Única companhia de capital fechado entre os grandes players de medicina diagnóstica, o Sabin não economizou para rivalizar com seus pares na corrida para expandir sua rede e ir além do setor. Desde 2012, a empresa investiu em iniciativas orgânicas e cerca de R$ 500 milhões em 30 aquisições.
Após cumprir esse ciclo, o grupo está dando a largada para uma nova etapa. Com um apetite mais comedido para M&As, o foco agora é se consolidar como um ecossistema de saúde, dando fôlego a projetos internos e negócios que foram trazidos para dentro de casa.
Com um aporte previsto de R$ 150 milhões para 2023 e 2024, essa estratégia vai priorizar duas frentes: a Rita Saúde, plataforma digital de saúde gestada no próprio grupo, e a Amparo Saúde, rede de clínicas de atenção primária cujo controle foi comprado no fim de 2021.
“Expandimos geograficamente e na diversificação. Mas os diagnósticos ainda representam 95% da operação”, diz Lídia Abdalla, CEO do Sabin, ao NeoFeed. “Há espaço para que, em cinco anos, os novos negócios representem 20% da nossa receita.”
Dono de um faturamento de R$ 1,4 bilhão, o Sabin tem como um dos pilares desse plano a Rita Saúde. Lançada em Brasília (DF), como um projeto-piloto, há exatos dois anos, a plataforma nasceu com serviços próprios e a ideia de evoluir para um marketplace, com a oferta de parceiros.
Essa transição teve início no segundo semestre de 2022, a partir da busca por acordos além de Brasília. Hoje, a Rita Saúde tem 998 parceiros plugados e, neste ano, passou a operar em Manaus, Salvador, Uberaba, Uberlândia e São José dos Campos. A meta é chegar a mais dez cidades em 2023.
Em paralelo à expansão, outra fronteira é o grande projeto da Rita Saúde no ano: a entrada na disputa “em mar aberto” no segmento do B2C. Até o momento, a plataforma esteve mais focada nas pequenas empresas.
Recentemente, a plataforma começou a oferecer desde uma assinatura gratuita, que dá direito a descontos nas unidades do Sabin, até planos mensais de R$ 9,90 e R$ 49,90, com acesso a toda rede de parceiros, telemedicina e descontos em farmácias.
Uma terceira via é o lançamento de uma carteira digital. Com ela, será possível criar uma conta na Rita Saúde, assinar os planos e comprar produtos e serviços. Em fase final de testes de parceiros, a previsão é lançar o recurso no segundo trimestre.
“Com a carteira digital, vamos conseguir escalar, de fato, o B2C”, diz Abdalla. Hoje, a Rita Saúde atende 77 mil vidas. “Nossa meta é ter 1 milhão de usuários em até cinco anos. Mas entendemos que há potencial para chegar a esse volume em dois anos.”
A Amparo Saúde foi integrada recentemente como provedora dos serviços de telemedicina de atenção primária da Rita Saúde. E também será o destino de uma boa parcela dos investimentos previstos pelo grupo.
Uma das aplicações será a expansão da operação física. A projeção é dobrar a rede de 8 unidades até 2024. Essa conta não inclui outra frente que vai ganhar tração: a oferta de clínicas in-company da Amparo Saúde, com unidades instaladas em empresas.
O modelo vem ganhando corpo no setor, a partir de diferentes elos dessa cadeia. Entre eles, o Hospital Israelita Albert Einstein, que tem clínicas em empresas como Natura e Vivo. E o Sírio-Libanês, com unidades no Itaú e no Santander, entre outras companhias.
No Sabin, o projeto começou a ser testado em 2022, com os funcionários do grupo. Além desse piloto, a Amparo Saúde mantém uma clínica em uma unidade da Assefaz, operadora de plano de saúde dos servidores do Ministério da Fazenda.
“É um produto novo e vamos oferecê-lo a empresas e operadoras de planos de saúde”, explica Abdalla. “Esse modelo permite trabalhar, de fato, questões como redução de custos das empresas com saúde, dos níveis de absenteísmo e de sinistralidade médica.”
Cautela em M&As
O Sabin reserva espaço ainda para a ampliação da sua rede de medicina diagnóstica. A empresa fechou 2022 com 350 unidades em 78 cidades, de 16 estados. Até 2024, a meta é adicionar outras 15 a esse mapa de operações.
Como exemplos de possíveis regiões alvo, Abdalla cita o entorno de hubs criados recentemente pelo grupo em cidades como Valinhos, no interior de São Paulo. Além de estados nos quais o Sabin entrou há pouco tempo, como Piauí e Maranhão, a partir de aquisições.
Quanto aos M&As, ela diz que o grupo segue olhando oportunidades, mas faz uma ressalva. “Não dá para ser mais a qualquer custo, até em função do cenário macro”, afirma. A cautela também vale para o Kortex Ventures, fundo de corporate venture capital em parceria com o Fleury e a Bradesco Saúde.
“O apetite continua, mas avaliando riscos e sendo mais criterioso em relação aos retornos”, observa, ressaltando a prioridade do grupo para 2023. “Esse é um ano de capturar sinergias, de integrar nossos negócios e ir a mercado com eles.”
Para reforçar esse posicionamento como ecossistema de saúde, está anunciando nesta semana que sua principal marca de serviços será rebatizada como Sabin Diagnóstico e Saúde, enquanto a marca corporativa Grupo Sabin também passará a ter mais destaque.
Dentro da onda de verticalização do setor de saúde, os principais concorrentes do Sabin também estão se mexendo para consolidarem seus próprios ecossistemas. E esse processo passa, inclusive, pela união de forças.
Em julho de 2022, o Fleury e o Hermes Pardini anunciaram um acordo para a fusão de suas operações, em uma transação que ainda depende do sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Antes, a dupla já vinha protagonizando uma série de aquisições, uma das frentes que mostra o desafio do Sabin em acompanhar rivais que são listados em bolsa. Desde abril de 2021, o Fleury, por exemplo, investiu mais de R$ 1 bilhão em M&As.
A Dasa é outro player de capital aberto e que tem sido bastante ativo. Desde o fim de 2020, o grupo investiu ao menos R$ 3,7 bilhões levando-se em conta apenas os acordos ligados à compra de hospitais.