O escritor, empreendedor e professor da Stern School of Business da Universidade de Nova York, Scott Galloway, não tem papas na língua. Muito menos medo de fazer previsões. Mesmo que estejam erradas.
No ano passado, Galloway, que é um dos gurus do Vale do Silício, cravou que a Uber ia deixar o setor de entregas de comida. A pandemia do novo coronavírus fez com que a Uber não só não deixasse, como a área se tornou a tábua de salvação do aplicativo de transporte.
Em julho deste ano, a Uber comprou a Postmates por US$ 2,7 bilhões para unir ao Uber Eats e reforçar sua briga contra a DoorDash nos EUA.
Por outro lado, Galloway previu que o Airbnb seria mais valioso do que a Uber no fim de 2020. Hoje, a Uber vale US$ 91 bilhões e o Airbnb, US$ 92,5 bilhões – e ele acha que as ações do site de hospedagem estão baratas.
Outro acerto de Galloway foi o fracasso do Quibi, o serviço de streaming de celulares fundado por Jeff Katzenberg, ex-presidente da Disney e da DreamWorks, que recebeu US$ 1,75 bilhão de investidores. Para o guru do Vale do Silício, o Quibi seria o pior “unicórnio” do ano. Seis meses após estrear, o serviço faliu.
Em meados de dezembro, Galloway resolveu mais uma vez colocar a sua bola de cristal para funcionar. Em uma transmissão online fechada, na qual o NeoFeed teve acesso, o guru do Vale do Silício fez suas previsões nada ortodoxas sobre o que vai acontecer no mundo de negócios em 2021.
O NeoFeed selecionou algumas delas. Confira:
1 – A Apple vai comprar a Peloton
A Peloton, que faz bicicletas ergométricas tecnológicas, é uma das grandes beneficiadas da crise sanitária e econômica do novo coronavírus.
Com as pessoas em casa por conta do isolamento social, as academias de ginásticas migraram para as residências. E isso ajudou a Peloton, cujas ações valorizaram-se 228,9% em 2020.
Do ponto de vista financeiro, não seria uma compra barata para a Apple. A Peloton vale US$ 44,9 bilhões na Nasdaq. Um prêmio de 20% aos acionistas da empresa, elevaria o preço da aquisição para mais de US$ 50 bilhões.
“A Apple tem capital para isso”, disse Galloway. A companhia comandada por Tim Cook conta com aproximadamente US$ 90 bilhões para gastar no curto prazo, além de valer US$ 2,3 trilhões – ações podem ser usadas no negócio.
O motivo para a aquisição, na visão de Galloway, tem a ver com o que ele chama de economia de atenção, que significa o tempo em que as pessoas gastam usando um produto ou um serviço. Hoje, um dono de iPhone passa, em média, 48 dias por ano usando o smartphone. No caso da Peloton, são 16 dias. Nada mal: quando somados, são 64 dias por ano.
2 – Bitcoin vai atingir US$ 50 mil
A moeda virtual bitcoin foi uma das grandes sensações de 2020. Ela começou o ano cotada a US$ 7.117,55 e está terminando acima de US$ 27 mil, uma valorização de 276%.
Segundo Galloway, a soma de todos os bitcoins que existem no mercado vale US$ 395 bilhões, quase o mesmo valor da Johnson & Johnson (US$ 403 bilhões). E o guru do Vale do Silício acredita que pode chegar a US$ 1 trilhão em um curto espaço de tempo.
Se as previsões de Galloway estiverem corretas, o valor do bitcoin vai quase dobrar em 2021, prosseguindo sua acelerada alta depois que diversos investidores institucionais passaram a apostar na moeda virtual.
Só neste ano, PayPal e Square anunciaram que passariam a aceitar as criptomoedas em suas plataformas de pagamentos, trilhando o mesmo caminho do aplicativo de investimentos Robinhood.
