Autodidata, Luis Silva começou a desenvolver softwares aos 15 anos. Seis anos depois de enveredar pelo mundo dos códigos, ele fundou a primeira das seis empresas que, hoje, aos 37 anos, traz em seu currículo como empreendedor. No pacote, o destaque é a CloudWalk, criada em 2013.
Agora, a fintech de pagamentos é a mais nova integrante de outra lista: a dos unicórnios brasileiros, formada pelas startups locais avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Neste ano, essa relação foi reforçada por nomes como MadeiraMadeira, Unico e CargoX.
A CloudWalk entra oficialmente nesse clube com a rodada Série C de US$ 150 milhões que está anunciando nesta quarta-feira, 17 de novembro. O aporte é liderado pela gestora americana Coatue Management, que tem empresas como Spotify, Snap, Instacart e ByteDance, grupo dono do TikTok, em seu portfólio.
O novo cheque avalia a startup em US$ 2,15 bilhões (R$ 11,7 bilhões) e tem ainda a participação da DST Global, FIS, Plug and Play Ventures, The Hive e Valor Capital, fundos que, assim como a Coatue, já investiam na operação. No total, a empresa já levantou US$ 365 milhões desde a sua fundação.
Além desse “time”, que havia capitaneado o aporte série B de US$ 190 milhões na startup, em maio desse ano, a nova rodada inclui o investidor Gokul Rajaram, ex-executivo da americana Square, e os jogadores de futebol americano Larry Fitzgerald e Kelvin Beachum.
“Somos um unicórnio de dois chifres. Nosso valor de mercado já é maior do que Cielo, Getnet e outros nomes tradicionais do setor”, diz Silva, fundador e CEO da CloudWalk, ao NeoFeed. “Mas é só o começo. Ainda estamos nos dois primeiros ‘segundos’ da companhia e nossa ambição é global.”
Levando-se em conta as negociações da terça-feira, 16 de novembro, na B3, o valor de mercado da CloudWalk não apenas supera o de Cielo e Getnet como está acima das avaliações somadas das duas empresas. Juntas, elas encerraram o pregão valendo R$ 10,4 bilhões.
Para chegar a esse patamar, a fintech investiu em uma oferta voltada a pequenos e médios varejistas e que tem como ponto de partida as maquininhas de cartões da marca própria InfinitePay, lançada em 2019.
A partir de recursos como inteligência artificial, blockchain, computação em nuvem e de processos 100% digitais, seu grande apelo é a oferta de taxas mais acessíveis no processamento dos pagamentos, na faixa de 2,89% a 8,48%, dependendo da bandeira do cartão e do número de parcelas.
Esse portfólio inclui ainda sistemas de reconciliação financeira, além de uma carteira digital e de uma plataforma que permite aos varejistas montarem suas lojas virtuais ou venderem seus produtos em canais como WhatsApp, Facebook Messenger e SMS.
Com essas ofertas, a fintech tem uma carteira com mais de 150 mil clientes ativos, distribuídos em mais de 4,3 mil municípios do País, e processa um volume anual de transações superior a US$ 2,4 bilhões.
“Os investidores viram que não é apenas discurso. A história que estamos contando é lastreada por resultados”, afirma Silva. “Esse aporte chega como um combustível adicional no nosso tanque para crescermos ainda mais rápido.”
Ele não revela uma meta de contratações, mas ressalta que uma parcela do aporte será reservada à ampliação da equipe da companhia. Com um modelo 100% remoto, esse quadro inclui hoje cerca de 300 profissionais, distribuídos em cinco países.
O montante também será aplicado no desenvolvimento de produtos e em melhorias de linhas recentes no portfólio. Entre elas, o “empréstimo inteligente”, que envolve a promessa de concessão de crédito em menos de cinco segundos e que está sendo testada com uma pequena base de clientes.
Outra frente envolve uma “stablecoin”, como são chamadas as moedas digitais lastreadas em um ativo real, lançada pela companhia. Lastreada em reais, a moeda leva o nome de Brazilian Digital Real e é aceita como meio de pagamento nas plataformas da empresa.
Para impulsionar o seu uso, a fintech vai distribuir R$ 1 milhão mensais da sua moeda digital como cashback. Esse valor será dividido entre os consumidores que comprarem de um lojista cliente, por meio do aplicativo InfinitePay.
O saldo acumulado poderá ser usado no próprio ecossistema da startup ou ser transferido para uma carteira de criptoativos da rede Polygon. Segundo Silva, em breve, também será possível usar a stablecoin para investir em outras moedas ou transferir valores para uma conta bancária.
“O modelo que eles estão seguindo, de testar novas fronteiras com as criptomoedas, tem um paralelo com a Square”, diz Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem, citando a empresa americana de pagamentos comandada por Jack Dorsey, também fundador do Twitter.
No Brasil, outras empresas estão avaliando ou já fazendo incursões nessa esfera. Entre elas, Cielo e Mercado Pago. Diniz entende, porém, que a abordagem de nenhuma delas se assemelha ao caminho sinalizado, até aqui, pela CloudWalk, especialmente no que diz respeito ao cashback.
“Muitas empresas estão lutando contra a comoditização nos pagamentos”, afirma. “Além da CloudWalk, quem tem feito isso com mais clareza é a Stone, mas com outra pegada, muito mais no sentido de usar os pagamentos como porta de entrada para um ecossistema de soluções para os empreendedores.”
Capitalizada, a CloudWalk quer ir além do mercado brasileiro. “O plano é chegar à liderança no Brasil nos próximos dois anos. Depois, iremos para os Estados Unidos e a Europa” diz Silva. “Em cinco a dez anos, queremos construir uma empresa de US$ 500 bilhões.”