Desde que foi criada, em 2018, pela advogada Patrícia Camargo e a empresária Luciana Navarro, a empresa de cosméticos sustentáveis Care Natural Beauty trabalha no local, com o olhar atento ao mercado global.
Ao optar desenvolver produtos sem as toxinas listadas nos órgão reguladores dos Estados Unidos e Europa, e priorizar ativos amazônicos que atraiam a atenção do público internacional, a beautytech conseguiu uma vaga no programa de aceleração da Sephora, no Vale do Silício, logo no primeiro ano, deixando mais de 12 mil empresas latinas para trás.
Agora, a Care que cresceu no boca a boca, mas de forma acelerada, se prepara para mais um salto com a entrada de R$ 7 milhões Order Venture Capital, gestora do Paraná. O plano é chegar a R$ 200 milhões de faturamento em cinco anos, sendo 20% deste resultado vindo do mercado internacional com o início das exportações previsto para o próximo ano.
A expectativa é fechar 2022 com faturamento de R$ 25 milhões, impulsionado pelos investimentos em marketing digital, expansão do portfólio e abertura de novos canais de venda. “Estamos no processo de aprovação das formulações na Europa e Estados Unidos. A aceleração da Sephora nos deu projeção internacional e já temos demanda por nossos produtos lá fora com a valorização da biotecnologia com ativos da Amazônia”, diz Patrícia.
A estratégia começa pela Europa com a venda tanto no digital, quanto em lojas físicas. "Com a obtenção dos registros, vamos vender pelo nosso site e também por marketplaces internacionais, como Farfetch e Sephora, e focar em lojas de cosméticos específicas no Le Bon Marche e La Samaritaine", diz Patrícia.
Com os holofotes e o crescente engajamento das consumidoras, a Care atraiu este ano a atenção da Order em meio ao efervescente mercado de produtos “clean beauty”, que só no Brasil conta com dezenas de concorrentes, alguns de peso como as marcas Simple Organic, do grupo Hypera Farma, e Intua, recém-lançada pela Herbarium.
“Além de ser uma marca bem posicionada, com bons produtos e pegada digital, é uma empresa muito nova, mas já com taxa de crescimento de receita acima de 100% por ano e Ebitda positivo”, avalia Fabrizio Roccia, managing partner da investidora, que já tem no portfólio outras empresas de bens de consumo como WAP, La Guapa, Enova Foods e Freso Brinquedos.
O valor do aporte correspondente a 10% da empresa e pode chegar a R$ 14 milhões dependendo do desempenho nos próximos cinco anos. Período no qual o processo de exportação já deverá estar respondendo por 20% do faturamento. Com possibilidade de, no longo prazo, inverter essa proporção frente ao mercado nacional, tendo em vista o amadurecimento do público consumidor e o próprio câmbio.
Nas formulações da Care não entram toxinas e ativos prejudiciais à saúde – tais como parabenos, petrolatos, metais pesados e outros disruptores endócrinos – para que ela se posicione como uma “high clean beauty”. E usa de ativos amazônicos, como o açaí e o pracaxi, com a preocupação em entregar produtos com alta performance comprovada, fabricados de forma responsável e com matéria-prima 100% orgânica e rastreável.
Para escalar a produção sem depender da escassez dos ativos naturais a dupla aposta na inovação e na biotecnologia. “Entendemos que esse é o futuro. Não é porque é natural que faz bem. E não é porque é sintético que é ruim. A falta de informação e regulamentação no Brasil ajuda a confundir”, desmistifica Patrícia.
Em abril, a empresa lançou seu primeiro neurocosmético, o Beauty Night Oil (R$ 249), sérum de tratamento facial noturno com ativos estimulantes para a produção de beta-endorfina, neurotransmissor que atua na pele e traz sensação de bem-estar e tem propriedade anti-estresse, uma nova tendência no mercado internacional.
O mercado de clean beauty movimenta US$ 19 bilhões segundo a empresa americana de pesquisa NPG Group, resultado que mais do que dobrou de tamanho nos últimos cinco anos. E, de acordo com projeções da consultoria Statista, o mercado global de cuidados pessoais e cosméticos orgânicos e naturais, pode chegar a US$ 54,5 bilhões até 2027.
Para Roccia, um dos grandes diferenciais da Care para se destacar nesse mar é a própria história das empreendedoras. Vinda de uma multinacional da área, Patrícia se espantava ao ter acesso a informações sigilosas sobre reações alérgicas causadas pelo uso de toxinas nas formulações.
Enquanto Luciana, num processo de quimioterapia e sem abrir mão do autocuidado, foi obrigada a descobrir a importância de se “alimentar de forma saudável também pela pele”, evitando cosméticos tradicionais por terem várias substâncias não recomendadas justamente pela toxidade.
“Ainda há espaço no mercado para empresas com alma e propósito. É uma questão de quem conta a melhor história e comunica os diferenciais dos produtos de forma mais clara”, pontua o sócio-investidor.
Há 15 dias, a Care deu início à primeira experiência em uma rede de varejo físico ao levar parte dos 40 SKUs disponíveis para as gôndolas da Drogaria Iguatemi, em São Paulo. E conversas com distribuidores farmacêuticos também já foram iniciadas.
“Hoje em dia você precisa estar bem posicionado em todos os canais para pegar a compra, mas a conquista do cliente é feita online. É ali que você vai identificar tendências, fazer sua imagem, contar sua história de forma clara, gerar conteúdo relevante, conhecer melhor seu público”, explica Roccia.
“Entendemos que o investimento vai ajudar muito na expansão para o físico, mas podemos aportar mais do que isso com nosso know how de crescimento no mundo digital obtido, principalmente, com outras marcas do nosso portifólio”, complementa o representante da Order.
A primeira medida tomada pela Care nesse sentido foi a migração do site, que responde por mais de 90% da receita, para uma nova plataforma que possibilitasse a coleta e análise de dados sobre a jornada de compras e ajudasse a impulsionar as estratégias de SEO. “Sempre tivemos um crescimento muito orgânico, no boca a boca. Agora, 70% do aporte será usado para crescer no marketing digital”, explica a advogada.
A marca ainda está presente no marketplace da Sephora, Amazon e Época Cosméticos, parceria a ser iniciada este mês. A expansão no físico ainda passa por um projeto piloto para entrar nas lojas da Sephora e só no próximo ano passar a gerenciar espaços próprios nas principais capitais “para transmitir a experiência da marca”, conta Patrícia. O plano é que em cinco anos as lojas físicas representem de 30% a 40% da receita.
Hoje, os principais mercados da marca são São Paulo, onde estão concentradas 40% das vendas com tíquete médio de R$ 280, seguido de Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. Mas as empreendedoras querem chegar em breve às principais capitais brasileiras onde há grande potencial, principalmente entre o público feminino “curioso, não ativista” das classes A e B, entre 35 e 45 anos, que já representa entre 70% e 80% das consumidoras.