O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, representou, nesta sexta-feira, 25 de julho, o governo Lula no ato da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) em defesa da soberania nacional e contra as ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Graduado e mestre em direito na instituição acadêmica, Teixeira esteve com representantes de 200 instituições que apoiaram o ato na USP. Logo depois da manifestação, ele falou com o NeoFeed sobre os impactos do tarifaço no Brasil.

O ministro ainda acredita em um recuo de Trump a sete dias do início do tarifaço. “Onde eles vão encontrar carne, café, suco de laranja e aço tão baratos e bons quanto os do Brasil? Não terão substitutos desses produtos”, disse Teixeira, que acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro estão prejudicando a economia brasileira.

“É um ato de traição nacional. Eu acho que foi um ato grave e que merece, inclusive, que o filho, Eduardo, que foi para os Estados Unidos, deva ser enquadrado no crime previsto na lei em defesa da democracia de traição nacional”, afirmou Teixeira. Para ele, não tinha como o governo isolar Eduardo, dado às conexões da extrema direita no mundo.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como o senhor avalia essa ação do Trump contra o Brasil?
Essa ação do Trump contra o Brasil é uma ação política-ideológica. Ela não tem nenhuma base econômica. Até porque, se ele levar às últimas consequências, vai prejudicar a sociedade norte-americana. A economia deles têm um superavit com o Brasil. E, ao mesmo tempo, eles compram do Brasil produtos muito baratos. Onde eles vão encontrar carne tão barata e boa quanto a do Brasil? Café tão barato e bom quanto o do Brasil? Suco de laranja tão barato e bom quanto o do Brasil? E o aço? Em lugar nenhum do mundo. E não terão substitutos e também não diz respeito à finalidade que eles apresentam que é a de substituir importações. Nesse sentido, vejo que é uma grave interferência política nos assuntos internos do Brasil e que não tem precedentes, segundo os historiadores, depois da Segunda Guerra Mundial.

"Onde eles (EUA) vão encontrar carne tão barata e boa quanto a do Brasil? Café tão barato e bom quanto o do Brasil?"

É possível ainda buscar uma negociação? O senhor acredita num recuo?
Eu acredito em recuo, até porque o Trump recuou em negociações com outros países, principalmente a China. Ele aumentou as tarifas, os chineses aumentaram igualmente. Aí, negociaram e ele foi atendido nos interesses dele, mas diminuiu as tarifas. Eu ainda acredito e acho que ele trabalha com o tempo como um elemento, e o Brasil também trabalha. Nós temos uma diplomacia madura. Então, acredito em recuo.

Como o senhor avalia o papel da família Bolsonaro, do deputado Eduardo e do ex-presidente em relação ao tarifário?
Creio que a família Bolsonaro está prejudicando gravemente a economia brasileira, como nunca tinha acontecido. A família Bolsonaro foi pedir ao presidente dos Estados Unidos que aplicasse contra o Brasil tarifas comerciais altamente prejudiciais ao Brasil. É um ato de traição nacional e ao mesmo tempo prejudica muito a economia brasileira. Acredito que foi um ato grave e que merece, inclusive, o filho, Eduardo, que foi para os Estados Unidos, tem que ser enquadrado no crime previsto na lei em defesa da democracia de traição nacional.

O governo Lula não demorou para perceber a ação do Eduardo Bolsonaro? Ele poderia ter sido isolado em algum momento?
Olha, desde que Eduardo foi para os Estados Unidos sabíamos que ele ia lá para operar contra o país, para buscar apoio da família Trump para se contrapor ao processo de condenação dele no Judiciário. Foi exatamente essa ameaça do Trump, dizendo que o Judiciário brasileiro estaria, segundo Trump, tratando mal o Bolsonaro, a ponto de, inclusive, cassar o visto de vários dos ministros do STF. Então, era visto, a olhos nus, que ele iria fazer esse trabalho. Não tinha muito o que fazer, já que o Trumpismo é um movimento de extrema direita que se conecta aqui com Bolsonaro, com Milei, na Argentina, e com outros loucos do mundo inteiro.

Qual é a saída no atual cenário?
É esperar. É negociar. É afastar os aspectos políticos e negociar os interesses brasileiros e os norte-americanos. E, nesses interesses, os Estados Unidos terão mais a perder do que o Brasil.

Como o senhor avalia as iniciativas de governadores em buscar alternativas para as empresas estaduais, independentemente de uma ação conjunta com o governo federal?
Acredito que são medidas de propaganda no cenário político. São governadores que estão tentando se desassociar do Bolsonarismo e muito ligados ao Bolsonarismo e ao Trumpismo. Eles estão tomando medidas que seriam para proteger as empresas, mas a melhor medida que eles poderiam adotar é ajudar no recuo dos Estados Unidos na adoção dessas tarifas.