Ao longo de 2020 e 2021, o Brasil viu nascer vários unicórnios, como são chamadas as startups que foram avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, como Loft, Merama, Loggi e MadeiraMadeira.

Com excesso de capital, os valuations chegavam a patamares bilionários rapidamente. E a questão que se coloca é se a correção do mercado, que aconteceu a partir de 2022, em especial em estágios mais avançados, trouxe as avaliações privadas para a realidade.

“Não existe esse discurso: eu vou pagar barato por um ativo bom”, diz Carlos Simonsen, cofundador da Upload Ventures, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais investidores do Brasil. “Em boas companhias, você paga um prêmio pela qualidade.”

Dito isso: Simonsen acrescenta que, no momento de excesso de capital, ocorreram alguns exageros, e que hoje existe mais racionalidade nos aportes. “Você não está vendo valuations extremamente esticados, mas você continua pagando, sim, um prêmio por qualidade.”

De acordo com ele, o que aconteceu foi uma diminuição no número de deals. “Mas os que acontecem são muito bons, com empresas que precisam de capital para escalar”, afirma Simonsen. “Foi uma seleção natural que tirou os aventureiros do mercado.”

Os aventureiros a que Simonsen se refere são empreendedores que não tinham planos de negócios consistentes e que não atuavam em um mercado grande, mas que conseguiram captar muito dinheiro de forma sequencial.

Ao longo de 2024, de fato, alguns cheques de valores mais altos saíram. O maior deles foi o da CRMBonus, que captou R$ 400 milhões (US$ 78 milhões) em uma rodada série B. Em seguida, aparecem QI Tech (US$ 50 milhões) e Conta Simples (US$ 41,6 milhões).

Simonsen diz também que os investimentos em inteligência artificial, a nova onda tecnológica do momento, deve ser realizado por empresas incumbentes, como Microsoft, Google, Meta e Amazon. A razão é simples: a necessidade de investimentos é muito alta para construir data centers com capacidade computacional.

“Muitos investidores de lá de fora falaram com a gente que eles pararam de investir, porque existe um componente de capex muito alto”, afirma Simonsen. “É um jogo para os grandes incumbentes em vez de venture capital.”

Mas Simonsen faz a ressalva de que isso acontece no curto prazo. O investimento de venture capital deve acontecer em startups que são IA enabler, que vão ajudar empresas a aumentar a produtividade. Algo que já está acontecendo: no mundo e, inclusive, no Brasil.

Nesta entrevista, que você assiste no vídeo acima, Simonsen também conta a tese de investimento da Upload Ventures, uma gestora de venture capital que tem um portfólio de 23 startups. Ela gere um fundo para early stage (seed e série A), que captou mais de US$ 100 milhões, e outro para growth (série B e C), que tem mais de US$ 200 milhões.