O Itaú apresentou um algoritmo para leitura de atas de bancos centrais. Seis especialistas, que representam a mesa quantitativa da Tesouraria, pesquisa macroeconômica e engenharia de dados, respondem pelo trabalho cuja aplicação para o Brasil indica que o ciclo de aperto monetário já acabou.

Para evitar interpretações subjetivas dos documentos, a instituição decidiu utilizar algoritmos de Natural Language Processing (NLP) para mitigar viés de leitura.

Em nota, o Itaú informa que bancos centrais possuem diversos instrumentos de política monetária, passando tanto pela taxa de referência propriamente, quanto pela comunicação sobre estratégia, implementação e passos futuros, assuntos frequentemente abordados nas atas das reuniões de política monetária.

No Brasil, a instância máxima de decisão sobre taxas de juros é o Comitê de Política Monetária (Copom), onde toda a diretoria do Banco Central (BC) está representada.

O algoritmo do Itaú foi treinado e testado por sentenças contidas nas atas das reuniões do Copom entre 2016 e 2022, em momentos em que a Selic passou por corte, alta e manutenção, informa o Departamento de Pesquisa Macroeconômica, chefiado pelo ex-diretor de Política Econômica do BC, Mario Mesquita.

A modelagem do algoritmo se dá por sentenças em inglês – futuramente serão em português – classificadas como “dove” (direção de menos juros) “neutro” e “hawk” (direção de mais juros).

Entre os próximos passos de desenvolvimento da ferramenta, estão a inclusão de outros instrumentos de comunicação do BC – comunicados e discursos – e extensão de sua aplicação para a comunicação de política monetária de outros países.

O Itaú afirma que o algoritmo mostra boa capacidade preditiva para movimentos de taxas de juros, “atuando como bom previsor adicional para expectativas sobre próximos passos de política monetária”.

O algoritmo identificou sinais de desaceleração compatível com o fim do atual ciclo de aperto monetário que levou a Selic a 13,75% ao ano – sinal interpretado como indicação de fim do ciclo.

As atas foram analisadas no período de 2016 e 2022. E, entre 2017 e meados de 2020, o indicador se manteve em terreno majoritariamente “dove”, o que foi compatível com corte da Selic para 6,5% e posterior ciclo de baixa de juros até 2%, no contexto da pandemia e dos estímulos monetários adotados como resposta.

Desde setembro de 2020, informa o Itaú, o indicador passou a apontar comunicação mais “hawk” do BC, observada conjuntamente com a alta da inflação corrente e antecipando o ciclo de aperto monetário que começaria no primeiro trimestre de 2021.

Na margem, o indicador mostra sinais de desaceleração, resultado que está em linha com a expectativa do Itaú quanto ao fim do ciclo atual de alta de juros em 13,75%.

O Itaú prevê o fim do aumento da Selic com o Copom passando a observar os efeitos defasados da política monetária, especialmente em contexto de sincronia no aperto de juros entre as principais economias, e em meio a sinais de queda nos preços de commodities e desinflação de bens.