Em meio a valuations extremamente atrativos no segmento de shopping centers da América Latina, os analistas do BTG Pactual têm preferido fazer suas “compras” no Chile aos do Brasil.

O motivo para essa predileção vem de um tema que promete ocupar as manchetes dos cadernos e sites de economia: a piora da situação macroeconômica brasileira, diante da falta de catalisadores de curto prazo no setor.

“Com o menor crescimento vindo da adição de área bruta locável (menos projetos greenfield em construção, enquanto os M&As e as expansões são menos relevantes) e os aluguéis nas mesmas propriedades crescendo num ritmo menor (baixa inflação e recuperação menor do consumo em alguns países), avaliamos que o cenário macro deve ser o principal gatilho para as ações (mais especificamente, os juros e as vendas do varejo)”, diz trecho do relatório assinado por Gustavo Cambauva e Elvis Credendio.

Enquanto o Brasil começa o ano com as expectativas de inflação em franca ascensão – com as estimativas para o IPCA de 2025 avançando pela 18ª semana consecutiva no Relatório Focus – e com a previsão de que a Selic termine em 15% ao ano, o Chile tem mostrado um cenário oposto.

Os analistas do BTG Pactual dizem que os juros chilenos vêm sendo cortados de forma consistente, as vendas do varejo devem se recuperar neste ano e o país apresenta um cenário político mais estável.

“A confiança do consumidor no Chile apresenta uma tendência positiva há dois anos, ainda que em níveis baixos, o que significa espaço para melhorar”, diz trecho do relatório.

O cenário macro acaba ofuscando o bom momento dos shoppings brasileiros, segundo os analistas do BTG Pactual. Eles destacam que vendas “mesmas lojas” (variação entre as vendas em uma mesma operação no período versus no ano anterior) e aluguel “mesmas lojas” (variação entre o aluguel faturado para uma mesma operação no período versus no ano anterior) estão em patamares robustos nos últimos anos.

“Com as vendas crescendo fortemente e os aluguéis ‘sob controle’ (com a inflação baixa, especialmente no Brasil, o IGP é próximo de zero), as empresas conseguiram manter sob controle os custos de ocupação (em patamares semelhantes aos níveis históricos) e a taxa de ocupação é bastante alta (já que a demanda por espaço dos varejistas é robusta), o que significa que os shoppings continuam sendo um negócio robusto e defensivo (sem impacto do comércio eletrônico, por exemplo)”, diz trecho do relatório.

Neste cenário, quando olham para o Brasil, os analistas do BTG Pactual possuem predileção pelas ações da Multiplan. Com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 28, a companhia apresenta uma boa alocação de capital, que foi evidenciada pelo acordo com o Ontario Teachers Pension Plan (OTPP) para o desembarque do fundo de pensão canadense, em setembro do ano passado.

O relatório destaca ainda que a Multiplan possui um portfólio premium e dominante nas regiões em que atua, capaz de aguentar a piora da economia local, além de um valuation considerado bastante atrativo – o múltiplo P/FFO (que compara o valor de mercado da empresa com o fluxo de caixa operacional) está em 10,5 vezes para 2025.

Por volta das 11h40, as ações MULT3, da Multiplan, caíam 0,26%, a R$ 23,12. Em 12 meses, os papéis acumulam queda de 10,46%, levando o valor de mercado a R$ 12 bilhões.