Em meio à seca nos últimos anos da renda variável no Brasil, a Charles River Capital, que começou como um clube de ações em 2011, conseguiu atingir marcas expressivas.
Seu fundo, o Charles River FIA, subiu 1.096,1% desde então (oito vezes mais do que o Ibovespa, o seu benchmark). Nesse período todo, bateu o índice da bolsa brasileira 11 vezes – só ficou atrás em 2014, 2016 e 2019.
Por trás dessas marcas está uma filosofia que Camilo Marcantonio, o fundador, sócio e CIO da gestora, chama de “value investing raiz”, em uma referência à estratégia de investimento que busca empresas com fundamentos sólidos e ações negociadas abaixo do seu valor intrínseco.
“Selecionamos empresas que têm determinados aspectos qualitativos positivos e compramos essas empresas a preços adequados”, afirma Marcantonio, em entrevista ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil. “Nossa visão é que não queremos comprar pelo preço justo: compramos ações cujo preço esteja substancialmente abaixo, com uma margem de segurança, da nossa visão conservadora de valor.”
De acordo com Marcantonio, dois números são importantes para que a Charles River Capital possa investir. O primeiro número é o valor justo da ação – sempre levando em conta que ele deve ser conservador. E o segundo é a avaliação de risco, que vira uma nota que varia de zero a dez.
Se o preço pelo qual o papel está sendo comercializado estiver substancialmente mais baixo que a avaliação da Charles River Capital e o risco de investir for considerado adequado, a gestora aposta na empresa. São os casos de Dexco (DXCO3) e de Banco ABC (ABCB4), papéis que a Charles River Capital carrega há um bom tempo (três e sete anos, respectivamente).
Em relação à Dexco (antiga Duratex), a Charles River Capital enxerga que a companhia possui três áreas de negócios (painéis de madeira, louças e metais, e um JV de celulose solúvel com a Lenzing).
O maior dos negócios é o de painéis, que está com retorno sobre capital baixo. Mas, como a Dexco é uma empresa integrada, que tem fábricas e florestas, a companhia tem uma vantagem competitiva.
“Não há incentivo para novas fábricas, o que pode levar a uma escassez de oferta e aumento de preços”, afirma Marcantonio. “A unidade de celulose solúvel está gerando bom Ebitda e deve liberar bastante caixa nos próximos anos.”
Soma-se a esses fatores o fato de a ação estar bastante descontada, mesmo em cenários conservadores avaliados pela Charles River Capital, o que reforça a tese de investimento.
O Banco ABC, uma das principais posições da Charles River Capital, segue estratégia semelhante. Segundo Marcantonio, diferentemente de outros bancos médios, ele “capta barato e empresta bem, com clientes semelhantes aos dos grandes bancos”.
Além disso, tem uma gestão conservadora de crédito e está sendo negociado com desconto sobre o valor patrimonial, o que cria uma assimetria positiva. “O banco gera um retorno sobre capital acima do custo, o que justifica um valuation superior ao book value”, diz Marcantonio.
Com quase R$ 3 bilhões sob gestão, o fundo de ações conta com quase R$ 900 milhões - o valor restante estão em fundos exclusivos e outras estratégias da Charles River Capital.
Nesta conversa, que você assiste no vídeo acima, Marcantonio detalha a sua tese de investimento, comenta sobre outras empresas do portfólio e fala por que acredita que a bolsa brasileira não está barata – o que não significa que você não possa encontrar empresas baratas na B3.