Ao lado dos canais digitais, as marcas próprias da Panvel se tornaram um case do varejo farmacêutico e ajudaram a rede gaúcha a colocar seu nome entre os principais players no mapa brasileiro do setor. E após conquistar esse espaço, a empresa quer ampliar sua presença nessa prateleira.

Dono ainda da Dimed Distribuidora e do laboratório Lifar, a empresa prepara o lançamento de uma marca própria de medicamentos. E vai recorrer às suas origens como ponto de partida para estrear nesse segmento.

Como a legislação brasileira não permite que as farmácias usem suas marcas nessa categoria, a companhia vai resgatar a bandeira da Velgos para explorar a nova fronteira. Esse era o nome da rede que, em 1973, se fundiu com a também gaúcha Panitz, criando o Grupo Panvel.

“Nós encontramos uma solução criativa para essa limitação”, diz Julio Mottin Neto, CEO da Panvel, em entrevista ao NeoFeed. “A Velgos, que deixou de existir há 52 anos, volta agora para assinar a nossa marca de medicamentos.”

Com lançamento previsto para o segundo semestre de 2025, a nova marca vai apostar na categoria de OTC (medicamentos sem prescrição), com itens de baixa complexidade. Parte deles, inclusive, já foi fabricada pelo próprio Lifar no passado, para outras empresas. Agora, essas linhas serão terceirizadas.

“Já temos muitos produtos em marcas próprias e exclusivas, que são um diferencial grande da Panvel”, afirma Antonio Napp, CFO do grupo. “Com esse projeto, nosso plano é aprofundar um pouco mais essa liderança.”

A nova empreitada vai reforçar o portfólio próprio da empresa que conta atualmente com mais de mil produtos, distribuídos em categorias como maquiagem, proteção solar, ortopédicos e cuidados masculinos.

Nos números mais recentes da operação, divulgados nesta quinta-feira, 27 de março, as marcas exclusivas do grupo – Panvel, Lifar, Sanitas e Viva – alcançaram uma participação de 7,7% nas vendas totais da rede no varejo em 2024, que, por sua vez, somaram R$ 5,1 bilhões, um salto anual de 15,7%.

Há outras frentes no balcão da Panvel para 2025. Entre elas, a área de tecnologia, que concentrou cerca de R$ 30 milhões em investimentos em 2024. Nesse espaço, avançar com iniciativas de inteligência artificial é um dos focos. Mas com uma pegada diferente da onda de adoção propagada no mercado.

“A pior coisa para uma empresa é colocar a inteligência artificial em tudo”, diz Mottin Neto. “Para fazer diferença com essa tecnologia, é preciso fazer bem feito. E com poucas escolhas.”

Com esse direcionamento, a Panvel elegeu escalar alguns projetos-piloto nesse ano. Além do uso da IA no atendimento e como uma ferramenta de assistência para os atendentes nas lojas, o grupo está adotando esses recursos para previsibilidade de vendas, gestão de estoques e de preços.

“Em pricing, nós conseguimos acompanhar, inclusive, os descontos que os concorrentes estão concedendo, por meio das notas fiscais eletrônicas, que são dados públicos”, diz o CEO. “Então, estamos embarcando IA e testando a elasticidade dos preços.”

Ainda em tecnologia, a companhia está investindo em ferramentas como um novo CRM (sistema de gestão de relacionamento com clientes) para avançar na fidelização dos clientes, especialmente entre os pacientes de medicamentos de uso contínuo e de doenças crônicas.

“Temos um aquário rico e grande para trabalhar e ativar, com 25 milhões de clientes cadastrados e mais de 6 milhões ativos”, afirma Napp. “Dentro desse universo, mais de 1 milhão de clientes já fazem compras conosco a cada 15 dias.”

Ano da colheita

Já no que diz respeito à expansão física, o plano é seguir o ritmo de aberturas dos últimos anos, com uma média de 55 a 60 unidades. Essa manutenção se explica pelo cenário macroeconômico e pelos impactos trazidos pelas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no segundo trimestre de 2024.

“No Brasil cabem dois tipos de empresa – a conservadora e a quebrada. Por isso, vamos manter a nossa disciplina”, afirma Mottin Neto. “Mas esse será o ano da colheita, o que poderia ter sido 2024, se não houvesse o segundo trimestre.”

Sob essa ótica, Napp destacou que a recuperação registrada na segunda metade do ano passado abre boas perspectivas para 2025. Assim como a maturação da safra de 276 lojas abertas pela Panvel desde o seu follow on, em 2020. A rede fechou 2024 com 631 unidades.

“Colocamos muitas unidades nesse intervalo e isso traz um pênalti de resultado no curto prazo”, diz o CFO. “Mas o desempenho das lojas já voltou aos patamares pré-expansão e, colocando tudo isso na panela, estimamos uma boa expansão de margem e lucro.”

Nos dados mais recentes da evolução dessa base, a Panvel registrou um crescimento de 14,8% nas vendas de mesmas lojas, entre outubro e dezembro de 2024. E de 12% nas vendas das lojas mais maduras, pré-expansão.

Em 2024, o grupo apurou um lucro líquido ajustado de R$ 117,4 milhões, alta de 6,8%. A receita bruta total, que compreende todos os seus negócios, foi de R$ 5,3 bilhões, o que representou um salto de 10,8% sobre 2023.

O Ebitda ajustado, por sua vez, avançou 12,9% na comparação anual, para R$ 263,1 milhões. Já a dívida líquida ficou em R$ 321,6 milhões, contra R$ 137,1 milhões em 2023. Nesse mesmo intervalo, a alavancagem subiu de 0,59 vez para 1,2 vez.

As ações da Panvel encerraram o pregão de hoje com alta de 2,14%, cotadas a R$ 8,81, praticamente no mesmo patamar do fim de 2023, de R$ 8,80, e dando ao grupo um valor de mercado de R$ 1,3 bilhão.