O ano de 2024 começou com a expectativa de volta da alocação para ativos de risco após um ano em que o CDI reinou. Mas apesar da taxa Selic ter caído de 11,75% para 10,50% ao ano, o clima de otimismo passou rápido e as incertezas sobre as taxas futuras de juros no Brasil e no exterior estão influenciando os portfólios das grandes fortunas.

Na Portofino Multi Family Office, com cerca de R$ 26 bilhões sob gestão, a renda fixa continua como a estrela do portfólio, mas é preciso olhar com calma onde estão as oportunidades.

“Em um portfólio de risco moderado, estamos colocando de 50% a 60% em renda fixa. Mas é importante qualificar. Prefixado e juros reais estamos menos alocados, porque são ativos que estão muito sensíveis a indefinição de juros”, afirma Eduardo Castro, CIO da Portofino Multi Family Office, em entrevista ao Wealth Point, do NeoFeed.

O family office está privilegiando o crédito privado na sua carteira, em especial o estruturado, como os FIDCs, em uma visão de que há bastante prêmio a se capturar. Mas é preciso atenção ao mercado de títulos incentivados, que tem sido ainda mais procurados após o fim do diferimento fiscal dos fundos exclusivos.

Após a restrição dos lastros para as Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI/LCA) e para os Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRI/CRA) esses papéis tiveram uma mudança de precificação, assim como as debêntures incentivadas, que virou uma opção óbvia com o cardápio mais restrito. A grande demanda para a menor oferta tem levado a um risco de crédito mal avaliados com spreads que não condizem com a realidade.

“O mercado de debêntures incentivadas ficou disfuncional, e é preciso cuidado. Você está correndo risco de mercado, que é o risco da variação da taxa de juros futura e você está correndo risco de crédito. Nós não gostamos de crédito sem garantias e nesse caso específico estamos sendo ainda mais prudentes”, explica Castro.

Enquanto todos procuram os títulos isentos a qualquer custo, a bolsa de valores continua esquecida. Apesar de concordar que está barata, Castro não vê fundamentos econômicos para ela melhorar ainda e o pior, não vê um fluxo de investimento que leve a valorização. E, por isso, continua subalocado.

“Não adianta estar barato se ninguém quer comprar. Falta fluxo. E a bolsa no Brasil depende de três investidores. O estrangeiro, que tem melhores oportunidades no exterior, o institucional, que prefere ficar com uma NTN-B+5,5%, e a pessoa física, que se machucou com a bolsa e que não quer perder o custo de oportunidade do CDI. Então, apesar de concordar com o mercado que a bolsa está barata, a gente ainda acha que não é a hora de aumentar a alocação”.

Quem também está com menos espaço na carteira são os fundos multimercados, que podem investir em qualquer mercado para bater o CDI, mas tem decepcionado. A Portofino revisitou essa alocação e a reduziu por entender que a indústria além de não performar está passando por dois problemas estruturais: cresceram muito em um mercado que não cresceu (Brasil) e não conseguem resultados em mercados sem tendência, como o de agora.

No fim das contas, o mercado financeiro este ano exige cautela e a renda fixa ainda é a estrela da vez de novo no Brasil.