Foi o quadro societário da startup Yuool, com quatro fundadores vindos da XP Investimentos, que fez com que a alcunha de “marca de tênis de faria limer” pegasse rápido.

Reforçada pelo ineditismo do produto, que estreou com cabedal em lã de ovelha da raça merino, um tecido termodinâmico, antibacteriano e confortável. E que combinava com o figurino informal e os trajetos de bicicleta dos frequentadores dos escritórios que ficam entre as avenidas Brigadeiro Faria Lima e a Juscelino Kubitschek.

Fundada em 2017 por Marcelo Maisonnave, Pedro Englert e Eduardo Glitz, sócios da NVA Capital, a gestora que reúne os investimentos do trio em empresas como Warren, StartSe, Monkey, Lovin’ Wine entre outras, e Eduardo Rocha Abichequer, um gaúcho de 28 anos que ficou, de fato, à frente da gestão do negócio como CEO, a Yuoll tem registrado crescimento constante.

Com vendas focadas principalmente no digital, a empresa já entregou quase 150 mil pares de calçados, alcançando só em 2022 faturamento de R$ 18 milhões – 63% maior do que no ano anterior. A meta é chegar a R$ 33 milhões este ano, para quando está programada a abertura da primeira loja internacional, mais especificamente em Milão (Itália), a entrada na Colômbia, e a inauguração de mais três pontos próprios no Brasil - hoje são seis.

Além disso, a companhia planeja expandir para além dos calçados com o lançamento de uma nova linha “fora do pé”, como limita-se a revelar Abichequer ao NeoFeed. Para tanto, fez mudanças estruturais que permitirão ampliar a produção e reduzir custos fiscais.

Rumo a Extrema

Nesse primeiro trimestre, estão transferindo a produção para uma fábrica maior e mais especializada que permitirá passar de 1 mil para 3 mil pares ao dia. Além disso, vão levar o centro de distribuição de São Paulo para Extrema (MG) – que tem uma das menores alíquotas fiscais para empresas de comércio eletrônico do País, variando de 1% a 3%.

“Só isso já deve representar uma economia de cerca de R$ 700 mil no ano”, afirma o CEO, que também passará a ter mais do que o dobro de área de estoque e operação.

 

Tênis Kobra: estratégia de collab como Adidas, Nike e Puma

Ao aporte inicial “entre R$ 1 milhão e R$ 2 milhões” já se somaram mais R$ 5 milhões que resultou na entrada de outros seis sócios. “Estávamos muito mais interessados no smart money, no know-how que essas pessoas pudessem nos trazer, do que no capital em si, que na época estava abundante no mercado”, lembra Abichequer.

Um dos novos sócios encabeçará, inclusive, a abertura da primeira loja na região de Brera, em Milão. Trata-se do italiano Stefano Aglietta, cuja tecelagem familiar Italfil – que traz no portfólio de mais de 50 anos trabalhos para grandes marcas de luxo como Loro Piana e Zegna – é responsável pela compra da lã no Uruguai e pela fabricação dos tecidos utilizados nos tênis que deram origem à marca.

“Ele nos ajudou a desenvolver o produto desde o início e montou a operação na Europa”, aponta Abichequer. Desde 2018 a marca está presente por meio de e-commerce próprio na Holanda, Luxemburgo, França, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal e Bélgica.

“A Yuool está consolidando sua posição na Itália como marca confortável e inovadora. Mas a Europa ainda precisa ser abordada de forma estruturada. O potencial é enorme”, disse Aglietta ao NeoFeed.

EUA, a próxima parada

Chinelo e uso de novos materiais: impacto do câmbio

Em meados de 2022 a Yuool chegou aos Estados Unidos, valendo-se da Amazon como plataforma de vendas. Nova York, Flórida e Califórnia já despontam como principais mercados, mas ainda é cedo para falar em lojas próprias “apesar do desempenho 70% acima do esperado” para os primeiros meses.

“Acredito que em dois anos os EUA deverá ser um mercado bem relevante para nós”, aponta o CEO. Hoje, 15% do faturamento global da startup já vem do exterior. A perspectiva é que entre 12 e 18 meses essa percentagem cresça 5%.

No fim de 2022, a empresa lançou o primeiro produto feito de forma colaborativa com uma personalidade. No caso, o muralista paulista Eduardo Kobra, um dos mais famosos grafiteiros do mundo. Aderindo a estratégia de colabs com edição limitada de outras marcas como no  Adidas com Pharell Williams e Rita Ora, Nike com Virgil Abloh e Puma com a artista plástica Sue Tsai e Dua Lipa.

A parceria com Kobra, que demandou dois anos de desenvolvimento - e investimento de R$ 2 milhões -, segue o mesmo padrão de design genderless (moda sem gênero) e minimalista que define a marca, mas traz no solado transparente uma obra exclusiva do artista.

Em tiragem limitada de quatro mil pares (a R$ 699), com parte dos lucros revertido ao Instituto Kobra, que apoia crianças, adolescentes, jovens e adultos a ingressarem no mundo das artes, a edição teve 75% de seu estoque comprado apenas em dezembro.

Grande diferencial e responsável pelo sucesso inicial da marca, a linha Yuool Tênis, com certificado de sustentabilidade de ponta a ponta, hoje representa 31% das vendas. Divide o protagonismo com o Yuool Fit (50,80%), produzido com tecido composto por algodão orgânico garrafa PET reciclada e rastreada e solado de grafeno, Yuool Home (11%) e o recém-lançado Yuool Slide (5,6%), a versão de sandália de praia da marca. O desafio, agora, será vender esse discurso aos europeus.