A Yaya Capital, gestora de integrantes da família Moll, controladora da Rede D’Or, que investe em empresas de saúde, já construiu um portfólio de 12 startups com capital próprio dos sócios de US$ 21 milhões.
Agora, a gestora, que tem os sócios André Moll, Jorge Moll Neto, Pedro Moll e Marcus Pratini, que está à frente da operação, vai captar US$ 99 milhões até o fim deste ano com o objetivo de investir em até 20 empresas.
A novidade é que, desta vez, a companhia vai se lançar ao mercado em busca de investidores, passando a gerir o capital de terceiros, não só o próprio. O alvo preferencial dessa captação é o mercado internacional.
“Percebemos que estávamos construindo algo de grande interesse e não fazia sentido guardar só para gente. Então, formalizamos a gestora para captar com terceiros”, afirma Marcus Pratini, sócio e managing partner da Yaya Capital, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.
Com os recursos, a ideia é seguir a mesma estratégia de investimentos, mas com uma ambição de construir um portfólio mais global. A Yaya Capital atua em duas frentes. Como um venture capital tradicional, a gestora investe em empresas de saúde em estágio seed até a série B (que é o foco para 80% da captação).
Em growth, sua estratégia é focada em licenciamento de tecnologia na área de saúde. Neste caso, busca-se empresas com tecnologia de ponta que estão nos Estados Unidos e Europa para trazer para o Brasil.
A principal tese de investimento é a redução do custo total da jornada do paciente, aumentando o resultado clínico. Exemplos são tecnologias em detecção de doenças para diminuir casos de emergência e internação (que custam mais caro) e procedimentos menos invasivos (que exigem menos tempo de recuperação e, por isso, mais baratos).
Na frente de investimento em startups, a gestora aposta nos temas de disrupção global no setor cardiovascular, e no desenvolvimento de tecnologia para tratamento de doenças oncológicas e autoimunes.
Exemplos já investidos são a ITBMed Biopharmaceuticals (da Suécia e EUA), de terapia com anticorpos monoclonais para transplante de órgãos e indicações autoimunes; a Klivo (do Brasil), de solução de gerenciamento de doenças crônicas que cuida de toda a jornada do paciente; e a Metagenomi (dos EUA), de medicina genômica com sistemas de edição genética.
Já a estratégia de licenciamento consiste em licenciar tecnologias para um mercado que não a possui, uma modalidade de investimento ainda pouco desenvolvida no Brasil que gera receita recorrente com o licenciamento.
Um exemplo do portfólio é a Inari Medical, uma empresa americana listada em bolsa e pioneira no tratamento de trombos de veias, conseguindo desobstruir as veias com apenas um dia de internação hospitalar. A Yaya Capital licenciou essa tecnologia e com isso o Brasil está sendo o segundo mercado a tê-la.
“Esse tipo de estratégia é muito usada em grandes fundos estrangeiros, mas ainda pouco comum no Brasil. E por meio dele iremos trazer tecnologias de ponta para o mercado brasileiro, por conhecermos profundamente o que possui e as suas necessidades”, afirma Pratini.
Segundo a gestora, já foram visitadas e analisadas cerca de 200 empresas para essa estratégia, e quatro novos licenciamentos irão ocorrer nos próximos meses.
Maré baixa?
Na visão da gestora, o momento de baixa no mercado de private equity e venture capital, por conta das altas taxas de juros mundiais, não vai atrapalhar a captação, já que esse tipo de investimento especializado em saúde é anticíclico e independe de momento de mercado.
Apesar de o foco da captação ser internacional, Pratini mantém conversas com family offices e bancos brasileiros. “Os grandes investidores internacionais estão mais maduros para esse tipo de investimento e entendem que saúde é um setor estratégico, resiliente a crises, e que é preciso ter no portfólio”, afirma Pratini.
E visando esses grandes investidores, o foco de investimento da estratégia de venture capital tradicional agora será em empresas americanas e europeias. Atualmente, sete das 12 já investidas são brasileiras. O intuito é ter um portfólio mais global, com 80% do capital investido fora do país.
Obviamente que o mercado global é mais competitivo. Mas a Yaya Capital acredita que tem o diferencial de contato e o conhecimento do mercado brasileiro.
“Os grandes investidores globais têm muito interesse em ter acesso ao Brasil, mas se expondo de uma forma controlada, sem grandes riscos”, diz Pratini. “Acreditamos que a estratégia de licenciamento de tecnologia para cá é uma grande oportunidade disso. Eles conhecem o potencial tecnológico lá de fora, mas nós temos a expertise de como isso funcionaria ou não no Brasil.”
A Yaya Capital vende essa expertise, mas deixa claro que a proximidade com a Rede D’Or, a maior rede de hospitais privada do país, avaliada em R$ 60 bilhões na B3, não garante a venda dos licenciamentos.
“Não se vende produto para hospital, vende-se para os médicos. Eles é que têm que decidir usar essa tecnologia e aprender a usá-la no seu paciente. Se acharem que outra é melhor, vão usar e o paciente vai acompanhar”, afirma Pratini.
Pratini é o gestor do fundo, com mais de 20 anos de experiência estruturando projetos em diferentes segmentos, com passagem pela Coca-Cola e Submarino. Ele atuou por oito anos como sócio e manager na Raja Ampat Investments, um private equity focado em saúde e bem-estar.
Já os outros sócios da família Moll participam como advisors, atuando em comitês especializados para construção de teses de investimentos e avaliando todas as oportunidades e potenciais empresas investidas.
Saúde: um mercado com muitos fundos
A Yaya Capital não é a única gestora que investe em saúde que tem famílias com larga tradição no setor. Um exemplo a DNA Capital, gestora da família Bueno, controladora da rede Dasa.
Assim como a Yaya Capital, a DNA Capital surgiu com o capital da família Bueno e depois passou a administrar recursos de terceiros. Hoje, o portfólio é composto por startups como Beep Saúde, CM Tecnologia, Memed e Sanar no Brasil. Mas também conta com companhias abertas, como a Viveo.
Outro exemplo é a Green Rock, family office dos fundadores do Salomão Zoppi, que vendeu o laboratório para a Dasa, há seis anos, por R$ 600 milhões. Ela atua em venture capital e private equity, com foco em empresas de saúde.
No universo corporativo, o Fleury e o Sabin também criaram o Kortex Ventures, um corporate venture capital para investir em startups de saúde. O Bradesco, que controla o Fleury, é também um dos investidores da Kortex Ventures.