Em 2015, quando pouco se falava sobre a conexão entre grandes corporações e startups, a MSW Capital apresentou ao mercado brasileiro o primeiro fundo do país de um multicorporate venture capital, que atraiu Microsoft, BV, Bayer, Algar e Qualcomm.
Sete anos depois, a MSW Capital lançou um segundo veículo que já conquistou BB Seguros, Moura Baterias e Agência Estadual de Fomento do Rio de Janeiro (AgeRio), que investiram R$ 30 milhões, somados, no MultiCorp II.
Agora, a Embraer está aterrissando no fundo com R$ 20 milhões na bagagem, tornando-se o quarto cotista do MultiCorp II, que pretende captar entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões até o fim deste ano e investir, de forma minoritária em estágios seed e série A, com cheques de R$ 3 milhões a R$ 15 milhões.
“No corporate venture capital (CVC), como principais investidoras, as grandes corporações buscam, claro, o retorno financeiro, mas também estratégico”, diz Richard Zeiger, sócio da MSW Capital, ao NeoFeed. “Existe uma motivação tão importante quanto: a aproximação com empresas inovadoras, com o ecossistema de startups, seja de tecnologias disruptivas, seja de modelos de negócios disruptivos.”
No modelo multi-CVC, a gestora funciona como uma espécie de curadora, conectando as startups mais adequadas a cada cotista. Na MSW Capital, Zeiger divide o trabalho com Moises Swirski, seu sócio.
Não é a primeira vez que a Embraer investe um fundo de CVC. “Fomos uma das pioneiras na estruturação de seu próprio fundo de corporate venture capital”, afirma Daniel Moczydlower, head de inovação da Embraer e CEO da Embraer-X, braço da companhia dedicado ao desenvolvimento de negócios disruptivos.
Em 2014, a empresa lançou o FIP Aeroespacial, em parceria com agências de fomento à inovação, como o BDNES e o Desenvolve SP. Com a gestão de R$ 161 milhões, o fundo já está em fase de desinvestimento.
Quatro anos depois, lembra Moczydlower, a companhia experimentaria o modelo multi-CVC, na Califórnia., com o Catapult Ventures, fundo do Vale do Silício. “Pela primeira vez, atuamos como coinvestidoras em setores que não tinham nada a ver com o aeroespacial”, diz o CEO.
Foi assim, por exemplo, que a Embraer investiu na agtech Advanced Farms, especializada na criação de robôs colhedores de morangos. A troca de experiências com organizações de indústrias diferentes, segundo Moczydlower, é riquíssima.
Como explica Zeiger, no momento da escolha das startups, todos os investidores participam da decisão. Entender a lógica de negócios de empresas de setores diferentes acaba, inevitavelmente, mudando o olhar para a própria companhia. É mais do que sabido: a diversidade impulsiona a inovação.
O mercado de corporate venture capital está em ascensão no mundo todo. Em seus relatórios sobre o tema, a PwC, empresa inglesa de consultoria e auditoria, classifica os tempos atuais como “a época de ouro do CVC”. E, como diz Moczydlower, o Brasil está chegando a essa “festa” agora.
Conforme estudo de 2022, realizado pela Bain Innovation Exchange, braço de inovação da Bain & Company, o ritmo de crescimento da atividade de CVCs no país é mais acelerado do que nos Estados Unidos. Entre 2015 e 2021, o volume de investimentos nesse modelo avançou 19%, ao ano. Entre as companhias americanas, 12%, no mesmo período.
“Apesar do histórico positivo, ainda há espaço para crescimento: a penetração de CVCs é três vezes menor no Brasil, quando comparada com os Estados Unidos”, lê-se no relatório da PwC. “E, nacionalmente, os volumes e valores investidos por CVCs vêm crescendo mais lentamente do que os de VCs.”
No Brasil, entre as companhias que já adotaram o modelo estão a Tovts, Renner, Telefônica Vivo, Dexco, Eurofarma, Locaweb e Ânima Educação. No ano passado, mais de R$ 2 bilhões de recursos em fundos de CVC foram anunciados, um número que representa mais do que o dobro do que em 2021.