A Caixa Seguridade concluiu o follow-on de suas ações no fim de março e movimentou R$ 1,2 bilhão. Por trás dessa oferta secundária na bolsa de valores, está um trabalho de dois anos da empresa de seguros da Caixa para se tornar mais conhecida pelos investidores — principalmente os institucionais.
Desde que assumiu o comando da Caixa Seguridade, em março de 2023, Felipe Mattos entendeu que, para a companhia crescer, algo precisava mudar na forma como ela se apresentava ao mercado de capitais.
“Éramos muito tímidos. Sabemos que temos um case de sucesso e que a decisão vai ser favorável para o nosso negócio”, diz Mattos, que é presidente da Caixa Seguridade, em entrevista ao NeoFeed.
O primeiro passo dado por ele foi intensificar a presença da equipe de relações com investidores em eventos do mercado financeiro. As dez presenças em 2022 se transformaram em 26 em 2024. O número de interações com potenciais investidores também aumentou, somando 129 reuniões formais e 196 conversas com analistas somente no ano passado.
Gastando a sola de sapato e colocando em prática o chamado “face to face”, a Caixa Seguridade descobriu que são necessárias quatro conversas com um mesmo investidor até que ele decida “comprar” a tese da empresa.
“Na primeira, ele vai conhecer o negócio. Na segunda, reconhece que é uma história interessante. Na terceira, monta o modelo do negócio. E, na quarta, acerta os detalhes para investir”, afirma o presidente, que diz não fazer distinção entre um fundo pequeno e outro de grande porte.
Os números comprovam essa evolução. O total de investidores institucionais saltou de 1.378 em 2022 para 2.067 em 2024, um crescimento de 50%. Real Investor Asset Management, Petros, Trígono Capital e Morgan Stanley são exemplos de gestoras que tinham posição zerada no fim de 2022 e decidiram aportar na companhia, de acordo com levantamento da Elos Ayta Consultoria.
Depois do follow-on, a Caixa Seguridade incrementou mais essa base em 34%, aumentando sua base para 2.776 institucionais — a informação dos novos entrantes ainda não é pública. Com isso, o número de investidores institucionais dobrou desde 2022.
O NeoFeed conversou com três gestores comprados na ação da Caixa. Sob condição de anonimato, eles disseram que a decisão de investimento na companhia passou pela demonstração da boa capacidade de reinvestir o caixa e da gestão, mas também as portas abertas na relação com os investidores “contou muitos pontos”.
“Terminamos todas as conversas dizendo ‘estamos à disposição. Nos procure em caso de dúvida’, independente de qual perfil de investidor seja. Da mesma forma que um cliente precisa conhecer seu gerente de banco, o investidor precisa olhar na cara para confiar, ver se a gente está falando a verdade ou mentindo”, diz Mattos.
Entre os acionistas estrangeiros, há desde fundos de pensão até o governo da Suécia. Nesse caso, o convencimento é mais demorado. Além da barreira cambial, é preciso superar e compreender as diferenças dos negócios desse setor aqui e no exterior.
Enquanto as seguradoras de fora trabalham com resultado financeiro, na Caixa Seguridade isso representa só 30% do resultado. A maior parte é proveniente do braço operacional, ou seja, da própria venda de seguros.
Por esse motivo, Mattos fez um trabalho de aproximação com os analistas. A Caixa Seguridade, que tinha uma cobertura de apenas cinco casas desde o IPO, hoje conta com 14 coberturas.
A companhia deixa a recomendação delas atualizada no site de relação com investidores, com o preço-alvo e a última revisão da ação. Dessas, 11 recomendam compra para a ação CXSE3, e três estão com posição neutra.
No início de abril, o BTG Pactual mudou sua recomendação de neutra para compra, destacando a previsibilidade e resiliência do modelo de negócios da empresa. O preço-alvo foi mantido em R$ 19 (o mesmo do Santander e só abaixo dos R$ 21 de XP). A instituição apontou que o valor considera potencial de valorização de 26% e retorno total estimado de 35% com dividendos para o fim de 2025.
Na direção contrária, o Citi rebaixou a recomendação para neutra devido ao cenário macroeconômico. Mesmo assim, a instituição acredita que a ação da Caixa Seguridade merece um prêmio em relação à BB Seguridade devido à menor volatilidade dos lucros e à ausência de preocupações com a renovação do contrato de distribuição. O preço-alvo para a ação é de R$ 15,50, pouco acima do HSBC (R$ 15) e ligeiramente abaixo do Goldman Sachs (R$ 16) que têm a mesma recomendação para o papel.
Cotada a R$ 15,60 no fechamento dessa quarta-feira, 16 de abril, a ação da Caixa Seguridade estreou na bolsa em 2021 a R$ 9,67. Pouco antes de Mattos assumir, o papel chegou a ser negociado a R$ 6,97. Desde então, o valor da ação mais que dobrou e a companhia está avaliada em R$ 46,8 bilhões. Neste ano, suas ações sobem 8,18%.
A estratégia para impulsionar a cotação foi contratar um formador de mercado — no caso o Credit Suisse. Com isso, o volume de negociação saiu de cerca de R$ 20 milhões em 2022 para mais de R$ 65 milhões por dia em 2024. Neste ano, está pouco acima de R$ 100 milhões.
A ação também passou a fazer parte de indicadores importantes de mercado, como o IBrX 100, em outubro de 2023, e entrou para a carteira teórica do Ibovespa desde setembro de 2024 — o follow-on tinha como objetivo atingir o percentual mínimo de 20% de papéis em livre circulação exigido pelas regras do Novo Mercado.
No evento, Mattos deixou escapar o desejo de levar as ações para o exterior. Mas, questionado pelo NeoFeed, fez questão de ratificar que não há nenhum plano concreto nesse sentido e que, apesar de ser um sonho pessoal, a ideia não é sequer cogitada pelo restante da equipe.