O ano de 2024 terminou com gosto amargo para muitos investidores. Houve uma reviravolta da perspectiva no cenário de juros. A queda esperada não aconteceu. Pior, a taxa Selic subiu. E, como consequência desse novo cenário, 2025 pode ser o ano do ultra conservadorismo.

Os estrategistas e CIOs de sete grandes private bankings do Brasil estão pessimistas com o mercado local, preferindo uma exposição maior ao CDI. No entanto, eles estão otimistas com as oportunidades internacionais.

Na visão de Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, BTG Pactual, Banco do Brasil, XP e UBS, os recursos das grandes fortunas se movimentarão no mercado local de acordo com o ritmo da solução fiscal. A proposta mais recente foi considerada insuficiente, o que tem levado o dólar para patamares recordes.

“Com a taxa de câmbio em seu patamar mais alto historicamente, e sem gatilhos à vista que possam reverter essa deterioração da percepção de riscos, o Banco Central não tem alternativa senão agir para estancar a piora das expectativas de inflação e evitar que a inflação escape do razoável para o Brasil”, afirma Christiano Clemente, CIO do Santander Private Banking.

A consequência dos estímulos fiscais são uma economia superaquecida, o que leva a inflação para além do teto da meta, e assim, a Selic a subir.

Os bancos ouvidos pelo NeoFeed projetam que a taxa de juros, hoje em 12,25% ao ano, pode ir além dos 14,25% já estipulados pelo BC na última reunião do Copom. Isso irá depender se o governo irá reformular a sua política fiscal ou não.

Para Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos para o Brasil no UBS Global Wealth Management, ou o governo volta atrás e lança um pacote forte de corte de gastos estrutural ou os juros devem continuar subindo até um ponto em que a atividade econômica despenque.

“O câmbio e os juros longos nas alturas são os agentes econômicos dizendo que na ausência de um ajuste fiscal mais forte e crível, os prêmios de risco devem continuar aumentando indefinidamente”, afirma Telo.

Devido às incertezas (e aos prêmios atrativos que vem com ela), a recomendação dos private bankings é ter uma exposição de, ao menos, 70% em renda fixa para um perfil de risco balanceado/moderado, e que a maior parcela esteja em ativos pós-fixados.

“Com os juros em alta, aumentamos nossa exposição em ativos pós-fixados para 45% por cautela e para capturar algumas oportunidades pontuais, considerando que juros altos também representam uma deterioração nos valuations dos ativos, trazendo oportunidades no longo prazo”, afirma Juliana Laham, CIO Global do Bradesco.

Nicholas McCarthy, diretor da área de estratégias de investimentos do Itaú Unibanco, afirma que o banco está com recomendação abaixo da neutra para prefixados para evitar correr riscos em cenários inflacionários crescentes. Mas títulos atrelados à inflação são interessantes.

"Defendemos uma maior exposição à títulos indexados à inflação mais juro real, onde vemos prêmio atrativo com proteção do poder de compra. E os pós-fixados devem contribuir com rentabilidade elevada combinada com baixo risco, ingredientes importantes no atual cenário com maiores incertezas", afirma McCarthy.

Já para escolher os ativos é preciso cuidado e atenção em relação a mudanças regulatórias. A procura por títulos isentos como LCI/LCA, CRI/CRA e debêntures incentivadas deve continuar alta. Mas é preciso atenção com a nova taxação mínima de 10% proposta pelo governo, que pode anular o benefício.

E o que for risco de crédito requer mais atenção do investidor. Em um ambiente em que a economia pode vir a entrar em recessão, escolher bons ativos é fundamental.

“No crédito privado, o nome do jogo é seletividade. O BC diz que vai desacelerar a economia, e um dos canais para isso é o crédito. É preciso ter cuidado com duration e alavancagem das empresas para evitar defaults”, afirma Artur Wichmann, CIO da XP Inc.

Fundos de crédito, que foram a grande estrela de captação em 2024, continuam em alta. Escolher bons gestores para fazer uma gestão mais ativa na dinâmica de juros pode render bons frutos.

Juliana Laham, CIO Global do Bradesco: "Produtos isentos continuarão sendo um destaque por uma questão de familiaridade do investidor com os produtos e com as altas taxas da renda fixa"

Artur Wichmann, CIO da XP Inc: "Estar em bolsa americana é apostar nos ganhadores do capitalismo com alta probabilidade de retorno no longo prazo"

Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos para o Brasil no UBS Global Wealth Management: "O principal foco de atenção é a situação fiscal do Brasil. Mesmo o choque de juros moveu o câmbio"

Christiano Clemente, CIO do Santander Private Banking: "Após acelerar o ritmo de alta do juro na reunião de dezembro, o Copom possivelmente entregará outra alta importante da Selic em janeiro"

Julia Lenzi Baulé, estrategista-chefe do private do Banco do Brasil: "A principal mudança que fizemos foi reduzir nossa classe de multimercados e aumentar as alocações direcionadas em renda fixa"

Rafael Mazzer, sócio e head de portfólio solutions Brasil do BTG Pactual: "Os spreads de crédito, principalmente incentivados, preocupam. A maior parte da exposição será em high grade"

Nicholas McCarthy, diretor da área de estratégias de investimentos do Itaú Unibanco: "Estamos underweight em bolsa brasileira. Temos a perspectiva de novas altas da taxa Selic, o que costuma ser negativo para a bolsa"

“Os gestores com mais liberdade de alocação podem aproveitar movimentos de mercado e capturar ganhos importantes”, afirma Julia Lenzi Baulé, estrategista-chefe do private do Banco do Brasil.

