Os fundos brasileiros reduziram as apostas contrárias à bolsa local no pregão de sexta-feira, 14 de fevereiro, quando a queda de popularidade do governo impulsionou os preços dos ativos.

Segundo dados da B3, os institucionais diminuíram em 20.856 contratos suas posições vendidas no Ibovespa futuro para 217.204. O movimento foi absorvido majoritariamente pelos investidores estrangeiros, que reduziram suas posições em 19.715 contratos comprados para 192.790.

Houve também uma redução na exposição dos gestores locais em mini Ibovespa, com queda de 46.864 contratos, totalizando 716.326 contratos vendidos em aberto. O Ibovespa registrou sua segunda maior alta do ano, com valorização de 2,70%, na sexta, 14.

A percepção no mercado é de que, com a popularidade do governo em baixa, cresce a chance de a oposição ganhar força nas próximas eleições e, eventualmente, mudar as diretrizes da atual política econômica. Ainda há muitas incertezas sobre quem será essa oposição e quais caminhos poderá tomar, mas as especulações já movimentam preços.

A pesquisa do Datafolha, divulgada no mesmo dia, mostrou que apenas 24% da população considera bom/ótimo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se da pior avaliação dos seus três mandatos, acompanhada de um índice recorde de reprovação, visto como ruim/péssimo por 41% dos entrevistados .

Os números revelaram uma deterioração significativa em relação ao levantamento da primeira quinzena de dezembro, quando 35% classificavam o governo como bom/ótimo e 34% como ruim/péssimo.

Apesar do risco político, o mercado acredita que o governo não tentará reverter a perda de popularidade com uma nova injeção fiscal. “O governo está no ‘corner’”, disse um gestor de ações. Segundo ele, um aumento de despesas pressionaria o dólar e, por consequência, os preços dos alimentos – dois fatores centrais na queda de aprovação do governo desde o fim do ano passado. “Se aumentar os gastos, ele perde.”

Mesmo com expectativas negativas para a bolsa, impactada pela alta dos juros e pelo crescimento econômico mais fraco, o início de 2025 tem sido positivo. Desde o começo do ano, o Ibovespa acumula alta de 7,1%, contra 1,5% do CDI – um movimento que surpreendeu muitos investidores.

Sem visibilidade de uma mudança na condução fiscal, a indústria local de fundos vinha operando com baixa exposição ou até mesmo posições líquidas vendidas na bolsa brasileira. Na sexta-feira, 62% das posições de institucionais locais no Ibovespa futuro eram vendidas. Essa proporção era 3 pontos percentuais (p.p.) mais alta na quinta e 5 p.p. no início do ano.

“Teve muito fundo multimercado que tomou stop loss e precisou zerar posição para o gringo”, afirmou um gestor.

Além desse efeito de zeragem, fundos que vinham operando com baixa exposição à bolsa aumentaram suas apostas para não perder o rali. “Muitos estavam underweight e tiveram que aumentar a posição”, comentou um gestor de um grande banco.

Dados da Anbima mostram que a participação das gestoras locais na bolsa vem caindo desde agosto. No fim de 2024, a exposição em ações somava R$ 509 bilhões, equivalente a 7,5% da indústria – o menor patamar da história em termos proporcionais e, em valores nominais, o mais baixo desde 2018.

Com os valuations comprimidos e pouca margem para novas reduções na bolsa, as apostas pessimistas têm penalizado os fundos mais vendidos. Se essa estratégia ainda se provará vencedora, só o governo dirá.