O Brasil é um dos países mais fechados do mundo para investimentos. Cerca de 1% dos recursos investidos está fora do país, segundo dados da Anbima. E há três grandes razões para isso: juros altos, regulação complexa e falta de educação financeira. Mas isso está começando a mudar.
Uma grande barreira é o fato de os investidores preferirem a comodidade de investir em ativos conhecidos, em especial com a taxa de juros real tão alta como há no Brasil. Mas a teoria financeira explica que, no longo prazo, um portfólio mais diversificado tem menos volatilidade que um concentrado.
“Não faz sentido dizer que tem medo de investir no exterior. Estamos em um país infelizmente muito instável, e o único free lunch que o mercado financeiro dá é a diversificação dos riscos. Então, por que concentrar tudo em um país?”, afirma George Kerr, Country Head Brasil da Compass, que representa 20 gestoras globais com mais de US$ 7 trilhões, ao programa Wealth Point, do NeoFeed.
Outro entrave é o investidor, do varejo ou institucional, considerar o investimento no exterior como uma classe de ativo, assim como renda variável e renda fixa, em que é avaliado quando se deve estar mais ou menos alocado. Na visão dos entrevistados, o certo seria olhar o local e o internacional como alternativa para todas as classes de ativos.
“Se você tem bolsa Brasil, você deveria ter também no exterior, porque isso vai reduzir a volatilidade em 20% a 30%. Investe em multimercado? Então, por que não em hedge funds? Se você tem apetite a risco para uma classe, ter ela mais diversificada diminui o risco e aumenta o retorno no longo prazo”, diz Daniel Celano, Country Head Brasil da Schroders, gestora global com quase US$ 1 trilhão sob gestão.
Apesar dessa barreira educacional ainda ser grande, do ponto de vista regulatório houve avanços. A nova regulação de fundos 175, que entrou em vigor em outubro deste ano, permitiu que qualquer investidor aplique em fundos internacionais. Antes apenas o qualificado (com pelo menos R$ 1 milhão) podia.
Mas ainda é necessário ter um fundo espelho local, que replica a estratégia do exterior, o que encarece o custo de investimento. No Chile, por exemplo, investe-se diretamente nos fundos do exterior, apesar de estarem sob a regulação local.
O mercado está animado com a retomada aos poucos dos investimentos internacionais com as taxas de juros caindo novamente. O aprendizado sobre a importância da diversificação em um ambiente de juros menores aconteceu quando as taxas foram para 2% ao ano.
Quem mais está interessado nos investimentos offshore é o segmento de wealth, de grandes fortunas, e principalmente nas oportunidades que a alta de juros global está trazendo para a renda fixa. Já os fundos de pensão começam a ver oportunidades de voltar a ter exposição em global equities, enquanto o varejo começa a arriscar para opções de renda fixa hedgiada.
Na visão dos entrevistados do programa Wealth Point, hoje há uma grande oportunidade de investimento após a queda das bolsas nos últimos anos e do controle da inflação que os Bancos Centrais estão conseguindo. E a boa notícia é que hoje há vários produtos diferentes para capturar essas oportunidades.
"O mercado amadureceu, com novas gestoras entrando. E outras virão aos poucos. O processo de diversificação interacional do Brasil é lento, mas não volta atrás", afirma Kerr.