ 300 bilhões.

Há outros capítulos que marcam essa disputa. Em janeiro deste ano, a OpenAI anunciou a criação da Stargate, joint venture com a Oracle e o Softbank que prevê um investimento de até US$ 500 bilhões na construção de data centers para inteligência artificial nos Estados Unidos.

Na época, Musk afirmou, novamente via X, que o trio não tinha capacidade de viabilizar esse montante. “Eles não têm esse dinheiro. O Softbank tem bem menos do que US$ 10 bilhões garantidos. Tenho informações confiáveis sobre isso.”

Altman, por sua vez, rebateu na própria postagem. “Errado, como você bem sabe”, escreveu. “Quer visitar o local onde as obras já começaram?”

Essa animosidade tem origem, porém, em outro imbróglio, que se traduz em uma série de processos judiciais movidos por Musk, em que ele acusa a OpenAI de ter traído a sua missão original como uma empresa sem fins lucrativos.

Com essa mesma alegação, o embate mais recente nessa esfera aconteceu também no início do ano, quando Musk solicitou em ações registradas na Califórnia e em Delaware que parte da OpenAI fosse leiloada.

No centro dessas ações, o movimento da OpenAI para se tornar uma empresa com fins lucrativos ganhou status de prioridade – e fôlego - em outubro de 2024, quando a companhia anunciou um investimento de US$ 6,6 bilhões, liderado pela Thrive Capital.

Mesmo ainda em gestação, a rede social em desenvolvimento pela companhia seria um dos possíveis caminhos para que a OpenAI consolidasse essa virada. E, nesse sentido, o projeto também colocaria a empresa em rota de colisão com outros dois nomes de peso do setor: a Meta, de Mark Zuckerberg.

Há alguns meses, houve rumores de que a Meta estaria planejando adicionar um feed social no desenvolvimento de seu próprio assistente de inteligência artificial. “Ok, talvez façamos uma rede social”, escreveu, na oportunidade, Altman, claro, no X.

Em um dos possíveis racionais por trás da iniciativa, com uma rede social própria, a OpenAI teria acesso a dados exclusivos e em tempo real para alimentar o treinamento dos seus modelos de inteligência artificial. Algo que, a Meta e o X, com a Grok, assistente da xAI, outra startup de Musk, hoje já têm acesso.