Pouco mais de 300 metros separam os dois imóveis instalados no bairro da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. Mas esse pequeno trajeto resume bem o rápido avanço da Galeria.Holding, grupo de publicidade criado em 2021 por Eduardo Simon, Rafael Urenha, Paulo Ilha e Pedro Cruz, todos ex-DPZ&T.
Em poucos meses, a operação irá transferir sua sede para o número 380 da rua Fidalga, uma caminhada de apenas cinco minutos da sua antiga casa. Nesse percurso, a companhia vai mais que dobrar sua estrutura, para uma área de quase seis mil metros quadrados.
Porém, antes mesmo de fazer essa mudança, o grupo está abrindo espaço para mais um negócio sob o seu teto, com o lançamento oficial da a.gente, empresa de marketing de influência que se torna a 10ª companhia no guarda-chuva da holding com origem na agência de publicidade Galeria.ag.
“Hoje, no Brasil, cerca de 45% das verbas estão em mídia digital. E quase metade dessa cifra já é direcionada para as redes sociais, o que inclui a contratação de influenciadores”, diz Eduardo Simon, cofundador e chairman da Galeria.Holding, ao NeoFeed. “Esse é um negócio de crescimento explosivo.”
Para se ter uma ideia do que está em jogo nessa escalada, em 2024, os investimentos totais em mídia foram de R$ 26,3 bilhões no Brasil, alta anual de 12,17%, segundo o Cenp-Meios. No período, a Galeria.Holding contribuiu com essa soma movimentando R$ 1,8 bilhão em compra de mídia.
Peça mais nova na coleção do grupo, a a.gente começou a ganhar forma há pouco mais de um ano, a partir das primeiras ações com influenciadores e criadores de conteúdo. O processo seguiu o modelo adotado na criação das demais empresas da holding.
“Nós desenvolvemos uma metodologia de testar todas as nossas teses que geram novas empresas com os clientes da casa”, afirma Simon. “E, no caso da a.gente, sentimos que agora estávamos prontos para chamar a atenção para o que vínhamos fazendo há tanto tempo.”
À frente desse processo desde o início, Karen Bartels irá liderar a a.gente, que abre oficialmente suas portas com uma estrutura dedicada de 25 profissionais. E cuja tese é se posicionar como uma alternativa para algumas dores desse mercado, ainda novo, identificadas durante o seu período de gestação.
Essa proposta passa por oferecer maior transparência nas negociações com os influenciadores, ao reduzir intermediários – e as sobretaxas - nessa cadeia. E, ao mesmo tempo, por estabelecer uma maior aproximação desses criadores de conteúdo com o processo criativo.
O ponto de partida é um casting próprio que começou a ser formado há três meses e já tem 15 influenciadores. Eles terão o suporte e a gestão da a.gente – do time criativo até áreas como o jurídico. A empresa também fará a representação desse “elenco”. Inclusive, para marcas que não suas clientes.
Para monetizar esss base, a a.gente vai adotar o modelo que já é mais comum nesse mercado, que consiste na aplicação de um percentual de representação sobre cada job negociado e fechado.
A companhia não vai se restringir, porém, a esse casting. E a curadoria para identificar os nomes mais adequados para cada ação envolverá outro pilar da operação – uma plataforma própria de software, turbinada por inteligência artificial e por dados de redes como TikTok, Instagram e YouTube.
A partir de um briefing do cliente, a ferramenta buscar o perfil mais indicado de influenciador para aquela ação. E isso inclui filtros como o nível de engajamento, a audiência com quem ele fala e como essa conversa é estabelecida. Além de eventuais polêmicas ou declarações políticas em seu histórico.
“A construção dessa plataforma foi muito baseada numa lógica digital”, diz Simon. “Nós cruzamos a informação desse histórico até mesmo para fazer uma projeção de quantos impactos podemos ter e quais riscos ou não esse influenciador traz.”
Esse modelo já mostrou fôlego. A a.gente acumula cerca de 150 projetos com 4,5 mil conteúdos e 680 influenciadores para marcas como Natura, Itaú, McDonald’s, Havaianas, JBS e Bauducco, todos clientes do grupo. E já movimentou mais de R$ 18 milhões. Para 2025, a meta é crescer 25%.
“Essa tem sido a nossa dinâmica”, afirma Simon. “Eu acho que qualquer empresa quer nascer com a oportunidade de pelo menos ter a chance de se apresentar para marcas como McDonald’s, Itaú, Natura e Vivo.”
O fato é que a a.agente também já está abrindo portas para a Galeria.Holding, ao atrair marcas que ainda não tinham relação com nenhuma empresa do grupo. Esses foram os casos da Smart Fit e da sua plataforma de benefícios fitness, a TotalPass.
“A a.gente é uma das operações que tem mais aderência para isso, porque o trabalho de social e de influência, tem demanda para todo tipo e tamanho de cliente”, diz Simon. “E, depois, isso vira uma conversa para entender o que mais nós temos por aqui.”
Das empresas que nasceram do zero aos M&As
Além da a.gente e da Galeria.ag, o ecossistema da Galeria.Holding atende aproximadamente 60 clientes e conta com empresas como a Vitrine, de mídia out-of-home; a produtora audiovisual Frame; e a Gaia, empresa de software as a service que combina inteligência artificial e serviços de dados.
Com a lógica de consolidar uma oferta integrada e complementar ao portfólio da Galeria.ag, todas as demais operações do grupo, assim como a agência, são baseadas na convergência entre tecnologia e comunicação. E já representaram 42% da receita total de R$ 290 milhões da Galeria.Holding em 2024.
Neste ano, a projeção é chegar a uma receita próxima de R$ 430 milhões e superar a casa de R$ 2 bilhões em compra de mídia. Há espaço para mais negócios nesse portfólio, em áreas como mobile e e-commerce. E a partir de agora, esse roteiro também vai incluir uma nova avenida: os M&As.
O foco estará em martechs e em empresas de inteligência artificial e com viés de tecnologia. Os acordos serão financiados com recursos próprios e podem envolver desde a compra de fatias em startups até empresas mais maduras. Mas sempre preservando o espaço dos sócios-fundadores dessas empresas.
“O que fizemos até hoje foi criar empresas do zero. E isso tinha uma lógica. Somos um grupo que está construindo sua cultura”, diz Simon. “Mas hoje, temos uma boa visão do que significa esse ecossistema, criamos um modelo de governança e estamos mais à vontade para atrair negócios que já existem.”
Ao lado da expansão da holding, essa governança também ajuda a explicar a mudança de sede do grupo. “Queríamos um espaço onde todos estivessem próximos, porque a sinergia pede isso. Mas que também respeitasse os negócios de cada empresa. Até mesmo porque algumas delas têm clientes concorrentes.”