Os multi family offices (MFO) têm ganhado tração no segmento de wealth management ao mostrar para bancos e plataformas que a disputa da gestão no mercado brasileiro tem um forte concorrente. E, além dos grandes centros, essa competição tem se acirrado no interior do País.

Neste início de ano, a Portofino Multi Family Office está abrindo um escritório em Manaus para dar tração à expansão territorial de suas operações. Com presença em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Brasília e Caxias do Sul, além de Nova York, a empresa aposta nesse modelo de “ocupação” para estar próximo do cliente e chegar a R$ 30 bilhões sob gestão em 2024.

“Acreditamos que esse modelo precisa ser disseminado no Brasil como é nos Estados Unidos. E cada vez vemos mais aderência”, diz Carolina Giovanellla, fundadora e CEO da Portofino, em entrevista ao NeoFeed.

Com um crescimento de 43% no ano passado, o MFO chegou a R$ 20 bilhões sob gestão. Por trás dessa expansão estão investimentos em pessoas e tecnologia, soluções customizadas e a capilaridade pelo País.

Para sustentar essa rede, foram contratadas 25 pessoas em 2023, atingindo um total de 110 funcionários. A maior parte foi para tecnologia, o grande foco de investimento dos últimos dois anos. A empresa criou um consolidador proprietário que agrega o portfólio do cliente em diversas plataformas, onshore e offshore, pois trabalha com arquitetura aberta.

Outros reforços vieram para o time de gestão, hoje com 25 pessoas, comandado por Eduardo Castro, ex-CIO do Santander, e pelo especialista em investimentos internacionais Adriano Cantreva, ex-Itaú e XP Securities nos EUA.

Com uma equipe robusta de alocação, a Portofino montou um modelo de gestão mais focado nos ativos ilíquidos dos portfólios, uma grande demanda dos clientes, em sua maioria empreendedores e famílias empresárias.

“Temos uma área de wealth planning e vimos que havia uma grande demanda pela gestão de real estate. Os empresários tinham galpões logísticos ou empreendimentos residenciais para gerir, oportunidades de compra e venda. E, no Brasil, bancos e muitos MFOs só fazem alocação de liquidez”, conta Giovanellla.

Dessa maneira, a Portofino conseguiu atrair clientes maiores para dentro de casa. Embora a gestora atenda patrimônios a partir de R$ 5 milhões, o tíquete médio está na casa dos R$ 20 milhões.

A maior parte dos clientes recentemente conquistados vem de bancos. Mas há migração também de assessorias e de outros MFOs. Esse milionário escolhe o seu custodiante e passa a contar com a gestão discricionária em modelo fee based da Portofino.

Planos de aquisições

Para 2024, o plano é manter o crescimento consistente dos últimos anos e bater 50% de expansão, o que vai fazer a Portofino chegar a R$ 30 bilhões sob gestão.

Para alcançar esse montante, a empresa buscará aquisições junto à estratégia de crescimento orgânico, que foi a prioridade da Portofino nos últimos anos.

Criada por Giovanellla em 2012 como um single family office para gerir o patrimônio da família, que é uma das principais do ramo de construção civil do Sul do País, há cinco anos a Portofino se tornou um MFO. Agora, chegou o momento de buscar aquisições.

“O mercado passará por uma grande consolidação nos próximos dois anos e nós somos uma empresa rentável e com dinheiro em caixa para aproveitar essa oportunidade”, diz a CEO da Portofino, que tem conversas adiantadas e que seu critério é buscar sócios com perfil complementar aos existentes na companhia.

Estão na mira outras gestoras de patrimônio ou consultorias com entre R$ 1 bilhão a R$ 5 bilhões sob gestão. A estratégia faz parte de uma leitura de que o mercado começará uma consolidação após anos de várias operações surgindo, em um business que precisa de tecnologia e escala para prosperar.

Esse movimento, na verdade, já está acontecendo. No ano passado, a Galapagos Capital comprou a Taler, criando uma área de gestão de fortunas de cerca de R$ 5 bilhões sob gestão; a Blue3 incorporou a Troon Capital e alcançou R$ 4 bilhões sob gestão. Em 2022, a Faros (agora Fami Capital) comprou a Hollander, com cerca de R$ 9 bilhões à época.

Por outro lado, grandes e tradicionais players independentes têm estagnado o crescimento, como Pragma e Perfin.

Segundo estimativas de mercado com dados da Anbima, há cerca de R$ 500 bilhões em gestoras de patrimônio, que crescem em média 15% ao ano - a Portofino bateu 43% no ano passado. Os private bankings somam R$ 2 trilhões sob gestão, mas têm crescido em média 10% ao ano. Quem tem saído na frente são as operações robustas que conseguem escalar com tecnologia.

A Portofino buscou esse diferencial e acredita que está pronta para quadruplicar de tamanho nos próximos cinco anos e chegar a R$ 80 bilhões sob custódia, se tornando um dos maiores MFO independentes do País.

“Acreditamos que, cada vez mais, o Brasil vai caminhar para um modelo de fee based independente, e as grandes fortunas vão buscar serviços agregados em MFOs”, afirma Giovanella.