O tarifaço adotado pelo presidente americano Donald Trump deve acertar em cheio a indústria automotiva dos Estados Unidos e Canadá. A perspectiva é de que, com o cenário atual das cobranças, as vendas em 2025 sofram retração de 1,8 milhão de veículos, podendo ficar estagnado na próxima década.
Se o índice atual das tarifas de importações impostas pelos Estados Unidos permanecer em vigor até 2035, a perspectiva é de que as vendas anuais, em dez anos, cheguem a 17,6 milhões. Sem guerras comerciais e com possível crescimento, esse número poderia ser de 24,6 milhões.
Isso significa que, com as taxas de Trump, montadoras podem deixar de vender 7 milhões de veículos por ano, daqui a uma década. A avaliação é da consultoria automotiva Telemetry, de Detroit, segundo informou a Reuters.
As tarifas de importações de 25% sobre automóveis entraram em vigor na quinta-feira, 3 de abril. Veículos produzidos no México e Canadá estão sujeitos à taxa, mas as montadoras que cumprem os termos do Acordo-EUA-México (pacto de livre comércio entre países, que teve início em 2020, em substituição ao Nafta) podem conseguir redução nas cobranças.
A decisão de Trump tem feito com que muitas indústrias adotem mudanças nas linhas de montagens de veículos. Recentemente, a General Motors (GM) anunciou que aumentaria a produção de caminhões na fábrica de Indiana. Já a Stellantis interrompeu temporariamente a produção de caminhões Ram e Jeeps em duas fábricas no México e Canadá, afetando cinco instalações nos Estados Unidos conectadas a elas.
No sábado, 5 de abril, a Land Rover informou que vai pausar, por um mês, o envio de seus carros fabricados na Grã-Bretanha para os Estados Unidos. Os EUA são o segundo maior importador de carros fabricados no Reino Unido, depois da União Europeia, com 20% de participação.
E, para tentar minimizar o impacto do aumento dos preços no comércio americano, Ford e Stellantis começaram a oferecer planos de incentivos, com descontos, com o objetivo de evitar perder mercado nos Estados Unidos.
Em média, veículos novos custam cerca de US$ 50 mil e ainda sofrem efeito do aumento das taxas de juros de financiamentos, intensificada desde a pandemia da Covid-19.
Nesta segunda-feira, 7 de abril, a Audi, da Volkswagen, decidiu segurar em estoque seus automóveis, como uma forma de avaliar o impacto da nova tarifa para o setor. Somente nos Estados Unidos a empresa tem cerca de 37 mil veículos, o suficiente para abastecer dois meses de vendas no país.
Entre os países do bloco europeu, a Alemanha deve ser o mais impactado com as medidas de Donald Trump. Em 2024, os Estados Unidos importaram US$ 24,8 bilhões em veículos novos do país, quase metade do volume total de US$ 52,3 bilhões, enviados pela União Europeia.
Das alemãs, Porsche e Mercedes-Benz devem ser as mais afetadas, com um possível prejuízo de US$ 3,7 bilhões a partir da cobrança do novo imposto de importação.
Embora a taxa de crescimento das vendas de veículos elétricos tenha diminuído nos últimos anos, a Telemetry espera que os automóveis movidos a bateria possam representar a força de crescimento em uma década, com 40,5 milhões de veículos vendidos.
A empresa espera que os volumes no Canadá e Estados Unidos cheguem a 8,8 milhões de unidades em um cenário sem conflitos comerciais, especialmente porque opções como veículos elétricos de longo alcance se tornam mais comuns.