Tecnologia e inovação. A partir da combinação desses dois elementos, muitas empresas vêm gerando, cada vez mais, uma poderosa equação, que se manifesta nas valorizações de suas ações nos mercados de capitais.

Gigantes como as americanas Apple, Microsoft, Amazon e Alphabet figuram entre as principais opções de investidores e como as grandes catalisadoras de novas tendências seguidas posteriormente em todo o globo. E agora são também o parâmetro de uma nova iniciativa do Itaú BBA.

Um relatório enviado a clientes nesta semana marcou o lançamento do Índice de Inovação Itaú BBA. A partir de uma metodologia criada pelos estrategistas do banco de investimento, o índice elenca as 15 empresas mais inovadoras listadas na B3, a bolsa de valores brasileira.

Sem uma ordem de importância, a lista de estreia do índice inclui as seguintes companhias: Via Varejo, Movida, Totvs, BTG Pactual, Magazine Luiza, B2W, Lojas Americanas, WEG, Fleury, Unidas, Notre Dame Intermédica, Duratex, Natura, Localiza e Randon.

“O desafio de avaliar a tecnologia e a inovação é que elas não têm uma característica específica e não acontecem em apenas um setor”, diz Jorge Gabrich, estrategista do Itaú BBA, em entrevista ao NeoFeed. “Por isso, decidimos olhar sob a ótica da performance e da valorização dos ativos.”

A metodologia do Itaú BBA estabelece como o universo de empresas elegíveis o IBX, índice da B3 que reúne as 100 ações com maior liquidez do mercado brasileiro. Como referência, na outra ponta, foram selecionadas cinco cestas globais de inovação.

A primeira inclui justamente as maiores empresas de tecnologia na bolsa americana, como as já citadas gigantes do país, além da chinesa Alibaba. O segundo pacote envolve Facebook, Twitter, Tencent, Snap, e outras companhias de mídias sociais.

O terceiro índice é focado em fintechs como Square e PayPal. O quarto passa por nomes de destaque no mercado de tecnologia, sob uma ótica generalista, como Samsung e Nvidia. E o quinto por Tesla, Mercado Libre, Xiaomi e outras empresas centradas em tecnologias consideradas exponenciais.

Os analistas do Itaú BBA fizeram a correlação entre as performances das ações do IBX e dessas cestas. As empresas locais cujos desempenhos mais se aproximaram dessas companhias globais vistas como inovadoras são as que integram o Índice de Inovação.

Para a estreia, o relatório tomou como base o período a partir de abril de 2017. Sob essas regras, o índice será atualizado duas vezes por ano, sempre em abril e outubro. Nas próximas edições, o intervalo considerado para as correlações serão os 12 meses anteriores à divulgação desse clube seleto.

Apesar do caráter heterogêneo e da avaliação objetiva do índice, é possível identificar pontos em comum no que essas empresas estão fazendo em seus respectivos mercados.

“Nosso setor está passando por muitas transformações”, diz Renato Franklin, CEO da Movida, ao NeoFeed, sobre a presença da locadora de carros e das concorrentes Localiza e Unidas no índice. “Cada vez mais temos que vender mobilidade, sem fricções, e a Movida puxou parte desse movimento.”

Renato Franklin, CEO da Movida

Em setembro, Localiza e Unidas anunciaram uma fusão, que aguarda aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Mas a Movida já vinha se mexendo antes do acordo. “A única certeza que temos é que não vamos alugar carro da mesma forma daqui a cinco anos”, afirma Franklin.

Uma das premissas que estão guiando a empresa é a rapidez para criar e colocar no mercado ofertas e modelos que ampliam o seu mercado. E 2020, sob a pressão da Covid-19, deu ainda mais dinamismo a esse processo, com pacotes de novidades a cada trimestre.

Os lançamentos do Movida Cargo, produto voltado à locação de carros leves e furgões para entregas do e-commerce; do aluguel de carros elétricos, em parceria com a Nissan; e de modelos de aluguel anual e de locação compartilhada foram apenas alguns dos exemplos da Movida no ano.

Franklin ressalta que os investidores têm valorizado essa agenda e a rápida adaptação na pandemia. “Já recuperamos tudo o que perdemos no período”, diz o executivo sobre a empresa, cujos papéis acumulam alta de 150% desde 23 de março, quando atingiram sua cotação mais baixa no ano. “E o que mostramos até aqui é pouco perto do que ainda vem pela frente.”

Outra integrante do índice que também está em um ritmo forte é a Via Varejo, sob o comando de Roberto Fulcherberguer. Ele assumiu como CEO em meados de 2019, com a missão de reestruturar a varejista após o Grupo Pão de Açúcar vender o controle da operação.

“Isso se deve muito ao nosso eterno inconformismo”, diz Fulcherberguer, ao NeoFeed, sobre a inclusão da empresa no índice. As ações da empresa, avaliada em R$ 25,4 bilhões, acumulam alta de 42,7% em 2020. “Eu diria que esse foi o nosso grande ano do turnaround. Mas a inovação, de fato, vem agora em 2021.”

O grupo já deu uma mostra do que pode fazer. Na quarentena, lançou o Me Chama no Zap, modelo no qual os vendedores interagem com clientes nas redes sociais. O formato virou case global de inovação do Facebook e, no terceiro trimestre, gerou 16% do GMV de R$ 4,1 bilhões do e-commerce da varejista.

