Os mercados financeiros globais vivem momentos de instabilidade, com diversas guerras eclodindo e a maior economia do planeta ditando novas formas de comércio exterior. Com a desvalorização do dólar, muitos investidores têm freado sua diversificação internacional. Três executivas do mercado financeiro, porém, discordam desse movimento.

“Hoje, diversificar não é só proteger patrimônio. É capturar oportunidades que simplesmente não existem aqui no Brasil”, afirmou Isabella Nunes, diretora executiva na J.P. Morgan Asset Management, durante um painel sobre investimentos globais no Fin4She Summit 2025, evento que executivas do mercado financeiro para falar com uma plateia feminina sobre finanças, carreira e inovação.

Ao lado dela no painel estavam Milena Tudisco, sócia e CIO Macro na Jubarte Capital, e Rachel de Sá, estrategista de investimentos na XP Inc. As executivas explicam que, de fato, o momento é para se ter uma carteira internacional verdadeiramente diversificada, e não concentrada apenas nos EUA.

O problema é que muitos brasileiros ficam tentando “acertar o melhor momento do câmbio” quando, na verdade, a volatilidade do dólar deve ser tratada com neutralidade.

“Quem espera o câmbio perfeito nunca entra. E quem entra no pânico, sai no prejuízo”, disse Nunes, lembrando que boa parte do consumo das famílias brasileiras é dolarizado.

“Se você come, se veste, se conecta com produtos globais, então seu custo de vida já é em dólar. E seu investimento também deveria ser”, complementa.

A diretora executiva na J.P. Morgan Asset Management lembrou que o Brasil responde por meros "3-2-1" da economia mundial: 3% do PIB, 2% da renda fixa e 1% das ações listadas. Ao investir apenas no Brasil, perdem-se oportunidades porque o CDI dá uma falsa sensação de estar valorizando o patrimônio.

Pelos cálculos de Isabela Nunes, quem manteve o portfólio atrelado ao CDI nos últimos dez anos teve um retorno nominal de 142%. Descontada a inflação, o ganho real ruiu para cerca de 40%. Já o dólar se valorizou perto de 140% no mesmo período.

“A taxa real é corroída pela inflação e, sem diversificação cambial, o poder de compra afunda”, apontou ela.

Mas o dólar pode perder espaço como principal moeda de reserva de valor em meio a crise fiscal americana? “É difícil imaginar alguma moeda substituindo o dólar como reserva de valor no curto prazo. Mesmo com questionamentos sobre o papel central dos EUA no mundo, ainda não há outro país com a mesma capacidade de gerar crescimento e lucro como os Estados Unidos”, disse Tudisco, da Jubarte.

Ela explica ainda que os Treasuries de 10 anos dos EUA pagam hoje juros de 4,4% ao ano, um patamar equivalente a Reino Unido ou França, países em que a crise fiscal estaria em uma situação semelhante a americana ou mesmo pior. O que demostra que há exageros no questionamento.

“Não é sobre sair dos EUA, mas equilibrar a carteira. Hoje, há muita coisa fora do radar, em lugares que antes eram ignorados”, diz Sá, da XP.

Na XP, por exemplo, o time de research está com alocação um pouco abaixo do neutro para a economia americana, e aumentando a sua recomendação em outras economias desenvolvidas.

Na Europa, o setor de luxo e empresas farmacêuticas vêm surpreendendo em 2025, puxadas por demanda global e margens resilientes. Já na Ásia, a força está no consumo e na transição demográfica, com destaque para Índia e Indonésia.

Além disso, os investimentos internacionais estão acessíveis a qualquer perfil e tamanho de investidor, seja por meio de produtos locais, como fundos de investimento, ETFs e BDRs, ou pela facilidade de se ter uma conta offshore por plataformas de investimento.

Na XP, a recomendação base para os clientes é se ter cerca de 15% do patrimônio em ativos globais, variando para mais ou menos a depender do perfil de risco e do estilo de vida da família. Isso porque, a vida do brasileiro é diretamente impactada pelo dólar.

Em um estudo usando a cesta de itens do IPCA, a XP avaliou que 40% dela era impactada pelo aumento da moeda americana – principalmente os alimentos.

“Se somos consumidores globais, por que continuar investindo como se vivêssemos numa economia fechada? Investimento internacional é para todos os investidores” , a estrategista de investimentos na XP Inc.

Ainda a margem do mundo dos investimentos

Dados da Anbima mostram que 72% das mulheres brasileiras simplesmente não investem. E dados da B3 mostram que apesar das mulheres terem ganhado espaço, são apenas ainda 23% dos CPFs da bolsa.

E o resultado é que 54% das mulheres tem medo da velhice por não saber como irão se manter financeiramente.

Carol Campos, financial planner na W1NN, Sara Delfim, sócia e membro da equipe de análise e gestão na Dahlia Capital, e Vivian Lee, CIO de crédito da Ibiuna Investimentos, debateram como as mulheres ainda estão fora do mundo dos investimentos.

"A verdade é que todo o mundo de finanças é muito novo para a mulher. Até a década de 1960 as mulheres não podiam ter conta em banco sem a autorização de seus maridos. Então, ficaram muito à margem dessa discussão. Precisamos fechar esse gap", disse Delfim.