Uma das regras de ouro dos investimentos é distribuição dos recursos em diferentes tipos de ativos financeiros, com riscos e características diferentes. Mas a Tarpon, fundada em 2002 por Zeca Magalhães e que tem aproximadamente R$ 7 bilhões sob gestão, gosta de contrariar essa fórmula.
A gestora optou desde o começo por ter um portfólio superconcentrado em poucos ativos. Em especial de empresas que estão fora do radar da maioria dos investidores em mercados públicos e privados.
“Enxergamos a concentração como a única forma de fazer investimentos, sejam em bolsa ou em private equity”, diz André de Escobar, sócio da Tarpon, ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que tem o apoio da JHSF.
De acordo com Escobar, é difícil ter profundidade quando se investe em 30 negócios. “Para você ter seu tempo focado, a gente se reduz a meia dúzia de ideias”, afirma o sócio da Tarpon. “A concentração passa por negócios que temos grande convicção.”
Em bolsa, a companhia conta com dois fundos: o Tarpon GT e o Intersection. Em private equity, investe no agronegócio através da 10b, e em teses de nicho com a Niche (cujo principal investimento é a empresa de soluções logística nstech).
Um exemplo da concentração pode ser observado no Tarpon GT (um fundo long-only): 80% dos recursos estão em aproximadamente cinco ativos. O principal deles é a Wilson Sons, na qual a gestora investe há oito anos. A empresa, com 180 anos de operação, está em dois portos no Brasil e atua com grande rebocadores.
“É uma operação resiliente, do setor de infraestrutura, com previsibilidade de resultados e que conhecemos bem”, afirma Escobar. “Esse é o tipo de coisa em que estamos confortável em estar concentrado.”
O portfólio inclui ainda Frasle (autopeças), Lavvi (real estate), e Hidrovias (logística, mas com exposição ao agronegócio). “São empresas que muitas vezes não têm muita gente olhando”, afirma Escobar. “Mas o negócio tem qualidade, o retorno sobre o capital investido é alto, tem boas margens e crescimento.”
No Tarpon Intersection, em que a gestora faz coinvestimentos, a principal participação é na Serena (antiga Ômega), uma das maiores empresas de energia renovável do Brasil, na qual a Tarpon é cofundadora.
Não pensem, no entanto, que a Tarpon aloca recursos de uma vez em uma empresa. A estratégia de aumentar a concentração acontece aos poucos. O primeiro estágio são posições exploratórias entre 1% e 3% do fundo para ganhar confiança.
Depois, com o processo de diligência mais aprofundado, conhecimento do time de gestão da empresa, a posição pode ser aumentada para até 12% do fundo. “E depois de alguns anos, com ganho de conforto e previsibilidade de resultado, a posição pode ir até 20% e 25% do fundo”, diz Escobar.
Uma estratégia de concentração tem altos riscos e alguns tropeços no caminho. Questionado quais são, Escobar não citou nomes e preferiu lembrar de oportunidades que foram perdidas, como o não investimento no setor de petróleo brasileiro, que teve uma alta valorização nos últimos anos. Mas, no mercado, é bem conhecida a estratégia da BRF, feita em conjunto com Abilio Diniz, que não deu certo.
Nesta entrevista ao Café com Investidor, que você assiste no vídeo acima, Escobar dá mais detalhes sobre as principais teses da Tarpon, diz que a bolsa está barata (a entrevista foi feita antes de o Ibovespa bater recorde) e conta um investimento que a Tarpon não fez e no qual ele se arrepende. “Era um cheque de milhões de reais e perdemos bilhões de reais”, diz o sócio da Tarpon.