A conta da "teimosia" de Donald Trump chegou e os partidos políticos vão pagar - e caro - por ela. Diante da convulsão social protagonizada por apoiadores do atual presidente dos Estados Unidos, grandes empresas disseram que vão suspender temporariamente doações a causas estatais.

Outras gigantes, como FedEx, Target, CVS Health, AT&T e Walmart, afirmaram que estão revisando suas posições em relação a contribuições políticas. Segundo o Center for Responsive Politics, uma ONG apartidária baseada em Washington DC, as eleições presidenciais de 2020 custaram US$ 14 bilhões e foram as mais caras da história dos Estados Unidos.

Para fins de comparação, os gastos com a corrida presidencial de 2016, de acordo com a mesma instituição, não chegaram a US$ 6 bilhões. Do total arrecadado, pouco mais de 8% vieram por meio de Political Action Committees (PAC), os comitês pelos quais grandes corporações podem doar, legalmente, dinheiro a candidatos.

Amazon, Wells Fargo, Google, Apple e Kaiser Permanente são algumas das empresas que mais doaram a Joe Biden, segundo a agência Bloomberg. Já Trump recebeu mais apoio das Forças Militares, da Marinha americana e do Departamento de Polícia de Nova York. 

Agora, a torneira deve secar para todo mundo – mas sobretudo para os republicanos que escolheram ficar ao lado de Trump. Marriott International, Morgan Stanley, Dow e Blue Cross Blue Shield Association foram algumas das gigantes que confirmaram a suspensão de doações a congressistas que se opuseram à certificação da vitória de Joe Biden. 

Enquanto isso, JP Morgan, Citibank, Microsoft e Facebook declararam que congelaram os repasses aos dois partidos. Em alguns casos, como no da rede social de Mark Zuckerberg, o bloqueio deve valer por seis meses.

Para fechar ainda mais o cerco a Trump e seus apoiadores, o Shopify se posicionou e encerrou todas as lojas online ligadas ao presidente americano, que está de saída da Casa Branca.

"Com base em eventos recentes, determinamos que as ações do Presidente Donald J. Trump violam nossa Política de Uso Aceitável, que proíbe a promoção ou apoio de organizações, plataformas ou pessoas que ameaçam ou toleram a violência para promover uma causa", escreveu a empresa em comunicado oficial.

As portas também estão se fechando para Trump em outra esfera. Banido do Twitter, do Facebook, do Instagram e Snapchat, o republicano pretendia fazer da rede social Parler, conhecido reduto de extrema direita, seu novo canal de comunicação.

A empresa, contudo, sofreu sanções e foi excluída do Google e da App Store. A Amazon também reforçou que não vai mais oferecer seus serviços de hospedagem à Parler, cujas conversas envolviam conteúdo pornográfico, pedófilo e nazista.

Em entrevista ao NeoFeed, Nancy MacLean, chefe do departamento de história e políticas públicas da Duke University, diz que é "interessante" ver o posicionamento de grandes corporações. Mas ressalta que são apenas algumas. "Gigantes como a Koch Networks, que também atuam na política de outros países, não se manifestaram", diz ela. 

Para a docente, o sistema de doação política tem muitas lacunas, o que permite que boa parte do dinheiro que chega aos partidos políticos seja anônimo. "São essas brechas no mecanismo de controle que permitem certas aberrações políticas", afirma.

A fim de reparar essas falhas, MacLean defende uma reforma do sistema eleitoral, especialmente no que diz respeito às doações de bilionários e de corporações. "Vivemos hoje uma crise de representação, oriunda de um sistema desenhado em tempos escravagistas, estruturado para garantir a manutenção de privilégios".

A capital da confusão

Na última quarta-feira, 6 de janeiro, milhares de apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio americano após discurso do republicano recusando aceitar a vitória de Joe Biden.

Quase 70 pessoas foram presas e cinco morreram durante a ação, que atrasou em mais de seis horas o ritual de confirmação da eleição presidencial no Congresso.

Deputados do Partido Democrata dos Estados Unidos apresentaram nesta segunda-feira,  na Câmara dos Representantes, um pedido de impeachment do presidente Donald Trump.

Em documento de 4 páginas, os democratas acusam Trump de "incitar a insurreição" na última quarta-feira, dia em que seus apoiadores invadiram o Congresso. Segundo o texto, o presidente será processado por "crimes graves e contravenções".

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