“Os fundos de renda fixa pós fixados e de crédito privado devem seguir entregando boas performances nesse início de 2025. Já os fundos indexados devem começar a entregar melhores retornos no momento de reversão do ciclo de alta de juros”, complementa Baulé.

Onde pôr o pé no risco?

Os multimercados perderam espaço na carteira dos investidores para dar mais espaço aos títulos pós-fixados. Eles lideraram a fila de resgates, com captação líquida negativa de mais de R$ 300 bilhões em 2024.

Para 2025, os estrategistas se dividem entre quem está mais pessimista e mais otimista com a classe de ativo. Entre os mais pessimistas, com recomendação de subalocação ou neutra, estão XP, Bradesco, BB e Santander.

“Os multimercados perderam um espaço nos portfólios estruturais e hoje têm 11% de um perfil moderado. Mas mantivemos a classe no neutro por acreditar no potencial de longo prazo dos gestores de nossa seleção”, afirma Laham, do Bradesco.

No BB, a principal mudança no ano foi reduzir a alocação em multimercados para aumentar a exposição em renda fixa e investimentos no exterior. Já entre os mais otimistas estão o BTG Pactual e o UBS.

“Realmente, há 36 meses o retorno está abaixo do que se gostaria, mas nos últimos três meses os gestores conseguiram entregar uma boa performance, pode ser o início da virada”, diz Rafael Mazzer, sócio e head de portfólio solutions Brasil do BTG Pactual.

“Os fundos macrotrading devem conseguir capturar retorno com a volatilidade esperado no ano. Nosso portfólio balanceado tem 25% de exposição”, complementa.

Já os investimentos em ações brasileiras estão subalocados, nas mínimas de uma alocação estrutural para todos, com menos de 10% para os perfis de risco balanceado/moderado, segundo os bancos. Apesar de a bolsa estar barata, com o Ibovespa tendo caído mais de 10% em 2024, o ciclo de alta de juros tende a penalizar até mesmo as boas empresas.

“É um ano para estar mais fora da bolsa, pelo risco-retorno em relação a renda fixa. Está barata, ainda mais em dólar, mas com os juros subindo os valuations caem e a alta pode demorar. E disputando com um IPCA+7%, fica difícil bater”, afirma Wichmann, da XP Inc.

Já entre a alocação em alternativos, fundos imobiliários são uma aposta para o longo prazo, enquanto estratégias mais ilíquidas como private equity exigem mais cautela.

“Vários fundos imobiliários com ótima gestão estão bastante descontados, negociando abaixo do valor patrimonial, o que pode ser uma boa oportunidade para o cliente com visão de longo prazo. Mas no curto prazo será desafiador com os juros em alta”, analisa Baulé, do BB.

Oportunidades ao redor do mundo

Ao olhar para o cenário global de investimentos, as atenções estão na economia americana. Principalmente no ritmo de corte de juros do Federal Reserve (Fed), nas políticas comerciais do presidente Donald Trump e na sua agenda de desregulação e corte de impostos.

No entanto, essas medidas só irão ditar o quão forte pode crescer a grande potência mundial.

“O cenário base é de excepcionalidade da economia americana, crescendo bem mais que seus pares. A dúvida é o que Trump irá conseguir implementar e o quão rápido com a maioria magra de republicanos na Câmara”, afirma João Scandiuzzi, sócio e estrategista chefe do BTG Pactual.

Segundo ele, alguns riscos devem ser considerados, como a agenda de controle de imigração, que pode deportar de 10 a 15 milhões de pessoas, o que seria uma grande baixa na força de trabalho do país. E também sobre a agenda de tarifas comerciais e se o intuito será de zerar o déficit comercial ou não.

“Nossa leitura é que os EUA serão mais duros com a China, e o dólar se manterá forte e se valorizará frente ao euro. Por isso, preferimos uma exposição global em dólar e nos Estados Unidos neste momento”, afirma Scandiuzzi.

No UBS, a grande aposta em investimentos internacionais está em ações, com 50% de alocação em uma carteira balanceada e cuja maior parte está nos setores de tecnologia, finanças e utilities dos EUA.

“Enxergamos um potencial da continuidade das altas das ações americanas, mesmo depois de dois anos de desempenho tão destacado. Além disso, as empresas que se beneficiam dos investimentos em Inteligência Artificial devem continuar com bons desempenhos”, afirma Telo, do UBS Global Wealth Management.

A renda fixa americana também apresenta boas oportunidades de retorno com a queda das taxas de juros, que valorizam os títulos pré-fixados. Mas a Europa está em baixa.

"Reduzimos nossa alocação em bolsas europeias, devido a questões estruturais como baixa produtividade e preço elevado de energia, e conjunturais com a fraqueza da atividade econômica na região, a questão comercial com os EUA e a competição com a China em setores importantes como o automobilístico", diz McCarthy, do Itaú.

"Ao mesmo tempo, aumentamos alocação em crédito sem grau de investimento nos EUA, dados os rendimentos mais elevados fornecidos pela classe", complementa.

Já as economias emergentes estarão fora do radar. Visto que a esperada queda na taxa de juros das economias desenvolvidas será mais lenta do que o esperado, principalmente nos EUA, prejudicando a tomada de risco mundial.

“Não só a atividade econômica americana segue pujante, atrapalhando o processo de desinflação, como o risco da implementação das políticas prometidas por Trump ao longo da campanha, como elevação de tarifas de importação e forte atuação na questão imigratória, complica ainda mais a vida do Fed”, diz Clemente, do Santander.

Ao que tudo indica, o ano de 2025 promete grandes emoções para os investidores brasileiros. O único remédio é cautela e diversificação com foco no longo prazo.