A tributação dos fundos exclusivos impulsionou as soluções de investimento via carteira administrada. No BTG Pactual, o total sob gestão das carteiras administradas quintuplicou em 12 meses e ultrapassou R$ 10 bilhões, ou cerca de 10% do total gerido pelo time de portfólio solutions. E o ritmo de adesão continua em aceleração.
A indústria de wealth management estava acostumada a gerir os recursos com fundos exclusivos que, com o poder do diferimento fiscal, tornavam-se instrumentos imbatíveis para investir e garantir um planejamento sucessório. Mas desde a instituição dos come-cotas, o benefício fiscal acabou. E os gestores tiveram que rever as estruturas de gestão para buscar eficiência tributária.
Com alocação via carteiras administradas para pessoas físicas desde 2017, o BTG percebeu o potencial desse produto e lançou a carteira multiclasses. Se antes o foco era a alocação em títulos isentos, agora ele engloba todo o portfólio do cliente.
“Lançamos na virada do ano, dada a mudança tributária, uma evolução da tradicional carteira administrada para combinar os ativos tributados e não tributados para o cliente”, diz Rafael Mazzer, sócio e head de portfólio solutions Brasil, em entrevista ao NeoFeed. “Vimos uma demanda enorme dos nossos clientes ultra high como também dos nossos parceiros, escritórios de assessoria de investimentos.”
O Portfólio Solutions do BTG detém cerca de R$ 115 bilhões sob gestão e viu as carteiras administradas ganharem corpo e espaço no portfólio, enquanto os fundos exclusivos encolheram.
O desafio dessa operação é dar a mesma experiência que o cliente tinha com o fundo exclusivo, acompanhando a rentabilidade total e as movimentações na carteira. Com a vantagem da não cobrança de taxas de administração e da CVM, ao contrário dos fundos.
O que ajudou o BTG a acelerar esse processo foi a tecnologia. Além de investimentos internos, o banco comprou a Magnetis no ano passado, que já possuía um sistema avançado de carteira administrada de fundos, permitiu ao banco escalar essa produção, enquanto os concorrentes ainda estão fazendo de forma mais customizada.
Se antes as carteiras individuais eram viabilizadas com um mínimo de R$ 5 milhões, agora já é possível fazer, em cerca de 30 minutos, para clientes com tíquete mínimo de R$ 500 mil.
“Muitos multi family offices fazem isso de forma customizada. Agora estamos conseguindo fazer isso com escala, atendendo tanto o nosso cliente B2C como as assessorias. Queremos dar todo o suporte técnico para eles crescerem nessa nova tendência do mercado”, afirma Luciano Juaçaba, sócio e gestor do time de Portfólio Solutions.
Há um elemento que dá força a essa tendência de mercado entre as assessorias de investimento: o regulatório. A CVM 175, que atualizou as normas para os fundos, colocou mais responsabilidade para os gestores de uma forma geral, tornando mais complexo as assessorias terem a sua gestora de patrimônio e fundos exclusivos para os seus clientes.
Além disso, em novembro entrará em vigor as novas regras que trarão mais transparência às receitas comissionadas das assessorias de investimento - a CVM 179. O resultado é a crescente tendência para o fee recorrente E a carteira administrada como melhor instrumento para consolidação de posições e para uma gestão mais discricionária.
“Na Europa houve essa mudança para uma gestão mais discricionária e acreditamos que isso ocorrerá aqui. Isso exige mais investimentos para fazer gestão. Se você quiser ter tudo, fica caro. Nos colocamos como um hub de serviço com tecnologia e um time de mais de 40 pessoas para ser usado para facilitar a vida dos nossos clientes B2B”, diz Mazzer.
Nesse modelo de gestão, a carteira administrada, e assim a gestão dos investimentos, fica com o time de portfólio solutions em um mandato discricionário, avaliado de acordo com o perfil de risco e objetivo do cliente pelo banker, o relacionamento do cliente.
A tendência é de crescimento, com a possibilidade de tudo ficar pendurado embaixo dessa estrutura no médio prazo - até mesmo os fundos exclusivos, que continuam existindo como instrumento importante de sucessão e para parte das alocações.
“Imaginávamos que a reestruturação dos fundos fechados ia ser mais rápida, mas muitos clientes ainda estão analisando”, diz Juaçaba.
“Mas agora vendo como funciona o outro sistema e suas vantagens, acredito que é um caminho sem volta. E a tendência é que tudo passe a ser gerido em carteiras administradas”, completa o diretor executivo do BTG Pactual Wealth Management.