“Eu diria que esse foi o nosso grande ano do turnaround. Mas a inovação, de fato, vem agora em 2021”, diz Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo

Para 2021, o plano é acelerar o marketplace da empresa. Nessa direção, um dos focos é fortalecer algumas áreas desse ecossistema, que foram alvo de aquisições da Via Varejo nesse ano. É o caso da logística, com a compra, em abril, da Asap log, e da empresa de tecnologia I9XP, adquirida em outubro. Uma das principais apostas, porém, é o banQi, aplicativo de contas digitais lançado em 2019.

Depois de comprar e assumir o controle da operação, em maio, a Via Varejo encorpou o aplicativo. Hoje, o banQi permite, por exemplo, pagar o carnê da Casas Bahia, fazer depósitos, pagamento em QR Code e saques gratuitos nas lojas. E já tem 1,1 milhão de contas digitais e R$ 1,2 bilhão de crediários sob gestão.

“Nós temos uma relação de longa data com os nossos mais de 85 milhões de consumidores”, ressalta Fulcherberguer. “E vamos buscar transformar o banQi na carteira digital da classe C brasileira.”

Nas varejistas que compõem o índice, os marketplaces e a construção de plataformas prometem ser, de fato, o motor de inovações. Ao lado da logística, as soluções financeiras são um dos pontos prioritários. A B2W, por exemplo, anunciou um plano de investimentos de R$ 5 bilhões para os próximos anos.

Além de tecnologias como inteligência artificial, uma das áreas que deve receber uma fatia considerável dessa cifra é a Ame Digital, fintech do grupo que já tem uma rede de aceitação de 2,8 milhões de estabelecimentos e movimentou, apenas em novembro, R$ 2,7 bilhões em transações.

Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo

Assim como a Via Varejo, outra empresa que decidiu ir às compras foi o Magazine Luiza. No ano, foram 11 acordos, em segmentos como publicidade, logística e delivery. A mais recente delas e a de maior cheque foi a aquisição da Hub Fintech.

Anunciada no início desta semana, por R$ 290 milhões, a aquisição traz para o Magazine Luiza uma operação com 4 milhões de contas digitais e cartões pré-pagos ativos, que movimentaram R$ 7 bilhões nos últimos 12 meses.

Outras empresas do índice estão olhando para esse espaço, entre elas a Totvs. A companhia de software vem reforçando sua pegada de techfin por meio de parcerias com nomes como Creditas e BV. E também com aquisições. Essa última vertente inclui a compra da Supplier, no fim de 2019, e a disputa recente pela Linx, que foi arrebatada pela Stone.

As instituições financeiras também estão ampliando sua área de atuação. É o caso do BTG Pactual, que anunciou, em setembro deste ano, sua entrada na área de varejo, com dois bancos digitais: o BTG+, direcionado a pessoas físicas, e o BTG+ Business, voltado a pequenas e médias empresas.

As aquisições, a busca por novos mercados além do negócio principal e o desenvolvimento de ecossistemas também movem as representantes do segmento de saúde. No primeiro exemplo, a Notre Dame reforçou sua estratégia inorgânica para verticalizar seu negócio e reduzir custos na oferta.

Já o Grupo Fleury vem ampliando seu alcance com novidades como uma plataforma de mapeamento genético, a entrada no mercado de medicina reprodutiva e, principalmente, com a Saúde ID, sua empresa de tecnologia lançada em agosto.

“O Fleury, com a digitalização, está tentando replicar, na saúde, o roteiro do Magazine Luiza”, diz Gabrich, que destaca o caráter abrangente das empresas do índice. “Há quem esteja tentando dar um salto e quem esteja buscando avanços incrementais. Mas todas estão sendo inovadoras.”

Olhar objetivo

A estruturação do índice não se aprofunda, no entanto, nos detalhes de cada empresa. “Decidimos tirar a subjetividade e focar em regras quantitativas para evitar qualquer questionamento”, afirma Marcelo Sá, estrategista-chefe do Itaú BBA, ressaltando que o índice não inclui nenhuma análise fundamentalista sobre qualquer um dos ativos.

“É possível que existam empresas que tenham subido por questões não ligadas à inovação”, explica Sá. “Mas há uma correlação grande, o que nos leva a crer que essas são as companhias que negociam de forma mais similar a esses ETFs globais.”

Levando-se em conta o fechamento do pregão da sexta-feira, 18 de dezembro, as empresas que compõem o índice têm um valor de mercado somado de R$ 768 bilhões, cerca de 18% da capitalização total na B3 na data, de R$ 4,4 trilhões.

As empresas que compõem o índice têm um valor de mercado somado de R$ 768 bilhões, cerca de 18% da capitalização total na B3

Em outro dado, o Índice de Inovação superou em 228 basis points o IBX desde abril de 2017. Essas empresas foram negociadas sob um indicador preço sobre lucro de 48,8 vezes versus 13,6 vezes das companhias do IBX.

“Essas companhias subiram 314% nesse intervalo, contra um crescimento de 86% do IBX”, afirma Gabrich. Ele destaca que houve uma expansão muito forte do Índice de Inovação a partir de 2019 e que esse processo ganhou ainda mais velocidade neste ano.

“Claramente, o mercado está precificando um novo nível de crescimento para essas empresas”, diz o estrategista, para quem a pandemia criou oportunidades para esses ativos conquistarem mais market share. “Em geral, todas elas estão indo bem durante a crise, na comparação com suas concorrentes.”

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