Investidores respeitados em Wall Street, como Paul Tudor Jones II, da gestora Tudor Investment Corporation, que tem mais de US$ 9 bilhões de ativos sob gestão, passaram também a atuar no segmento de moedas digitais. Outro exemplo é Stanley Druckenmiller, fundador da Duquesne Capital, que também entrou para o jogo dos criptoativos.
Além disso, a corretora Coinbase, que é a maior plataforma de moedas virtuais dos EUA, planeja abrir o capital em 2021, em mais um passo para dar credibilidade para a comercialização desses criptoativos.
3 – O renascimento dos coworking
A pandemia do novo coronavírus obrigou milhões de trabalhadores a deixar os escritórios para trabalhar de casa.
Muitas empresas não fizeram ainda seus empregados retornarem aos escritórios. Quando isso acontecer, muitas vão ser flexíveis, deixando os funcionários trabalharem parte da semana de suas casas e outra parte do escritório.
Na visão de Galloway, que sempre foi um crítico do modelo do WeWork (a startup tentou abrir o capital, não conseguiu e quase foi à falência), isso deve favorecer os coworkings.
4 – O Airbnb será maior do que a cinco maiores cadeias de hotel do mundo e sua ação valerá US$ 200
Não há dúvida de que Galloway é um dos principais defensores do modelo de negócios do Airbnb. Ele já chegou a escrever sobre isso em seu blog, defendendo o site de hospedagem fundado por Brian Chesky, Joe Gebbia e Nathan Blecharczyk.
Na visão do guru do Vale do Silício, o Airbnb já tem 7 milhões de acomodações para alugar, mais do que Hyatt, Wyndham, InterContinental, Hilton e Marriott somados, que contam com 4,3 milhões de quartos.
Além disso, o Airbnb conta com 19% de sua força de trabalho de engenheiros e de profissionais de tecnologia – atrás apenas de Netflix e Google nessa métrica. Tudo isso leva Galloway a crer que a companhia seja “a marca mais forte da história da indústria de hospitalidade.”
Atualmente, as ações do Airbnb estão cotadas a US$ 154. Ele acredita que chegarão a US$ 200. Se atingir o valor previsto por Galloway, os papéis se valorizarão quase 30%. O valor de mercado atingiria quase US$ 120 bilhões.
5 – Zoom fará uma grande aquisição ou uma fusão
O aplicativo de videoconferência Zoom se tornou um item essencial durante a pandemia. "Fazer um zoom” virou um termo comum no meio corporativo, com as pessoas pulando de uma reunião virtual para outra durante o horário comercial – e além dele.
Com isso, as ações da companhia fundada por Eric Yuan saltaram 387% em 2020 – a companhia vale, atualmente, US$ 100 bilhões. Mas não pensem que Galloway está otimista. Ao contrário. Ele não se diz “bullish” em relação ao Zoom e chamou a empresa de a “AOL de 2021”.
Para colocar em contexto: a AOL foi pioneira na área de internet, se fundiu com a Time Warner nos anos 2000, em uma megafusão estimada em US$ 163 bilhões em troca de ações e que criaria uma empresa avaliada em US$ 350 bilhões. E a transação foi um dos maiores fracassos da era pontocom.
A visão de Galloway sobre o Zoom é parecida. Ele acredita que a companhia pode se unir a uma empresa de telefonia e que essa fusão seria um desastre.
O motivo é simples: o Zoom não tem uma oferta tão abrangente como Google e Microsoft, que contam com ferramentas semelhantes de videoconferência e oferecem outros serviços agregados aos seus usuários corporativos.
Apesar dessa previsão pessimista, Galloway acredita que a união do Zoom com o WhatsApp seria bastante interessante. Mas isso só aconteceria em dois anos ou três anos – e dependeria do processo antitruste que o Facebook enfrenta nos EUA, que pode acabar com a decisão de a companhia separar o Instagram e o WhatsApp.
Nesse caso, Galloway é claro. Ele acredita que as partes – Facebook, Instagram e WhatsApp – valem muito mais separadas do que unidas.